Fato relevante de uma estratégia equivocada

Aqueles que pelo menos acompanham o tema “logística no Brasil” sabem que a matriz de transporte é o farol que deve orientar a adoção de políticas públicas focadas em aperfeiçoar o escoamento de tudo que se produz prioritariamente para exportação, onde maciçamente predomina o modal aquaviário.

Há inegavelmente um esforço concentrado, capitaneado fortemente pela iniciativa privada, que tem buscado há anos a saída pelo Norte, entendendo-se aqui, os portos e terminais existentes ou a serem construídos, por onde sabidamente tornam toda commoditie que se exporta altamente competitiva frente aos demais players do mundo, notadamente do agrobusiness.

 

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A visão estratégica que contempla o rebatimento, do tradicional eixo de escoamento da produção agrícola nacional em direção aos portos das regiões Sul/Sudeste, para aqueles da região Norte, excluídos os portos do Maranhão, há de se mostrar, nos próximos 20 anos, tratar-se de uma estratégia equivocada, desde que perdure o entendimento sedimentado no corpo executivo das grandes tradings dominantes, em investir em terminais portuários privativos na envoltória do porto público de Vila do Conde, no estado do Pará.

Se não, vejamos: o mundo assistirá, já no 1º trimestre de 2014, a inauguração da ampliação do Canal do Panamá; por lá passarão os navios da nova classe batizada de New-Panamax, graneleiros que levarão cerca de 110 mil toneladas de granéis e os conteineiros de 13.300 TEUs; isso já no próximo ano!

Para os próximos 20 anos teremos aquele que será o canal dos sonhos: o canal da Nicarágua, praticamente sem limitação alguma, pelo menos para os meganavios já existentes.

Estamos falando, para esse novo canal, de graneleiros que poderão levar algo em torno de 400 mil toneladas de granéis!

Aqueles que vivem o seu dia a dia nesse segmento sabem que, atualmente, ainda não existem navios desse porte transportando grãos, pelo menos ainda não foi divulgado, se é que ocorreu, talvez por que os berços atualmente existentes e destinados a grãos ainda não podem receber esses mega carriers com grãos.

Mas, é bom lembrar: os tempos mudaram, e tudo aquilo que parecia impossível, por força das elevadas demandas e crescentes têm levado os “cabeças pensantes” desse segmento a ampliar, cada vez mais, tudo aquilo que, para nós, já era muito grande!

Assim, não me parece insano imaginar que, brevemente, teremos berços disponíveis nos principais portos recebedores de grãos no mundo, adequando-se a calados cada vez maiores, aptos a receberem os Valemax, não mais somente carregados do tradicional minério de ferro do Brasil, mas carregados de commodities em grãos do nosso agronegócio!

Diante da exposição acima, é de se considerar, pelo menos razoável, que as “cabeças pensantes” daqui atentem para esse pequeno detalhe e evitem priorizar a construção de terminais voltados para a exportação do agronegócio, descuidando dessa possibilidade real, concentrando seus investimentos em áreas adjacentes ao atual porto público de Vila do Conde, sabidamente com limitações naturais de profundidades adequadas no seu canal de acesso e cujas soluções, ainda que havendo a possibilidade de existirem, permanecem sem fundamentações decorrentes da modelagem científica.

Aqueles que não pretendem utilizar na plenitude de suas capacidades os canais do Panamá e o futuro canal da Nicarágua, ou seja, vislumbram permanecer escoando seus grãos em quantidades “diminutas” frente à nova realidade que se descortina no horizonte desse novo mundo, devem sim permanecer com seus investimentos na envoltória daquele porto público aqui citado, sabendo sempre e de antemão, que os tempos mudaram e é imperativo “seguir as águas do guia”; quando não há essa atenção, perde-se o avanço da história e nós, mais uma vez, como nos mais variados segmentos da vida nacional, somos alcançados pelo atraso que, neste caso, salta aos olhos o equívoco estratégico.

A solução de “rebater o eixo” das regiões de baixo para cima é fantástica! É possível até que, talvez, nos anos vindouros, por onde hoje só sai ferro, se vislumbre solução de embarque segregado também para grãos; mas isso é talvez, pois haverá muito ferro para embarcar e então, diante dessa atenuante, pois ainda não temos uma nova “PDM” comprometida com grãos, para comemorarmos a plenitude do êxito, ou seja, o fantástico dessa nova fronteira de exportação de grãos do Brasil, há que haver um despertamento dessas mentes prodigiosas e, com uma pitada de humildade e um olhar singular, se debruçarem sobre o tema e, certamente, enxergarão aquilo que está tão visível a olho nu, mas tão distante de um olhar soberano. n

Gileno Macedo França é Consultor de Portos e Hidrovias - Nortegam Consultores Associados



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