Portos e Navios - Especial 202502

#1 EDIÇÃO ESPECIAL PORTOS E NAVIOS 1 #1 | FEVEREIRO 2025 EDIÇÃO ESPECIAL Nova onda Expansão indústrial e logística na indústria marítima demanda investimento em formação e requalificação de pessoal

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#1 EDIÇÃO ESPECIAL PORTOS E NAVIOS 3 O setor marítimo e offshore brasileiro vive um momento de paradoxo: enquanto avança tecnologicamente e expande suas operações, esbarra na escassez de mão de obra qualificada, que ameaça seu potencial de crescimento. As três reportagens desta edição revelam um desafio comum: a urgência de investir em formação profissional para transformar crises em oportunidades. A gestão do Fundo de Desenvolvimento do Ensino Profissional Marítimo (FDEPM) sofre críticas e simboliza um entrave estrutural. Recursos destinados à qualificação são desviados para outros fins, enquanto portos e terminais enfrentam déficit de operadores de equipamentos automatizados e técnicos especializados. A proposta de redirecionar recursos para o Sistema Sest/Senat, com gestão mais ágil e alinhada às demandas do setor, surge como solução viável — mas depende de vontade política para sair do papel. No segmento marítimo, a retomada da indústria naval e o crescimento do pré-sal exigem profissionais preparados para tecnologias emergentes, como inteligência artificial e energias renováveis. Instituições como Ipetec, ICN e Shelter oferecem cursos especializados, mas a falta de métricas de empregabilidade e acessibilidade limitam seu impacto. A colaboração entre empresas, como a parceria do Porto Sudeste com o Corpo de Fuzileiros Navais, e iniciativas como a Universidade Petrobras mostram que a integração entre setor público e privado é essencial para ampliar oportunidades. Editorial Diretores Marcos Godoy Perez e Rosângela Vieira Editor Danilo Oliveira Jornalista Lorena Parrilha Teixeira Direção de Arte Alyne Gama Redação Rua Leandro Martins, 10 6º andar - Centro - CEP 20080-070 Rio de Janeiro - RJ Telefone: (21) 2283-1407 As matérias jornalísticas e artigos assinados em Portos e Navios somente poderão ser reproduzidos, parcial ou integralmente, mediante autorização da Diretoria. Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da Portos e Navios contato@portosenavios.com.br www.portosenavios.com.br Edição especial distribuída gratuitamente aos 55.761 assinantes da newsletter Notícias do dia.

#1 EDIÇÃO ESPECIAL PORTOS E NAVIOS 4 A terceira reportagem desta edição especial reforça que a modernização curricular e a expansão de escolas técnicas são urgentes. O “Mapa do Trabalho Industrial” da CNI estima a necessidade de capacitar 14 milhões de profissionais até 2027 — no marítimo, carreiras como operações especiais, cibersegurança naval e energias renováveis ganham espaço, exigindo formação contínua. O caminho para superar esses desafios passa por três eixos: gestão transparente de recursos (priorizando treinamentos), parcerias estratégicas (entre governo, indústria e ensino) e adaptação às demandas globais (tecnologia e sustentabilidade). A recente decisão de tornar obrigatórios os gastos com ensino profissional marítimo na Lei Orçamentária é um avanço, mas insuficiente sem execução ágil. O Brasil tem todas as condições para se tornar referência global no setor, desde que invista em seu maior ativo: as pessoas. A qualificação não é apenas uma necessidade operacional, mas um compromisso com segurança, eficiência e inovação. Como bem resumiu Sérgio Aquino, da Fenop: “O futuro dos portos depende do investimento em quem os opera”. Qualificação não é apenas necessidade operacional, como também compromisso com segurança, eficiência e inovação

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#1 EDIÇÃO ESPECIAL PORTOS E NAVIOS 6 Déficit de treinamentos ameaça avanços no setor portuário Fenop critica gestão do fundo de treinamento e aponta soluções para superar barreiras à qualificação profissional Lorena Parrilha Teixeira O setor portuário brasileiro enfrenta um impasse que pode comprometer sua competitividade global: a falta de uma política eficiente para custeio e gestão de treinamentos e capacitação de trabalhadores. Enquanto a modernização tecnológica avança, os trabalhadores enfrentam uma lacuna de qualificação técnica. Essa situação, segundo especialistas, está relacionada à gestão ineficaz dos recursos destinados à formação profissional no setor. “Os trabalhadores não têm recebido treinamento adequado e não há investimentos em pesquisa ou desenvolvimento tecnológico na área. Isso gera uma defasagem na capacitação da mão de obra portuária brasileira em relação ao que ocorre no resto do mundo”, lamentou Sérgio Aquino, presidente da Federação Nacional das Operações Portuárias (Fenop). Setor empresarial portuário contribui com 2,5% da remuneração dos trabalhadores para custear treinamentos

#1 EDIÇÃO ESPECIAL PORTOS E NAVIOS 7 O setor empresarial portuário contribui com 2,5% da remuneração dos trabalhadores para custear treinamentos, similar ao que ocorre em outros setores da economia. Contudo, diferente de áreas como comércio e indústria, que contam com sistemas independentes de administração como o “Sistema S”, o setor portuário vê seus recursos sendo destinados ao Fundo de Desenvolvimento do Ensino Profissional Marítimo (FDEPM), gerido pela Diretoria de Portos e Costas (DPC) da Marinha. “Na prática, o dinheiro não retorna em forma de treinamento. O governo federal utiliza esse montante para fazer superávit fiscal, destacando que isso tem sido praticado por todos os governos. Mais grave ainda em 2020, quando R$1,6 bilhão do fundo foi desviado para pagamento da dívida pública”, destacou Aquino. Ele completa: “Em 2020, o fundo acumulava R$ 1,66 bilhão. Após a retirada do governo, restaram apenas R$ 60 milhões. Hoje, o montante voltou a ultrapassar os R$ 600 milhões, mas segue sem ser investido de forma efetiva na qualificação dos trabalhadores”. O especialista ressalta que a Marinha não tem culpa por esse problema e que ela também sofre as consequências, pois não consegue treinar suficientemente os marítimos. “Trabalhadores não têm recebido treinamento adequado” Sérgio Aquino Cenário portuário atual exige profissionais cada vez mais capacitados

#1 EDIÇÃO ESPECIAL PORTOS E NAVIOS 8 O cenário portuário atual exige profissionais cada vez mais capacitados, especialmente em áreas ligadas à tecnologia da informação e operação de equipamentos de alta tecnologia. “As funções que demandam maior capacitação técnica, como as ligadas ao manuseio de equipamentos avançados, são as mais procuradas hoje nos terminais portuários”, afirmou Aquino. Além disso, a transição para equipamentos elétricos, substituindo máquinas movidas a combustão, está alterando os perfis profissionais necessários. Segundo especialistas, essa mudança deve gerar novas oportunidades de emprego, mas também expõe a falta de preparo do setor para qualificar a força de trabalho. Embora não existam levantamentos detalhados sobre as áreas com maior déficit de mão de obra, há indicativos de grandes volumes de vagas em aberto devido à falta de profissionais qualificados. “O setor sofre um impacto significativo por conta do regramento de exclusividade para determinadas funções, o que cria engessamentos na contratação e limita o avanço”, explicou o presidente da Fenop. Para resolver o problema, a entidade tem defendido a adoção de medidas estruturais que incluam a revisão da gestão dos recursos do FDEPM. Entre as propostas está o direcionamento dos valores arrecadados para o Sistema Sest/Senat, que poderia oferecer uma gestão mais eficiente, voltada para atender diretamente às demandas do setor portuário. Em 2020, a federação apoiou o projeto de lei da senadora Rose de Freitas (MDB), que propõe o uso direto dos recursos pelo setor, permitindo a realização de treinamentos pelas próprias empresas ou por Número de vagas é grande, mas exige qualificação Claudio Neves/Portos do Paraná

#1 EDIÇÃO ESPECIAL PORTOS E NAVIOS 9 entidades especializadas. Apesar das dificuldades enfrentadas na tramitação anterior, a Fenop acredita que o diálogo com o governo atual pode levar a avanços concretos. Hoje, as empresas do setor têm assumido parte da responsabilidade pela formação de seus trabalhadores, oferecendo treinamentos próprios. Contudo, isso não é suficiente para suprir o déficit de capacitação em larga escala. “A solução passa por interromper o atual modelo de recolhimento e redirecionar os recursos para uma gestão que realmente atenda ao setor”, concluiu Aquino. As perspectivas para os próximos anos incluem a modernização dos portos públicos e privados, com geração de empregos em áreas de alta especialização técnica. No entanto, sem uma política clara de qualificação profissional, o Brasil pode perder competitividade no comércio global. Outro ponto é a capacitação para atender às demandas ambientais do setor. Com a crescente pressão por práticas sustentáveis e a adoção de tecnologias verdes, como combustíveis alternativos e sistemas de eficiência energética, é indispensável preparar a força de trabalho para esses novos desafios. A qualificação Sem profissionais treinados, o Brasil pode perder competitividade

#1 EDIÇÃO ESPECIAL PORTOS E NAVIOS 10 ambiental não é apenas uma exigência regulatória, mas também um diferencial competitivo no mercado global. O setor portuário também precisa de soluções para mitigar a escassez de talentos. Muitos jovens veem a indústria como um setor tradicional e pouco atrativo, o que reforça a necessidade de modernizar a formação profissional e destacar as oportunidades oferecidas por carreiras portuárias. A criação de campanhas de conscientização e a oferta de treinamentos inovadores podem atrair novas gerações para o setor. Investir em treinamentos não apenas fortalece a força de trabalho, mas também melhora a segurança das operações. Dados indicam que a falta de capacitação aumenta o risco de acidentes nos portos, gerando custos adicionais e impactando a imagem da indústria. Ao priorizar programas de qualificação, as empresas podem reduzir esses riscos, promovendo um ambiente de trabalho mais seguro e produtivo. Portanto, o fortalecimento da capacitação no setor portuário é essencial para garantir o desenvolvimento sustentável e competitivo da indústria. Soluções como o uso eficiente dos recursos, parcerias estratégicas e programas de formação contínua são passos fundamentais para superar as barreiras atuais. O futuro dos portos brasileiros depende diretamente do investimento em sua força de trabalho. A escassez de profissionais qualificados é uma preocupação crescente no Brasil, afetando cerca de 40% das ocupações no país. No setor portuário, essa lacuna pode ser ainda mais acentuada devido às demandas específicas de habilidades técnicas e operacionais. Capacitação e requalificação diminuem risco de acidentes

#1 EDIÇÃO ESPECIAL PORTOS E NAVIOS 11 De acordo com o Ministério da Infraestrutura, o setor portuário brasileiro conta com cerca de 1,2 milhão de trabalhadores direta e indiretamente, abrangendo operações portuárias, logística e atividades administrativas. Apesar desse contingente, um levantamento da Associação Brasileira de Terminais Portuários (ABTP) revelou que há mais de 15 mil vagas técnicas e operacionais não preenchidas, principalmente em funções que exigem formação especializada, como operadores de equipamentos automatizados e técnicos de manutenção. Esse déficit reflete não apenas a necessidade de investir em capacitação, mas também de modernizar a formação profissional. Em um cenário onde os portos brasileiros registraram crescimento de 4,3% no volume movimentado em 2024, totalizando mais de 1,5 bilhão de toneladas de cargas, a falta de qualificação ameaça a eficiência das operações. Programas de treinamento, com foco em tecnologia e sustentabilidade, são indispensáveis para garantir que o país consiga aproveitar seu potencial logístico e atender às exigências do mercado global. Setor portuário conta com cerca de 1,2 milhão de trabalhadores ABTP: mais de 15 mil postos de trabalho não preenchidos

#1 EDIÇÃO ESPECIAL PORTOS E NAVIOS 12 CBSP E CBSN SHELTER AQUI É MAIS SEGURO! CÓDIGO ISPS E ISM MCIA E CACI CURSOS IALA (VTS) NR´S - NORMAS REGULAMENTADORAS (21) 97350-8559 www.sheltercursos.com.br INSCREVA-SE

#1 EDIÇÃO ESPECIAL PORTOS E NAVIOS 13 Capacitação no setor marítimo: um retrato das demandas e desafios na indústria brasileira Crescimento acelerado da indústria naval e offshore demanda aceleração na formação de profissionais Lorena Parrilha Teixeira O setor marítimo brasileiro, responsável por uma parcela significativa da logística nacional, enfrenta desafios crescentes na qualificação de sua força de trabalho. O crescimento estável da cabotagem, impulsionado pelo programa BR do Mar, e a expansão das atividades offshore exigem profissionais altamente capacitados para lidar com as complexidades dessas operações. Para atender a essa demanda, instituições de ensino privado têm desempenhado papéis estratégicos, ainda que com abordagens distintas. No Instituto de Pesquisas e Estudos Tecnológicos (Ipetec), os cursos oferecidos são organizados para suprir lacunas específicas da indústria naval e portuária. Com uma abordagem voltada à flexibilidade, a instituição disponibiliza programas de pós-graduação lato sensu e de qualificação profissional, adaptados para profissionais que já Cursos privados suprem lacunas específicas na indústria naval e nos portos

#1 EDIÇÃO ESPECIAL PORTOS E NAVIOS 14 atuam no mercado ou para aqueles que buscam ingressar no setor. Além disso, há a possibilidade de realizar cursos de extensão, que permitem a escolha de disciplinas isoladas, sem a necessidade de compromisso com um programa completo. Segundo representantes da instituição, a estrutura de cursos cíclicos facilita o ingresso contínuo de novos alunos, eliminando a necessidade de esperar pelo encerramento de turmas. Isso se torna especialmente relevante em um setor caracterizado pela urgência de atualização constante e pela velocidade das transformações tecnológicas. No entanto, o Ipetec admite que não monitora diretamente a taxa de empregabilidade de seus formandos, uma vez que a maioria já está empregada e busca especialização. Segundo Adolfo Barros, diretor comercial da Shelter Cursos e Segurança Marítima Ltda., os cursos mais procurados por profissionais que desejam ingressar no setor marítimo são o CBSP - Curso Básico de Segurança de Plataforma, voltado para quem busca oportunidades no segmento de óleo e gás offshore; o CBSN – Curso Básico de Segurança de Navio, essencial para quem pretende atuar no mercado de navios de cruzeiro; além do pacote de normas regulamentadoras (NRs) relacionadas à segurança no trabalho em plataformas offshore, portos e construção naval. “O mercado marítimo está submetido a um arcabouço legal bastante sólido e evolutivo, que acompanha as inovações do mercado. A Shelter mantém acompanhamento da legislação vigente continuamente, buscando antecipar-se às necessidades, não abrimos mão da qualidade, e com estreito relacionamento com a Autoridade”, destacou Barros. Para a Shelter, mercado marítimo tem arcabouço legal sólido

#1 EDIÇÃO ESPECIAL PORTOS E NAVIOS 15 Por outro lado, o Instituto de Ciências Náuticas (ICN) se concentra em atender às demandas específicas das operações offshore, com destaque para a formação de tripulações que atuam em plataformas de petróleo e embarcações de apoio marítimo. Fundado em 2000, o ICN é pioneiro na adoção de padrões internacionais para treinamento marítimo, como a Convenção STCW da Organização Marítima Internacional (IMO), e oferece cursos que incluem treinamento prático em simuladores e ambientes controlados. Uma de suas maiores inovações é o Centro de Treinamento Offshore (CTO), que abriga uma infraestrutura de ponta, projetada para treinamentos de larga escala. O CTO conta com simuladores de passadiço, áreas para práticas de combate a incêndio e salvamento, além de um tanque para simulação de manobras com embarcações. Essas instalações garantem que os alunos sejam expostos a cenários próximos da realidade, preparandoos para situações de emergência e operações complexas no ambiente offshore. A Shelter adota diversas estratégias para incentivar a qualificação profissional no setor marítimo, oferecendo modalidades de desconto voltadas especialmente para novos entrantes, profissionais autônomos e ex-alunos que desejam retornar à instituição. Além disso, a empresa mantém uma parceria com o Instituto Projeto Neymar Qualificação adequada garante ingresso nos postos de trabalho Setor offshore é foco do Instituto de Ciência Náuticas

#1 EDIÇÃO ESPECIAL PORTOS E NAVIOS 16 Junior, concedendo bolsas de estudo para cursos profissionalizantes na área marítima. A iniciativa, que pode ser verificada nos sites das instituições, reforça o compromisso da Shelter em ampliar o acesso à capacitação e fomentar a empregabilidade no setor. “Este mercado sofre, há muito, de altos e baixos refletidos pelas incertezas econômicas e políticas, desde a primeira crise do petróleo. Vem e vão novas empresas, esperanças e oportunidades. No momento, o potencial da margem equatorial e da geração de energia eólica offshore vem estimulando bastante o mercado, tanto offshore como marítimo, podendose esperar que a dificuldade dos profissionais estará na concorrência. Entendemos que aqueles que se qualificarem antecipadamente estarão aptos a conquistar seu espaço mais rapidamente. Trabalhar na área marítima é instigante, nele incluso os riscos inerentes às atividades”, disse o diretor da Shelter. A demanda por profissionais capacitados no setor marítimo é impulsionada pelo aumento das operações portuárias e offshore. Dados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) indicam um crescimento constante na movimentação de cargas nos portos brasileiros, enquanto o segmento offshore acompanha a retomada dos investimentos em exploração e produção de petróleo. Apesar disso, a qualificação profissional ainda é um gargalo, especialmente em áreas que exigem conhecimentos específicos e certificações internacionais. Embora os cursos de instituições privadas representem avanços importantes, a ausência de métricas de empregabilidade e a dependência de parcerias pontuais para alinhar currículos às demandas da indústria evidenciam desafios que Margem equatorial e energia eólica demandarão muito profissionais

#1 EDIÇÃO ESPECIAL PORTOS E NAVIOS 17 ainda precisam ser enfrentados. Sem incentivos governamentais ou programas de fomento público, a acessibilidade a esses cursos também pode ser limitada, restringindo a formação de uma força de trabalho diversificada. O setor marítimo, incluindo a indústria offshore, que conecta o Brasil ao comércio global e sustenta grande parte da economia nacional, depende diretamente da capacitação de seus profissionais. Enquanto a modernização das infraestruturas portuárias e a tecnologia de navegação avançam, a formação humana segue como o alicerce indispensável para sustentar esse crescimento. Assim, empresas como Ipetec, ICN e Shelter ilustram tanto os avanços quanto as lacunas que ainda precisam ser superadas para que o Brasil possa atender plenamente às demandas de sua indústria marítima. A capacitação profissional no setor marítimo brasileiro enfrenta desafios significativos, especialmente após o desmonte da indústria naval que interrompeu ciclos de formação e qualificação. Especialistas alertam que a retomada das atividades exigirá esforços substanciais para recuperar o nível de competência anteriormente alcançado, evitando que a perda de capacitação se torne irreversível. Evolução tecnológica e infraestrutura moderna requerem mão de obra atualizada e bemtreinada

#1 EDIÇÃO ESPECIAL PORTOS E NAVIOS 18 Em resposta a essa necessidade, o governo federal está próximo de anunciar medidas para fomentar a indústria naval, com foco na capacitação de mão de obra, fortalecimento da cadeia de fornecedores, investimentos em pesquisa, questões tributárias, compras públicas e mecanismos de financiamento. Além disso, a aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2025 incluiu as despesas do Ensino Profissional Marítimo como obrigatórias, garantindo recursos para a formação, qualificação e capacitação de aquaviários e portuários. Essa medida busca mitigar a escassez de profissionais qualificados, que poderia comprometer operações essenciais como a cabotagem e o apoio marítimo. Instituições de ensino e pesquisa, como universidades e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), estão se preparando para uma nova onda de formação e requalificação no setor naval. A parceria entre governo, indústria e entidades educacionais é fundamental para desenvolver programas de qualificação alinhados às demandas atuais e futuras do mercado. A Petrobras também contribui para a capacitação no setor, ao relançar a Universidade Petrobras, com Senai e universidades anteveem nova onda de formação e requalificação

#1 EDIÇÃO ESPECIAL PORTOS E NAVIOS 19 o objetivo de centralizar atividades de treinamento e qualificação, abrangendo áreas tradicionais da indústria de óleo e gás e novas demandas em energias renováveis. Essa iniciativa visa fortalecer a expertise técnica necessária para os desafios presentes e futuros do setor energético. A colaboração entre diferentes atores do setor marítimo é essencial para superar os desafios de capacitação profissional. A implementação de programas de formação contínua e a garantia de recursos adequados são passos fundamentais para assegurar a sustentabilidade e a competitividade da indústria naval e offshore brasileira. A internacionalização da indústria marítima e as transformações tecnológicas, como a automação e a digitalização de processos, também trazem desafios adicionais à capacitação. As empresas brasileiras precisam investir em treinamentos especializados que permitam aos profissionais se adaptarem às novas tecnologias, como o uso de sistemas de inteligência artificial na gestão de embarcações e operações portuárias. Essa atualização constante não é apenas uma exigência do mercado global, mas uma condição indispensável para a competitividade no cenário internacional. Programas de formação e recursos adequados são essenciais para a sustentabilidade da indústria marítima

#1 EDIÇÃO ESPECIAL PORTOS E NAVIOS 20 Além disso, há um crescente interesse na capacitação para atender demandas ambientais. O aumento da regulação internacional em torno da redução de emissões de gases de efeito estufa na indústria naval exige profissionais capacitados em práticas de navegação sustentável e no uso de tecnologias verdes, como combustíveis alternativos e eficiência energética. Essa é uma oportunidade para o Brasil se posicionar como referência em inovação no setor marítimo, conciliando crescimento econômico com responsabilidade ambiental. Por fim, a criação de políticas públicas voltadas à capacitação no setor marítimo deve ser encarada como uma prioridade estratégica para o desenvolvimento econômico do país. O alinhamento entre governo, instituições de ensino e empresas é fundamental para garantir a formação de uma força de trabalho qualificada, capaz de atender às demandas da indústria naval e offshore. Com investimentos em educação técnica e programas de treinamento contínuo, o Brasil tem a oportunidade de não apenas suprir as lacunas existentes, mas também de se destacar como um protagonista global no setor marítimo. Políticas públicas de formação no setor marítimo são prioridade estratégica para o país

#1 EDIÇÃO ESPECIAL PORTOS E NAVIOS 21 Escassez de profissionais marítimos ameaça crescimento da indústria naval brasileira O setor enfrenta desafios na formação de mão de obra qualificada para atender à crescente demanda por serviços marítimos e offshore Lorena Parrilha Teixeira Após anos de estagnação, a indústria naval brasileira vive um cenário de recuperação, impulsionada pelos investimentos no pré-sal, projetos de expansão da Transpetro e crescimento do comércio exterior. Estimativas do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval) apontam a geração de até 100 mil empregos entre 2024 e 2027. No entanto, um obstáculo ameaça esse crescimento: a escassez de mão de obra qualificada. O Sinaval estima que, com as demandas atuais de embarcações de apoio da Petrobras e navios da Transpetro que foram licitados, haverá essa demanda por pessoal. “Existe um impulso para avançarmos na indústria naval e offshore, que passa por processo de difusão tecnológica. Por isso, é preciso atualizar a formação dos profissionais em atividade e capacitar novos trabalhadores para respondermos adequadamente às atuais demandas”, disse o sindicato à Portos e Navios. De acordo com o "Mapa do Trabalho Industrial 20252027" da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Brasil precisará capacitar 14 milhões de trabalhadores Sinaval: geração de até 100 mil vagas na indústria naval

#1 EDIÇÃO ESPECIAL PORTOS E NAVIOS 22 em ocupações industriais nos próximos quatro anos. O setor marítimo, que integra áreas de logística, construção e reparação naval, é um dos mais afetados por essa necessidade, especialmente pela demanda por habilidades técnicas em operações portuárias, manutenção de embarcações e suporte offshore. A formação de oficiais da Marinha Mercante, conduzida pelas Escolas de Formação de Oficiais da Marinha Mercante (EFOMM), localizadas no Centro de Instrução Almirante Graça Aranha (Ciaga) e no Centro de Instrução Almirante Brás de Aguiar (Ciaba), é essencial, mas possui capacidade limitada de vagas, insuficiente para atender à expansão em curso. Com o aumento das operações no pré-sal e a retomada da construção naval, surge a necessidade de mais escolas e cursos especializados para suprir a carência de mão de obra qualificada também para ocupar as plantas de construção de navios. Além disso, a rápida evolução tecnológica desafia as práticas tradicionais de ensino. Ferramentas como simuladores digitais do Instituto de Ciências Náuticas (ICN) são essenciais para treinamento prático, mas ainda operam em escala insuficiente. No seu Centro de Treinamento Offshore (CTO), o ICN proporciona treinamentos simulados de combate a incêndios e manobras com embarcações, abordando situações de emergência enfrentadas no dia a dia. Esses recursos são avanços importantes, mas sua escala ainda é limitada diante da alta demanda. Indústria marítima demanda novos cursos para suprir carências CNI: capacitação de 14 milhões de trabalhadores nos próximos 4 anos

#1 EDIÇÃO ESPECIAL PORTOS E NAVIOS 23 Paralelamente, o Instituto de Pesquisas e Estudos Tecnológicos (Ipetec) oferece cursos voltados para a especialização técnica, como pós-graduações e extensões para profissionais já inseridos no mercado. No entanto, a falta de parcerias com estaleiros e terminais portuários limita o alinhamento direto dos programas com as necessidades práticas da indústria. A ausência de incentivos governamentais e o alto custo de cursos técnicos são outros desafios que dificultam a formação de novos trabalhadores. Organizações como o Sinaval destacam a urgência de políticas públicas para fortalecer a capacitação técnica e garantir a competitividade do setor em um mercado global cada vez mais competitivo. Uma iniciativa promissora foi anunciada recentemente no Porto Sudeste, um porto privado localizado em Itaguaí. No dia 10 de janeiro, o Porto Sudeste firmou um acordo de cooperação com o Corpo de Fuzileiros Navais para impulsionar a inserção profissional de cabos e soldados que encerraram suas atividades no serviço ativo da Marinha. Por meio da parceria, os inscritos no Programa de Recolocação Profissional do Corpo de Fuzileiros Navais (PReP-CFN) poderão participar de processos seletivos e integrar o quadro de colaboradores da empresa, caso atendam aos perfis das vagas. “Iniciamos o ano de 2025 firmando essa parceria com o Porto Sudeste, que se destaca por ser uma empresa ligada diretamente à atividade marítima. Temos a convicção de que irá prosperar e trará grandes benefícios para ambas as partes, devido à vocação natural do fuzileiro naval com as atividades ligadas ao mar”, disse o contra-almirante (FN) Pedro Luiz Gueiros Taulois, comandante da Comissão de Desportos da Marinha. Ipetec oferece cursos de especialização, pósgraduação e extensão

#1 EDIÇÃO ESPECIAL PORTOS E NAVIOS 24 Catarina Moura, diretora de RH do Porto Sudeste, também destaca a colaboração: “A parceria expande nosso banco de talentos, nos dando acesso a uma base de dados de profissionais interessados em transitar para o setor privado. Os fuzileiros navais já possuem experiência em missões que envolvem a terra e o mar, além de muitos terem experiência na segurança de áreas portuárias.” “Os valores empregados na Marinha são bem próximos aos nossos valores de integridade, colaboração e respeito à vida. Acredito que os fuzileiros navais fora do serviço ativo têm muito a contribuir. Estamos de portas abertas para oferecer oportunidades a esses profissionais e aproveitar o impacto positivo de sua expertise em nosso ambiente de trabalho”, afirmou Ulisses Oliveira, diretor de assuntos corporativos e sustentabilidade do Porto Sudeste. Enquanto a parceria do Porto Sudeste aponta para novos horizontes no setor marítimo, fica evidente que o desenvolvimento da força de trabalho é um ponto central para garantir avanços sustentáveis. Nesse cenário, a ampliação de instituições de ensino técnico, a modernização dos currículos e a incorporação de novas tecnologias emergem como pilares fundamentais para fortalecer a competitividade e explorar plenamente o potencial econômico do Brasil. Uma iniciativa que exemplifica esse movimento é a abertura de inscrições no Senac Rio Grande para três cursos voltados ao setor: Logística Portuária, Agenciamento Marítimo e Conferência e Vistoria de Contêineres. Cada um deles busca atender às demandas específicas do mercado, combinando conteúdo técnico atualizado com condições acessíveis para os interessados. Modernização de currículos é essencial para avanços sustentáveis

#1 EDIÇÃO ESPECIAL PORTOS E NAVIOS 25 O curso de Logística Portuária, por exemplo, com início em 20 de janeiro de 2025, foi estruturado para oferecer uma formação robusta em temas como gestão da qualidade, segurança do trabalho e tecnologia da informação aplicada ao setor. São 156 horas de aprendizado. Esse programa é ideal para quem deseja atuar em um dos setores mais estratégicos do comércio exterior. Seguindo essa linha de especialização, o curso de Agenciamento Marítimo tem carga horária de 60 horas. Focado no período noturno, ele atende às necessidades de profissionais interessados em operações de agenciamento marítimo, segmento que tem se expandido devido ao aumento da relevância industrial e portuária da região. Já para aqueles que buscam capacitação em operações mais específicas, o curso de Conferência e Vistoria de Contêineres surge como uma excelente opção. Com 105 horas de duração, o programa abrange desde noções básicas de informática até operações de pátio e análise de custos e reparos. Essa formação atende diretamente à crescente demanda por profissionais qualificados para lidar com o fluxo de contêineres nos portos brasileiros. O setor portuário brasileiro ocupa uma posição estratégica na economia do país, sendo responsável pela maior parte do escoamento das exportações e abastecimento das importações. No entanto, ainda enfrenta desafios significativos, como a necessidade de modernização e a capacitação de profissionais para lidar com operações cada vez mais complexas e tecnológicas. A formação técnica adequada tem se mostrado indispensável para acompanhar as transformações do mercado e garantir a eficiência nas operações. Há espaço para carreiras tradicionais, que requerem requalificação

#1 EDIÇÃO ESPECIAL PORTOS E NAVIOS 26 “Há bastante espaço para carreiras tradicionais no setor, como de técnico em construção naval, projetista naval, montador de estruturas navais e mecânico montador de máquinas navais. Contudo, hoje em dia esses profissionais precisam adquirir novos conhecimentos e habilidades diante das transformações impostas pelas novas tecnologias. Também há procura para as funções de soldador, caldeireiro, encanador, esmerilhador, eletricista, operador de máquinas e pintor”, destacou o Sinaval. Nesse cenário, a busca por qualificação reflete uma demanda crescente por mão de obra preparada, especialmente em regiões como Rio Grande, onde o setor portuário desempenha um papel central. Investir em educação técnica não apenas atende às necessidades imediatas das operações portuárias, mas também contribui para estruturar uma base sólida de desenvolvimento econômico para o futuro. De acordo com o Sinaval, o avanço tecnológico e a crescente demanda por sustentabilidade devem impulsionar novas carreiras no setor marítimo. Entre as profissões emergentes, destacam-se especialista em operações especiais, engenheiro de energia renovável marinha, especialista em computação quântica, analista climático marítimo e especialista em conformidade ambiental. Além disso, o mercado deve abrir espaço para profissionais como especialista em inteligência artificial naval, analista de dados marítimos, especialista em cibersegurança naval, designer de navios autônomos, técnico de veículos autônomos e engenheiro de gêmeos digitais. Para o Sinaval, novas carreiras surgirão com o avanço tecnológico no setor marítimo

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#1 EDIÇÃO ESPECIAL PORTOS E NAVIOS 28 Formação e treinamento na indústria portuária: perspectivas na área portuária e foco em Terminais de Uso Privado A indústria portuária representa um dos setores mais dinâmicos e relevantes da economia global, e o Brasil não foge a essa regra. Com uma extensa costa e uma rede de portos e terminais que movimentam a maior parte do comércio exterior do país, o desenvolvimento de programas de formação e treinamento para trabalhadores portuários e profissionais ligados às operações marítimas torna-se um fator estratégico. Neste contexto, os Terminais de Uso Privado (TUPs) assumem papel fundamental no crescimento e na modernização do setor, demandando equipes qualificadas e constantemente atualizadas para atender aos requisitos de segurança. Importância da formação e do treinamento na indústria marítima e portuária A formação contínua é essencial em qualquer setor que lide diretamente com logística, transporte de Gabriela Costa Diretora Executiva da Associação de Terminais Portuários - ATP. Gabriela atuou por quase 13 anos como Especialista em Regulação na Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) e foi a primeira mulher a assumir um cargo de direção na Agência. Também atuou como chefe de gabinete da então Secretaria Nacional de Portos e Transportes Aquaviários e foi Secretária Executiva do Ministério de Portos e Aeroportos (MPor). Rafaela Brandão Coordenadora Jurídica da Associação de Terminais Portuários Privados - ATP. Advogada, com prática e experiência em Direito Marítimo, Regulatório, Contencioso Cível e Arbitragem, com ênfase em Infraestrutura e Energia. Pós-graduanda da Certificação Internacional em Port Management, Waterway and Multimodal Transport. ARTIGO

#1 EDIÇÃO ESPECIAL PORTOS E NAVIOS 29 cargas e segurança operacional. No Brasil, a legislação que regula o trabalho portuário e marítimo — com destaque para a Lei dos Portos (Lei nº 12.815/2013) e para as Normas Regulamentadoras específicas do Ministério do Trabalho (como a NR-29, voltada à segurança e saúde no trabalho portuário, e a NR-30, relacionada à segurança e saúde nas atividades de aquaviários) — sublinha a necessidade de capacitação técnica e de prevenção de riscos. Além disso, a indústria marítima e portuária está fortemente impactada por normas internacionais, a exemplo das Convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da Organização Marítima Internacional (IMO). O STCW (Standards of Training, Certification and Watchkeeping for Seafarers), por exemplo, estabelece padrões mínimos de competência para a formação de tripulações, influenciando diretamente as exigências de qualificação em terra, particularmente na interface porto-navio. O Papel dos Terminais de Uso Privado (TUPs) na Capacitação Os TUPs têm se destacado pela capacidade de se adaptar mais rapidamente às necessidades de mercado, investindo em tecnologias de ponta e modelos de gestão inovadores. Nesse sentido, a formação e o treinamento de equipes tornamse prioridades para garantir a máxima eficiência operacional e competitividade. Alguns TUPs implementam academias ou centros de treinamento internos, voltados para capacitar operadores de equipamentos portuários (guindastes, reach stackers, pórticos, entre outros), funcionários Os TUPs se destacam pela rápida adaptação ao mercado, investindo em tecnologia e gestão inovadora

#1 EDIÇÃO ESPECIAL PORTOS E NAVIOS 30 de movimentação e conferência de carga, além de equipes de manutenção. Essas iniciativas costumam ser estruturadas em parceria com instituições de ensino técnico e profissionalizante, o que permite a atualização constante de currículos e metodologias de ensino. Como exemplo, podemos citar o Porto do Açu, no Rio de Janeiro, onde empresas se associam para oferecer treinamentos conjuntos em segurança do trabalho, eficiência logística e utilização de softwares de controle de cargas. Para garantir a conformidade com legislações nacionais e padrões internacionais, muitos TUPs investem em certificações como a ISO 9001 (gestão de qualidade), ISO 14001 (gestão ambiental) e ISO 45001 (saúde e segurança ocupacional). A preparação para conquistar e manter essas certificações exige treinamentos específicos, que vão desde a implementação de procedimentos operacionais até auditorias internas, estimulando a cultura de melhoria contínua e a adoção das melhores práticas globais. Terminais privados também buscam cooperação internacional para capacitar seus funcionários, seja por meio de intercâmbio de profissionais com portos europeus ou pela contratação de consultorias especializadas. Países como Holanda, Bélgica e Alemanha, reconhecidos pela excelência na gestão portuária, recebem profissionais brasileiros para conhecer modelos de logística integrada e processos de inovação. Em contrapartida, realizam visitas técnicas no Brasil para adaptar práticas locais às realidades internacionais, criando um fluxo de conhecimento e experiência que enriquece a formação dos trabalhadores portuários.

#1 EDIÇÃO ESPECIAL PORTOS E NAVIOS 31 Desafios e oportunidades O principal desafio na formação e no treinamento da indústria marítima é conciliar a constante evolução tecnológica com as exigências regulatórias e trabalhistas. No âmbito trabalhista, é fundamental observar a legislação brasileira e, quando houver operações conjuntas ou exportação de serviços, também a legislação europeia, bem como manter-se atualizado em relação à jurisprudência dos tribunais superiores a respeito de responsabilidade civil, acidentes de trabalho, direitos dos trabalhadores e terceirização. A necessidade de formação contínua torna-se ainda mais premente em razão do dinamismo das inovações tecnológicas e das crescentes demandas de segurança. Há décadas, a ATP tem levantado essa pauta, promovendo discussões sobre trabalho portuário e recursos destinados à capacitação de pessoal. Embora tais recursos sejam recolhidos ao Fundo de Desenvolvimento do Ensino Profissional Marítimo (FDEPM), gerido pela Marinha do Brasil, não são integralmente aplicados na formação desses profissionais em decorrência de contingenciamentos. Para mitigar esse problema, a Associação propôs a todas as entidades do setor portuário, incluindo a Confederação Nacional de Transportes (CNT), uma alteração legislativa que permita destinar esses valores ao SEST/SENAT, vinculado ao Sistema S do Transporte, onde seriam melhor aproveitados em prol dos setores portuário e de navegação. Recentemente, essa iniciativa ganhou força em virtude do Projeto de Lei nº 79/2020, o qual prevê o recolhimento das contribuições das empresas de transporte de todos os modais para o SEST/SENAT. Ademais, o Anteprojeto

#1 EDIÇÃO ESPECIAL PORTOS E NAVIOS 32 de Lei que dispõe sobre o Sistema Portuário Brasileiro — responsável por regulamentar a exploração dos portos, as atividades de operação portuária, o trabalho portuário e outras providências — também estipula que a certificação profissional do trabalhador portuário seja realizada pelo SENAT. Embora SEST/SENAT tenha sido criado com o objetivo de atender exclusivamente os trabalhadores do transporte rodoviário e o transportador autônomo, por serem instituições referência na prestação de serviços de qualificação profissional e de assistência à saúde para os trabalhadores de todos os modais de transportes, estão sendo demandas por transportadores aéreos, ferroviários, aquaviários e de logística, abraçando, assim, o compromisso de desenvolver e valorizar o transporte brasileiro como um todo. No que se refere aos TUPs, caso se concretize a reestruturação desse sistema atualmente defasado — em que há pagamento, mas não há retorno efetivo em especialização —, abre-se a oportunidade de se tornarem centros regionais de excelência em Para fortalecer a capacitação no setor portuário, a Associação propôs que os recursos sejam direcionados ao SEST/ SENAT

#1 EDIÇÃO ESPECIAL PORTOS E NAVIOS 33 formação técnica, capazes de atrair talentos e fortalecer cadeias de valor. Ademais, ao investir em programas de treinamento, as empresas podem aprimorar seu relacionamento com autoridades regulatórias, entidades sindicais e a comunidade local, evidenciando comprometimento com o desenvolvimento econômico e social da região. Conclusão A formação e o treinamento na indústria marítima — em especial na área portuária — constituem pilares essenciais para a eficiência, a segurança e a competitividade do setor. Os TUPs, apesar das dificuldades citadas acima, têm se mostrado atores de destaque na implantação de programas de capacitação modernos e alinhados às melhores práticas internacionais. Ao combinar rigor regulatório, inovação tecnológica e compromisso social, esses terminais podem não apenas fortalecer sua própria operação, mas também contribuir significativamente para a evolução do segmento portuário como um todo no Brasil. A capacitação na indústria marítima é essencial para eficiência, segurança e competitividade

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