Artigo - Multimodalidade: o caminho para uma logística inteligente e sustentável no Brasil

A logística é uma das atividades econômicas mais importantes do Brasil e tem uma contribuição significativa de 12% no PIB, segundo dados do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos). Neste sentido, quando se trata de contar com uma logística inteligente para a otimização do processo de transporte industrial, um mecanismo hoje é o estado da arte: a multimodalidade, que combina dois ou mais modais para a movimentação de cargas com um único operador logístico, responsável por toda a cadeia de transporte.

Com o recurso, é possível realizar uma operação de transporte integrada, que inclui os modais rodoviário, ferroviário, fluvial e marítimo. Nesse processo, a cabotagem, que corresponde à navegação marítima entre portos do mesmo país, se estabelece como o modal mais preparado para longas distâncias, trazendo à cadeia logística diversos benefícios como: sustentabilidade, com diminuição das emissões de CO2; redução de avarias e roubos de carga; e maior capacidade com operações de grande escala, o que possibilita um melhor planejamento logístico.

Para se ter uma ideia, 61% de toda a produção industrial brasileira, em 2019, foi escoada pelo sistema rodoviário e 21% pelas ferrovias, enquanto a cabotagem representou somente 12% desse volume, segundo dados da Ilos. Deste percentual, uma pequena parte refere-se ao transporte de contêiner, enquanto os granéis líquidos (combustíveis) e sólido (minério de ferro) são predominantes neste modelo de transporte.

Desde 2018, quando houve a greve nacional de caminhoneiros, paralisando muitas estradas e comprometendo seriamente a distribuição de produtos no Brasil, tem havido um importante avanço por parte das empresas brasileiras no uso da multimodalidade, com maior consciência sobre a importância da melhor distribuição da malha logística, embora essa divisão ainda seja desproporcional. E esse é o grande desafio do Brasil atualmente: equilibrar a matriz de transporte, melhorando a cadeia logística com o aumento do uso da navegação de cabotagem para longas distâncias e interiorizando o conceito da multimodalidade.

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Mas como é possível criar mecanismos de transformação e desenvolver uma logística inteligente, integrando os setores e aliviando o estresse da cadeia logística, principalmente rodoviária?

A resposta está justamente na cabotagem e na multimodalidade por meio do transporte de cargas do ponto de coleta ao ponto de entrega de maneira integrada e com apenas um único operador logístico responsável.

Ainda que, para alguns setores, o tempo de trânsito da cabotagem seja um pouco mais elevado, o serviço reduz os custos de armazenagem na planta, deixando de ser uma desvantagem para torna-se um benefício – o que é o centro de uma logística inteligente.

Outro diferencial que agrega valor às indústrias é que a cabotagem é um modal mais sustentável. Prova disso é a economia na emissão de CO2 se comparado rodoviário. Quando uma carga é transportada exclusivamente por meio de caminhões entre as cidades de Campinas (SP) e Camaragibe (PE), por exemplo – o que equivale a uma distância de aproximadamente 2.700 km - ocorre uma emissão em torno de 10,8 tCO2e (toneladas de CO2 equivalente), enquanto esse mesmo trajeto realizado utilizando a cabotagem observa-se uma emissão de aproximadamente 2,8tCO2e. Isto é, uma redução em torno de 74% na emissão de dióxido de carbono, segundo dados obtidos através da calculadora de emissões da Log-In Logística Intermodal.

Esse cenário vai ao encontro de uma importante agenda das indústrias atualmente, que é o compromisso com as práticas ESG. Assim, ao usar a logística inteligente promovendo a migração de cargas do caminhão para a cabotagem ganha-se mais sustentabilidade e, consequentemente, competitividade.

Outro importante ponto de destaque da cabotagem é a redução de sinistros, roubos e avarias da carga. Atualmente, o modal marítimo traz o índice de roubos e avarias da carga para praticamente zero quando comparado ao modal rodoviário, o que representa maior redução de custos para as indústrias. Considerando, ainda, a diminuição de gastos, estima-se que a cabotagem reduza os custos de frete em até 30%, aumentando a margem de lucro do negócio.

Ao investir na multimodalidade, grandes empresas também conseguem ter um leque de soluções mais amplo e serem atendidas na gestão de armazenagem e transporte de cargas fracionadas, o que permite expandir sua atuação no mercado, evitando gargalos logísticos. Trata-se de uma logística customizada e aderente à finalidade de cada empresa: é possível estar no rodoviário, na cabotagem, ou nos dois juntos, aproveitando as vantagens geradas a partir de cada modal.

O mesmo se dá nas cargas de retorno. A multimodalidade é capaz de aumentar a competitividade econômica das empresas ao evitar os transportes vazios. Isso porque o foco de uma logística inteligente é a precisão, ou seja, tornar as operações mais bem distribuídas, o que inclui viabilizar o uso da carga de retorno.

Um panorama referente ao setor logístico brasileiro

Embora o mercado logístico brasileiro ainda enfrente desafios e desequilíbrio, a cabotagem vem crescendo nos últimos dez anos graças a suas diversas vantagens. Nesse período, foram adquiridas cerca de 20 embarcações registradas com bandeira brasileira, um investimento total da ordem de R?3,5 bilhões, segundo dados da Associação Brasileira dos Armadores de Cabotagem (ABAC).

Outra importante conquista para o setor também foi a sanção, no ano passado, do projeto que institui o BR do Mar: Programa de Estímulo ao Transporte por Cabotagem. A lei reúne uma série de medidas que visam aumentar de 11% para 30% a participação desse meio de transporte na matriz logística nacional, ampliando o volume de contêineres transportados para 2 milhões de TEUs, além de alavancar em 40% a capacidade da frota marítima dedicada à cabotagem para os próximos três anos.

Esse cenário também vem sendo impulsionado por um avanço dos armadores, com a modernização dos navios, maiores frequências marítimas e escalas semanais nos principais portos brasileiros e da América Latina. E, na sequência, pela melhor estruturação dos portos com maquinário de altíssima qualidade, além do maior investimento em tecnologia, com navios mais eficientes e plataformas de acesso ao processo e rastreamento de cargas.

Assim, quando uma indústria conta com um modelo de ponta a ponta, ganha não apenas no transporte, mas também com uma operação integrada da coleta a entrega, o que inclui gerenciamento, rastreamento, segurança operacional e pós-venda, agregando mais valor a toda cadeia.

Igor TellesIgor Telles é gerente geral de Vendas na Log-In Logística Intermodal

 

 

 

 

 

 

 

 



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