A Intermodal South America 2025, realizada de 22 a 24 de abril no Distrito Anhembi, em São Paulo, registrou um público recorde de 50 mil profissionais de acordo com os organizadores do evento (crescimento de 15% em relação à edição anterior) e segue gerando bastante repercussão nas redes sociais.
O novo local permitiu ao evento expandir sua área para 40.000m², acomodando um número maior de expositores. Contudo, apesar de proporcionar uma experiência melhor ao caminhar por corredores menos engarrafados, os visitantes ainda enfrentaram alguns dos velhos conhecidos problemas: longos congestionamentos no acesso e taxistas praticando preços abusivos na saída, além, claro, da crônica falta de estacionamento e do sinal de celular muito ruim dentro do pavilhão!
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Pergunta do milhão
Evidente que um dos principais assuntos discutidos ao longo dos três dias de feira foram os possíveis reflexos para o Brasil da nova “Guerra Comercial” deflagrada pelo Presidente Trump que, embora ainda seja um tema bastante vivo e imprevisível, muitos dos visitantes e expositores concordam se tratar de uma estratégia bastante heterodoxa em busca da redução de um déficit estrutural e crescente na balança comercial dos EUA.
Em meio aos movimentos ainda bastante erráticos dessa Guerra Comercial, a grande preocupação dos embarcadores tem sido a duração dos seus contratos juntos aos armadores (realizar bids longos ou mais curtos nesse momento?), tendo em vista que, caso essa queda de braços se prolongue os fretes marítimos podem “derreter”, ao passo que um eventual acordo comercial entre as duas maiores potenciais mundiais poderia renovar o fôlego dos fretes marítimos e os congestionamentos em alguns dos principais portos do hemisfério norte.
Dado que lamentavelmente ainda não exista uma resposta pronta (muito embora eu particularmente acredite num amplo acordo nos próximos meses) a recomendação segue sendo estar preparado, com planos de contingência, para ambos os cenários.
Boas notícias
Em meio ao notório gargalo na infraestrutura portuária brasileira, testemunhada com riqueza de detalhes por muitos visitantes e bastante bem evidenciado pela dificuldade de um dos novos serviços recém anunciados na rota Ásia/Brasil em encontrar uma janela de atracação no Porto de Santos, muitas boas notícias trouxeram um certo alento ao mercado:
- Portonave adquiriu novos equipamentos e espera concluir a modernização dos berços no primeiro semestre de 2026;
- A União confirmou o pagamento da dívida referente à dragagem do canal de Itajaí;
- ICTSI RJ adquiriu parte do antigo Estaleiro Inhaúma para ampliar sua capacidade;
- O Porto Imetame reforçou sua expectativa de iniciar suas operações em 2026;
- O Tecon Rio Grande passa a operar mais dois serviços feeder para o Prata e deve receber novos equipamentos e expandir o pátio;
- A JBS Terminais está prestes a receber novos equipamentos e, logo após a feira, recebeu autorização para adensar nova área no Porto de Itajaí;
- Há muitos interessados (nacionais e internacionais) em participar do leilão do Tecon Santos 10;
- O nível do Rio Amazonas está dois metros acima do registrado no mesmo período do ano passado e, ainda que a velocidade da queda desse nível nas próximas semanas poderá sinalizar o que esperar da época da seca do rio em 2026, os terminais manauaras já estudam avançar novamente seus piers para aliviar navios, reduzindo as limitações de embarque durante o histórico período de seca (outubro e novembro);
Trata-se de alguns bons exemplos de boas notícias que circularam pela Intermodal 2025 (outros importantes investimentos também foram anunciados por autoridades, terminais, armadores etc.), no que se refere à expansão da capacidade. Mesmo assim ainda há uma grande apreensão quanto ao ritmo de crescimento da oferta de capacidade versus o impressionante crescimento da demanda dos importadores e exportadores brasileiros nos últimos anos.
Rumores dos corredores
- A BYD estaria reavaliando o plano de construir uma fábrica no México – em virtude das tensões com os EUA – e pode redirecionar parte desses recursos para o Brasil;
- Com a chegada da Maersk, a DPW Santos pretende expandir (rapidamente) sua capacidade para 2 milhões teu por ano;
- O Tecon Salvador espera iniciar sua expansão de pátio ainda em 2025;
- Os recursos para expansão dos acessos rodoviários ao Porto de Itapoá estão sendo equacionados;
- Há um “novo entrante” estudando a cabotagem brasileira;
No último dia da feira, contudo, surgiu um sinal de alerta importante, o presidente da Federação Nacional dos Portuários emitiu um alerta de mobilização a todos os trabalhadores em virtude da tramitação da Lei de Modernização dos portos na câmara dos deputados em Brasília. Uma eventual paralização da categoria certamente pioraria ainda mais a já combalida situação dos principais portos brasileiros.
A Intermodal 2025 foi, sem dúvida, um espaço rico em trocas, aprendizados e sinalizações importantes para os rumos do comércio exterior e da logística no Brasil e no mundo. Agradecemos a todas as conversas que tivemos ao longo desses três dias — foram momentos de grande valor, que reafirmam a força do setor e a importância de eventos como este para a construção de soluções coletivas.
Apesar dos avanços e boas notícias anunciadas, é impossível ignorar os desafios que persistem — sejam eles estruturais, regulatórios ou conjunturais, como os efeitos da nova guerra comercial ou os alertas de paralisação nos portos. Resta agora torcer (e trabalhar) para que, em 2026, estejamos diante de um cenário mais estável, com menos incertezas e mais capacidade instalada para atender a crescente demanda dos nossos embarcadores.
Nos vemos no próximo ano, com esperança renovada e, quem sabe, com notícias ainda melhores.
Leandro Carelli Barreto é sócio da Solve Shipping Inteligence