Artigo - Como a inovação está tornando os terminais portuários mais resilientes ao clima extremo

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Eventos climáticos extremos deixaram de ser exceções e passaram a fazer parte do cotidiano das operações industriais e portuárias. No setor de armazenagem de granéis líquidos — combustíveis, biocombustíveis e químicos —, a resiliência operacional tornou-se um ativo estratégico. Não é mais um diferencial técnico, mas uma condição indispensável para manter segurança, continuidade, competitividade e respeito ambiental.

A adoção de tecnologias avançadas, especialmente inteligência artificial (IA), sensores, robotização e monitoramento em tempo real, tem se destacado como resposta eficaz para antecipar riscos, evitar falhas e garantir que operações críticas suportem os novos patamares de variabilidade climática e de demanda.


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O setor portuário vem investindo fortemente na criação de “smart ports” — portos inteligentes — e na modernização de terminais privados, com foco em eficiência e redução de movimentos improdutivos.

Além da inovação tecnológica, outro vetor essencial da resiliência setorial é o investimento crescente em infraestrutura voltada à transição energética. O aumento da capacidade de armazenagem de etanol e de biocombustíveis, em diferentes portos do país, reflete o compromisso do setor em apoiar uma matriz energética mais limpa e menos dependente de derivados fósseis. Esse movimento exige adequações operacionais e de segurança, já que o etanol, por exemplo, apresenta características distintas de armazenamento e transporte. A diversificação de produtos movimentados também amplia a necessidade de sistemas inteligentes de controle de temperatura, pressão e ventilação — pontos em que a digitalização e a IA têm papel decisivo. Ao mesmo tempo, a ampliação das cadeias logísticas de biocombustíveis torna-se um componente concreto da agenda de adaptação climática, reduzindo emissões e fortalecendo a sustentabilidade das operações portuárias no longo prazo.

A integração de sistemas operacionais e de comunidade portuária tem permitido ganhos de agilidade e segurança. A ABTRA, (Associação Brasileira de Terminais e Recintos Alfandegados) que representa terminais alfandegados, de granéis e recintos privados de carga, aponta que a inteligência artificial já está promovendo melhorias na liberação de cargas, redução de tempos de espera e otimização do uso de pátios. Também há um movimento crescente de adoção da manutenção preditiva baseada em IA, tanto no Brasil quanto globalmente, embora ainda com diferentes estágios de maturidade entre terminais.

Uma das frentes mais visíveis dessa transformação vem do uso de sensores com IA para prever falhas em bombas de carregamento, monitorando vibrações, temperaturas e outros indícios de comportamento fora do padrão. Esses sistemas emitem alertas em tempo real para as equipes operacionais, permitindo diagnóstico antecipado de anomalias — o que reduz falhas e aumenta a segurança no manuseio de líquidos potencialmente perigosos.

Mas já temos casos mais avançados de uso no Brasil. Em Santos (SP), uma inspeção robotizada inédita foi realizada em tanques de produtos inflamáveis, sem necessidade de paralisação ou esvaziamento. O uso de equipamentos submersos ou que acessam o tanque pelo teto reduziu o tempo de inspeção de cerca de quinze dias para apenas dois. Casos como esse ilustram como é possível combinar inovação, segurança e continuidade operacional mesmo diante de restrições ambientais ou de processo.

O uso pioneiro de robotização para limpeza e inspeção de tanques de combate a incêndio, sem necessidade de esvaziamento, é uma inovação que minimiza interrupções operacionais, reduz a exposição de operadores e diminui riscos associados à parada ou à manipulação insegura de produtos inflamáveis. A solução foi reconhecida no Prêmio InovaPortos 2025, na categoria Empresa Inovadora, além de destaque no Prêmio InovaInfra — um sinal de que tecnologia com propósito de segurança já se consolida como diferencial competitivo no setor.

Essas experiências apontam lições importantes sobre adaptação climática e resiliência. Projetos de monitoramento com sensores e IA trazem retorno em segurança e reduzem o número de paradas não programadas, aumentando a disponibilidade de ativos críticos. Da mesma forma, tecnologias que permitem operar tanques com menor intervenção humana diminuem o risco ambiental e a exposição a falhas — fatores decisivos quando enchentes, marés anormais ou surtos de calor pressionam instalações e estruturas físicas.

Ainda assim, o caminho é desafiador. A variabilidade climática exige modelos de previsão cada vez mais precisos e calibrados para realidades locais. Sensores e redes precisam ser robustos contra intempéries, corrosão e falhas de redundância. A formação e capacitação de equipes tornam-se indispensáveis, assim como a disseminação de uma cultura de manutenção preditiva, que substitua a lógica reativa por um planejamento contínuo e inteligente. Embora o setor já divulgue metas de segurança — como taxas de acidentes e incidentes de processo — ainda faltam métricas consolidadas de eficiência climática e indicadores sobre risco climático local ou impacto ambiental em ativos físicos.

Para os próximos anos, a combinação de IA, internet das coisas (IoT), robotização, digital twins, sistemas de monitoramento meteorológico e modelos climáticos locais tende a se consolidar como a base da resiliência operacional. Terminais que incorporem previsão de marés, alertas de tempestades, monitoramento de correntes costeiras e protocolos automatizados de contingência estarão em vantagem competitiva. Para isso, é necessário que se intensifiquem as parcerias entre empresas de tecnologia, órgãos reguladores, universidades e fornecedores de equipamentos inteligentes, ampliando o padrão de segurança e sustentabilidade das operações portuárias.

A inovação no setor de armazenagem portuária de granéis líquido não é ornamentação, mas um instrumento central de adaptação climática. A integração entre IA, monitoramento contínuo, inspeções robotizadas, metas de segurança e transparência ESG mitiga riscos imediatos — de alagamentos a falhas estruturais — e prepara as operações para o futuro. Em um mundo em constante mudança, a verdadeira resiliência será medida pela capacidade de continuar operando com segurança, responsabilidade e previsibilidade — mesmo quando o inesperado se torna a nova regra.


Leopoldo Gimenes é vice-presidente de Engenharia e Operações da Ultracargo251107-artigo-leopoldo-gimenes-divulgacao-ultracargo.jpg






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