Redução das emissões foi tema do segundo dia da Navalshore

Eletrificação e hibridismo estão entre as soluções adotadas pelas empresas que participam do evento do setor da construção naval. Destaque para o volume de profissionais que visitaram o evento nos dois primeiros dias

O desafio imposto ao setor do transporte marítimo, de reduzir drasticamente as emissões de gases poluentes para atingir as metas definidas pelo IMO (International Maritime Organization), foi tema do Fórum Reino Unido & Brasil: Tecnologias para Descarbonização Marítima e Eólica Offshore, evento que compôs a programação de conteúdo sobre a indústria naval no segundo dia da 17ª edição da Navalshore - Feira e Conferência da Indústria Marítima.

Com curadoria do British Consulate-General Rio de Janeiro, o fórum promoveu o debate entre empresas que participam do evento e que estão dedicadas ao desenvolvimento de tecnologia que viabilizem a descarbonização, melhorando a eficiência e performance das embarcações.

“O caminho para o setor marítimo não será fácil, porque as regulamentações são duras e exigem agilidade da indústria naval para se adaptarem. As soluções devem ser plurais e colaborativas”, avaliou o gerente geral de Desenvolvimento de Negócios de Descarbonização - Americas da Wärtsilä, empresa de origem finlandesa que desenvolve soluções para as indústrias marítimas e offshore, Lucas Correa. A empresa participa com outros grandes players como Raízen, CBO, Norsul, Ocyan e Hidrovias do Brasil, do Path To NetZero, iniciativa em prol da descarbonização da indústria marítima e offshore no Brasil.

Correa detalhou dois dos focos de atenção da empresa no desenvolvimento de Energy Savings Technologies (Tecnologias para Economia de Energia, em tradução livre): o sistema de lubrificação a ar, pelo qual compressores injetam bolhas de ar no casco do navio que melhoram a performance da embarcação, com benefícios tais como redução de combustível e CO2. "O sistema é muito interessante porque é possível implementar de forma fácil em uma embarcação que já esteja operando. Alguns armadores conseguem até 10% de savings. A VALE, no seu programa Eco Shipping, apostou nesta solução. MSC, Grimaldi também aderiram", explicou.

A outra solução mencionada por Correa são os Rotar Sails, rotores que funcionam por intermédio de uma diferença de pressão do vento, o efeito magno, que promove um ganho de eficiência da embarcação.

Já o gerente de Projetos Navais, da Belov: Engenharia Portuária, Subaquática e Offshore, Marcos Campos Parahyba, contou sobre os projetos de construção de navios híbridos e como a eletrificação no transporte marítimo já é uma realidade no Brasil. A empresa entregou recentemente duas embarcações híbridas para a companhia Hidrovias do Brasil.

“A hibridização é o caminho para a eletrificação da propulsão marítima e permite a flexibilidade de trabalhar em vários perfis operacionais. Diesel elétrico, totalmente elétrico ou híbrido. Existem muitos desafios, como a capilaridade do abastecimento, a baixa densidade energética, o descarte de baterias (vida útil de 10 anos e reaproveitamento) e o alto custo de implementação. Mas há como superar essas questões com o ganho de escala à medida que a opção elétrica ou híbrida passar a ser aceita pelo mercado”, acredita ele.

Os caminhos para superar os desafios, segundo ele, envolvem uma profunda compreensão sobre o perfil operacional da embarcação e da empresa, a implementação de infraestrutura para abastecimento e a capacitação de pessoal. “Além disso, precisamos de baterias mais eficientes, mais leves e compactas. De 2008 para cá, uma bateria de íon/lítio melhorou enormemente, mas quando pensamos em densidade energética ainda estamos muito abaixo do etanol”, avalia, acrescentando que o hibridismo no transporte marítimo é ideal para a navegação em curta distâncias (ferry boats), operação com ciclos curtos (turística, esporte e de recreio) e é ideal para embarcações com variações de potência (empurradores, rebocadores).

O consultor sênior da Transpetro, Diego Chaves Savelli, acrescentou que é preciso encontrar soluções que possam ser incorporadas às embarcações em serviço, evitando a docagem. “Para as embarcações já existentes, buscam-se tecnologias com baixo Capex, que demandem menor complexidade de instalações, com instalação em serviço, e reduções marginais de consumo/ emissões. “Não existe bala de prata para atingir as metas da IMO. É o conjunto de intervenções e a somatória de pequenos resultados”, concluiu.

Negócios - A temática da sustentabilidade e da redução das emissões de gases poluentes é estratégica e, entre as mais de 90 empresas que participam do evento, as soluções expostas envolvem toda a cadeia da indústria naval e são foco de interesse dos visitantes da Navalshore. "O volume e a qualificação da visitação, tanto no primeiro dia como hoje, tem surpreendido as empresas expositoras", revela o diretor da Navalshore, Marcos Godoy Perez. "É evidente que toda a cadeia da indústria naval está comprometida com o desenvolvimento de tecnologias que minimizem o impacto do transporte marítimo no meio ambiente e por isso organizamos este grande encontro do setor, que viabiliza o desenvolvimento tecnológico de todo o mercado", avalia.

A Navalshore tem os patrocínios Master da Transpetro e Platina da Internacional AkzoNobel e, nesta edição, reuniu um grupo de mais de 90 marcas expositoras. Confira algumas das novidades que as empresas trouxeram:

Barcos não tripulados - Um dos serviços oferecidos pela TideWise, empresa 100% nacional que participa da Navalshore é a caracterização de ambientes marinhos, portuários ou fluviais, com o emprego de sistemas robóticos inteligentes. Uma das soluções, o USV Tupan conta com a integração de sensores como o LiDAR e sistemas de ecobatímetros multifeixe que permitem coletar dados robustos acima e abaixo da linha d'água.

O USV é equipado com sistemas robóticos e drones aéreos e subaquáticos que possibilitam realizar uma ampla inspeção marítima controlada da central de comando no escritório da empresa.

"Realizamos serviços com uma embarcação de apenas cinco metros, ao invés das embarcações de 30 a 40m utilizadas normalmente e que consomem mais combustível. Nosso USV utiliza dois motores elétricos e um motor a diesel para alimentar as baterias elétricas do barco. Isso resulta em serviços mais leves e sustentáveis", explicou o CFO da empresa, Rafael Franco.

Economia azul - Criado em 2019, o Cluster Tecnológico Naval do Rio de Janeiro é uma iniciativa das empresas EMGEPRON, NUCLEP, AMAZUL e CONDOR. A associação participa da 17ª edição da Navalshore, com 12 empresas em seus três estandes. O secretário executivo do cluster, João Lessa, afirmou que a presença no evento é fundamental para a estratégia de impulsionamento de negócios locais no Rio de Janeiro.

"Tivemos um aumento no número de associados desde a nossa participação na Navalshore, no ano passado, que se reflete no crescimento do nosso espaço na feira. Também estamos acompanhando atentamente as conferências, especialmente as que abordam o descomissionamento a curto e médio prazos, de suma importância para o setor", disse o executivo.

O Cluster - que saltou de quatro empresas em 2021 para 84 em 20203 - tem como foco a promoção do mercado interno, capacitação e formação, inovação e tecnologia, valorização do mercado local e encadeamento produtivo entre pequenas, médias e grandes empresas. Além disso, busca-se mobilizar as sete cidades no entorno da Baía de Guanabara (Rio, Niterói, Magé, Duque de Caxias, São Gonçalo, Guapimirim e Itaboraí), com o Estado do Rio e a União, para criar mecanismos e possibilitar ações em prol do desenvolvimento da indústria marítima.

Importância institucional - Considerado um dos mais modernos estaleiros do país, o Estaleiro Rio Maguari é, já há mais de três décadas, referência em construção naval na Amazônia e tem profundas ligações com o desenvolvimento sustentável da região. Por isso, seu diretor comercial, Fábio Vasconcellos, considera a participação da empresa no Navalshore como de grande importância estratégica.

Localizado no distrito de Icoaraci, em Belém, a empresa atua com alto índice de automação na construção de estruturas metálicas e caldeirarias navais, destacando-se como moderno estaleiro da Amazônia. Além disso, atua na fabricação de balsas e empurradores.

Vasconcelos, que também é vice-presidente do SINAVAL e diretor da ABANI(Associação Brasileira para o Desenvolvimento da Navegação Interior), afirmou que acompanha de perto as políticas públicas para melhorias nas hidrovias, a segurança pública nos rios, bem como abrir novas frentes de fomento e de aprimoramento da mão de obra do setor.

Telecomunicações - O 5G e a inteligência artificial (IA) também estão ganhando grande espaço entre as tecnologias de ponta para os equipamentos de telecomunicação marítima. A Mareste apresenta alguns desses equipamentos em seu estande na 17ª edição da feira Navalshore.

Os sistemas de telecomunicação via satélite de baixo custo e alta performance e o sistema integrado de telemetria o IoT (internet das coisas) para navegação chamaram a atenção dos visitantes. Dados como rotação dos motores propulsores, temperatura do motor, pressão do óleo, velocidade da embarcação são coletados em tempo real e transmitidos para processamento em um sistema de IA.

A Navalshore 2023 tem os patrocínios Master da Transpetro e Platina da Intenational Akzo Nobel