Projeto Costa Butiá, do Porto de Imbituba, recupera importante patrimônio cultural imaterial do litoral sul brasileiro

Iniciado em 2018, projeto realizado na região recupera a cultura centenária de produção de artesanato a partir da folha do butiazeiro, espécie endêmica e ameaçada de extinção.

O Projeto Costa Butiá, iniciativa do Programa de Educação Ambiental (PEA) condicionante da Licença Ambiental de Operação da SCPAR Porto de Imbituba, e executado pela empresa Acquaplan Tecnologia e Consultoria Ambiental LTDA, de Balneário Camboriú, recebeu reconhecimento nacional novamente, desta vez com foco socioambiental. Após ter recebido o “Prêmio SEBRAE TOP 100 de Artesanato”, em 2022, este ano foi agraciado pelo Prêmio Portos e Navios de Responsabilidade Socioambiental.

O objetivo do Projeto é o de recuperar a sabedoria tradicional do modo de saver-fazer artesanato com a folha do butiazeiro (Butia catarinensis), espécie endêmica e ameaçada de extinção. Além de valorizar a cultura local e a espécie, mediante incentivo de práticas conservacionistas da Mata Atlântica e uso sustentável da planta para geração de renda

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O butiá-da-praia (Butia catarinensis) é uma palmeira de ocorrência muito restrita, endêmica do litoral sul do Brasil. Em certas ocasiões, os butiazeiros crescem em aglomerados e formam o ecossistema de butiazal. Os maiores butiazais de B. catarinensis de Santa Catarina localizam-se em Laguna e Imbituba, em solos arenosos, próximos da praia.

Em condições normais na natureza, a semente do butiá pode levar cerca de dois anos para germinar. O crescimento segue lento, exigindo de seis a dez anos para produzir os primeiros frutos. A reprodução tardia aliada as diversas ameaças estão tornando a presença dessa palmeira rara em alguns locais, onde antes era dominante. Ao longo das últimas décadas, as áreas ocupadas pelos butiazais e butiazeiros têm sofrido com o impacto gerado pela expansão urbana, industrial e agropecuária no litoral. Butiazais extensos estão cada vez mais raros, assim como a regeneração de suas populações. Tais ameaças tornam imprescindível o fomento de estratégias para valorizar, proteger esses ecossistemas e promover o seu uso sustentável.

Em 2018, a proposta surgiu a partir do Diagnóstico Socioambiental Participativo (DSAP), que identificou o modo de saber-fazer artesanato com a palha de butiá como um bem cultural imaterial da região e dos povos locais, ainda não registrado nos órgãos competentes e em fase de declínio e esquecimento. O elemento básico e tradicional dessa arte é a trança da palha de butiá, a partir dela é feito o chapéu, entre outros artigos.

Presente há pelo menos três gerações na cultura de Imbituba, o artesanato com a palha de butiá teve papel fundamental na vida de muitas famílias do litoral sul de Santa Catarina. Por isso, a espécie está vinculada à história, às tradições e à identidade cultural das comunidades costeiras da região.

Antigamente, as mulheres produziam os chapéus usados pelos seus familiares para se protegerem do sol durante os trabalhos rurais ou como moeda de troca por outros produtos. Por volta de 1920, existiam pequenas fábricas de crina vegetal (fardos de folhas secas de butiazeiros) em Imbituba e região, a qual era transportada de carro de boi até Florianópolis, para a fabricação de colchões, travesseiros e cordas. As crinas também partiam de navio pelo Porto de Imbituba para o Rio de Janeiro e São Paulo.

Antes do Projeto Costa Butiá iniciar, essa arte ancestral corria o risco de esquecimento, resultado de diversos fatores que colaboram para essa situação, como desvalorização da cultura local, preços injustos pagos pelos produtos artesanais, estado de degradação dos butiazais, idade avançada da maioria das artesãs, desinteresse das novas gerações em aprender essa arte, além da industrialização e crescente uso de produtos sintéticos.

No início do projeto, foi encontrada apenas uma pessoa, moradora de Imbituba, portadora do saber e do modo de fazer o tradicional chapéu com a palha de butiá. As demais já haviam falecido ou não lembravam todas as etapas do processo. Com o auxílio dessa pessoa, foi iniciada a recuperação dessa arte, através da formação de multiplicadores da sabedoria ancestral. Novos produtos foram criados, a partir da técnica tradicional, em consonância com uma releitura contemporânea.

Desde o início do projeto, foram realizadas mais de 85 oficinas e cursos para mais de 4.000 pessoas do Brasil, Argentina e Uruguai, somando 700 horas de atividades presenciais e virtuais. Como resultado, hoje na região despontam grupos de artesãos produzindo e comercializando com preços justos o chapéu e outros artigos elaboradas pelas mãos das habilidosas trançadeiras. A folha do butiazeiro é transformada em peças artesanais de alta qualidade, como chapéu, bolsa e utensílios domésticos. Foram criados mais de 40 produtos da bioeconomia. O patrimônio cultural imaterial de Imbituba e região antes esquecido, agora, em pleno movimento de valorização e ascensão na cidade e região. É possível conferir a produção artesanal no Youtube, através do canal do Projeto Costa Butiá: https://www.youtube.com/watch?v=qGr_9O7f0EE.

Além do canal, o projeto conta com perfil no Instagram @costabutia, e tem a publicação “Cartilha Butia catarinenses - Informações para a conservação da Mata Atlântica e da sociodiversidade cultural”, que também integra as ações de construção do conhecimento, implantadas pelo Projeto. O livreto traz informações sobre a espécie, seus usos tradicionais, ameaças e dicas de como produzir artesanato com a palha da palmeira. Também apresenta boas práticas para o manejo e a conservação da planta. Acesse a cartilha: https://www.portodeimbituba.com.br/downloads/ambiental/Cartilha_Costa_Butia.pdf

Para incentivar o cultivo e o repovoamento da espécie em seu ambiente natural, foram produzidas e doadas mais de 584 mudas e oferecidos cursos e oficinas sobre o plantio, o cultivo e as estratégias para quebrar a dormência da semente. A produção das mudas pode levar até quatro anos, justificando a inexistência da oferta de mudas desta espécie para comercialização ou doação.

A comercialização dos produtos artesanais fabricados com a folha do butiazeiro apresentam resultados satisfatórios. Os moradores locais demonstram relações de identidade, memória e afeto pelas peças, pois contam parte das suas histórias de vida e recordam entes queridos da família das gerações anteriores. Já os turistas reconhecem os produtos como algo único que identifica a cultura e a natureza local. Os proprietários de pousadas usam os produtos para decoração. As empresas portuárias da cidade compram os itens para presentear seus visitantes, visto a singularidade e a representação da cidade que as peças carregam em seu teor subjetivo e o conceito intrínseco de sustentabilidade.

O Projeto Costa Butiá se tornou referência no artesanato de Imbituba e região, e, recentemente, passou a representar também o estado de Santa Catarina, visto ter sido selecionado em 2022 como uma das 100 unidades de produção de artesanato mais importantes e competitivas do Brasil - Prêmio Top 100 SEBRAE. Em Santa Catarina, apenas duas unidades foram selecionadas. Portanto, o butiá acaba de ser reconhecido como a fibra natural que representa o estado e faz menção a paisagem dos extensos cordões dunares que cobrem a planície costeira do sul do Brasil.

Outro reconhecimento conquistado em 2022 foi o selo do Conselho Gestor da Área de Proteção Ambiental - APA da Baleia-franca (CONAPABF), que identificou e selecionou experiências inovadoras - boas práticas territoriais - em temas que permeiam a gestão da unidade de conservação da APABF e de seu entorno.

Neste contexto, o projeto tem atingido as metas e os objetivos planejados. O resultado consiste na criação de um artesanato com expressão cultural, materializando produtos que possuem uma valorização simbólica maior do que o seu valor de uso. Os produtos despertam o interesse da sociedade pela conservação da palmeira e do ecossistema butiazal, aliando a geração de renda com o uso sustentável da Mata Atlântica.

GiseliGiseli Aguiar de Oliveira Fernandes é oceanógrafa do Grupo Acquaplan, coordenadora do projeto Costa Butiá

 

 

 

 

 

 

 

 

 



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