Artigo - A construção naval

A construção naval fornece navios e estruturas flutuantes de diversos tipos aos operadores de serviços marítimos, principalmente de transporte de cargas e produção de energia. O total do transporte transoceânico, na frota mundial de cerca de 11 mil navios, segundo a UNCTAD, soma cerca de 11 bilhões de toneladas com um valor estimado em US$ 18 trilhões, em 2021, de acordo com https://statista.com. O volume transportado por navios deverá crescer cerca de 2% ao ano, até 2027. Cerca de 21% da frota mundial tem de 15 a mais de 20 anos de idade, chegando ao limite da sua vide útil, prazo que o esforço pela descarbonização vem tornando ainda menor. A Clarksons registra que mais de 50% das novas encomendas de navios, em 2022, foram projetados para uso de LNG e combustível tradicional.

A Wood Mackenzie, especializada em inteligência comercial, avalia que o investimento em exploração e produção de petróleo e gás aumente para cerca de US$ 470 bilhões em 2023, em acentuada recuperação em relação a 2020. Cerca de metade do aumento reflete maiores preços nos fornecimentos, especialmente nos ativos para produção offshore. Essas informações traçam um panorama favorável para a construção naval mundial. A expansão prevista nos volumes transportados sinaliza o aumento da construção de navios petroleiros, que representam cerca de 21% da frota mundial, e a continuada expansão da construção de navios gaseiros para LNG, segmento de maior expansão. Também em expansão, a construção de plataformas de produção de petróleo offshore sinaliza a contratação de navios de apoio marítimo, de construção submarina e assentamento de dutos, com perspectivas para expansão dessas frotas.

O Ministério do Comércio, Indústria e Energia da Coréia do Sul avalia que as encomendas globais de construção naval totalizaram 42,04 milhões de CGT, em 2022.

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Uma queda de 22% na comparação com 2021. Os estaleiros da China lideram no total da tonelagem construída, mas a Coréia do Sul lidera em navios com mais tecnologia como grandes transportadores de GNL, navios porta-contêineres e petroleiros.
As novas encomendas, de 20,79 milhões de CGT, foram 58% para estaleiros sul-coreanos.

O provedor de serviços marítimos e offshore Drydocks World Dubai, com sede nos Emirados Árabes Unidos, do grupo DP World, e a Aker Solutions, da Noruega, formaram uma nova joint venture, para modernização do FPSO "Petrojarl Knarr". A plataforma será destinada ao campo de petróleo e gás Rosebank, da Equinor, na costa da Escócia. A imprensa especializada internacional demonstra o avanço do mercado de construção para o offshore, indicando a diversificação dos investimentos de grandes produtores de petróleo a esse segmento. Além de novos players, há consolidação de tradicionais fornecedores, como é o caso da Sembcorp Marine, de Cingapura, que pede aos acionistas para votar sua proposta de aquisição de US $ 3,4 bilhões da compatriota Keppel Offshore & Marine. Reconhece que enfrentaria cenário ainda mais competitivo, onde muitos players offshore buscaram consolidação ou foram desafiados pelos fundamentos radicalmente alterados dos negócios e das necessidades dos clientes.

No Brasil, a liberação de recursos do Fundo da Marinha Mercante (FMM) totalizou R$ 623 milhões em 2022, até 30 de novembro, compreendendo a construção de um estaleiro e de um dique flutuante, além de 54 construções de embarcações, 50 reparos e 10 conversões, totalizando 116 obras. A maior parte das liberações se concentrou em obras de estaleiros das regiões Sul e Sudeste: R$ 212,4 milhões em Santa Catarina; R$ 192,2 milhões no Rio de Janeiro; e R$ 49,7 milhões em São Paulo. Além de R$ 29,7 milhões no Pará, R$ 26 milhões no Ceará, R$ 11,4 milhões no Amazonas e R$ 1,7 milhão na Bahia.

Entre esses projetos, merecem destaque os do Grupo Edison Choueste (estaleiro Navship e empresas de apoio marítimo Alfanave e Bram): construção de dique flutuante no estaleiro em Santa Catarina; construção de dois ROVS e reparos em seis navios de apoio. O Navship vai construir estaleiro de reparos no Porto do Açu, em São João da Barra, no Rio de Janeiro, onde já é operadora da base de apoio offshore C-Port. A CBO, em Niteroi, fará serviços em 20 navios de apoio de sua frota no estaleiro Aliança. Em 2022, foram aprovados 43 novos projetos pelo Fundo da Marinha Mercante para 227 obras de construção, reparo, conversão ou modernização de embarcações, com investimento total de R$ 5,4 bilhões.

A vitalidade na expansão e reativação de estaleiros também pode ser observada na expansão da Modec, no Rio de Janeiro, que deverá contratar o estaleiro EBR, no Rio Grande do Sul, para trabalho de engenharia da planta de processo do topside do FPSO "Pão de Açúcar" e mais a fabricação de seis módulos de processo. O casco do FPSO, módulos de processo e a estrutura de habitação serão construídos no estaleiro Dalian, da China. Este é um exemplo da sinergia da Modec, do Japão, com o EBR, que tem entre seus acionistas a Toyo japonesa. A mesma sinergia também deverá ocorrer com a Keppel, na fusão com a Sembcorp, dinamizando os estaleiros KeppelFels (RJ) e Jurong Aracruz (ES) na construção de módulos e comissionamento de FPSOs destinados ao Brasil, nas licitações conquistadas pelas empresas de Cingapura.

Grandes estaleiros brasileiros avançam em seus processos de recuperação judicial. O Estaleiro Atlântico Sul (PE) vende áreas para serem utilizadas como terminais portuários e realiza reparos de navios e docagens obrigatórias. O Estaleiro Rio Grande/Ecovix (RS) realiza reparos e opera como terminal portuário. O Estaleiro Enseada (BA) recebeu permissão de operação integral do terminal de uso privado e pode movimentar granéis sólidos e carga geral. O plano de negócios da empresa diversifica atividades para fabricar itens para projetos eólicos, como torres, fundações e flutuadores. O Estaleiro Mauá (RJ) opera no reparo, como terminal portuário e base de apoio offshore.

A observação de noticiário internacional demonstra que as atividades de reparos e construção naval de médio porte têm merecido investimentos e avanços tecnológicos. A revista Portos e Navios noticiou sobre o projeto Smart European Shipbuilding, financiado pela União Europeia. A missão é reduzir o tempo de engenharia, montagem e construção nos estaleiros da UE, acelerando processos por meio da tecnologia para criar uma estrutura para construção naval baseada em dados. Empresas como a Cadmatic, Contact Software e Sard participam na integração de sistemas. Os estaleiros escolhidos para abrigar o projeto, Ulstein Group (Noruega) e Astilleros Gondan (Espanha), são de porte médio especializados na construção de navios de apoio offshore.

A unidade de negócios navais da ST Engineering (Cingapura) adquiriu, por US$ 95 milhões, da Keppel FELS, o estaleiro Gul, especializado no reparo naval, uma atividade de grande lucratividade. O plano é adotar a digitalização dos processos e ampliar a atuação para segmentos como fabricação de módulos e sistemas renováveis de energia offshore.

É oportuno observar esta realidade. Os segmentos de reparos e a construção naval de médio porte não têm o reconhecimento que merecem no Brasil, mesmo sendo os mais dinâmicos na construção naval local.

Ivan LeãoIvan Leão é diretor da Ivens Consult

 

 

 

 

 

 

 



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