Mergulhada numa crise política, econômica e humanitária, com sua principal fonte de geração de receitas, a PDVSA, a estatal de petróleo do país, arruinada por má gestão e corrupção patrocinada por gestores e agentes políticos, a Venezuela precisaria urgentemente aumentar sua produção do petróleo. Seria a única maneira de aumentar suas receitas. Quase toda a arrecadação do governo vem do petróleo.
Pois esta semana, em Viena, os países membros da organização dos exportadores de petróleo, a Opep, estão reunidos para discutir o aumento da produção, com o objetivo de estabilizar o preço do óleo.
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O oposto do que fizeram em janeiro de 2017, quando o preço do petróleo estava muito baixo e a Opep, aliada com a Rússia ( grande exportador, mas que não é membro da Opep) decidiu cortar a produção em 1,8 milhão de barris por dia.
Deu resultado: de lá para cá o preço do petróleo dobrou e chegou a bater em US$ 80 o barril. Bom para quem exporta, ruim para quem depende da importação.
O problema é que para os grandes exportadores um preço muito elevado também não interessa. Pode, na sequência, levar a uma queda de consumo e derrubar abruptamente os preços. O que os levaria ao problema inicial: reduzir a produção para, com o tempo, recuperar preços.
A Opep foi criada em 1960. A Venezuela foi líder na construção do cartel destinado a regular a oferta de petróleo no mercado mundial para forçar a alta dos preços. A organização forçou uma mudança radical na relação entre os grandes produtores (a maioria no Oriente Médio) e os grandes consumidores, as economias industrializadas do Ocidente.
Os países nacionalizaram a produção do petróleo com a desapropriação das grandes petrolíferas do Ocidente, multiplicaram o preço do petróleo, acumularam riqueza.
E por que justamente agora a Venezuela, que depende mais do que nunca do petróeo, é contra a iniciativa dos principais aliados exportadores de aumentar a produção?
Porque a PDVSA, a Petrobras deles, não tem mais capacidade de aumentar... a produção. Pelo contrário, a extração de petróleo, que já foi de mais de 3 milhões de barris, está em queda livre, hoje de pouco mais de 1 milhão de barris.
Se a Opep decidir pelo aumento da produção, a Venezuela não irá se beneficiar. Pelo contrário. Como ela não pode aumentar a produção, outros ocuparão seu espaço, que é o que já está acontecendo. E ainda verá o preço do petróleo cair, reduzindo ainda mais sua receita com exportação.
E como é que a PDVSA chegou a esse ponto, tendo o monopólio da pesquisa, exploração, produção, refino e distribuição no país que detém as maiores reservas de petróleo do mundo?
Hugo Chávez fez o diabo com a PDVSA. Vendeu petróleo barato para países de governos amigos. Entrou em confronto com a tradicional gestão da empresa de petróleo. Demitiu milhares de funcionários, substituindo-os por trabalhadores cubanos.
A alta direção da companhia foi sendo substituída por militares do regime, muitos deles sendo agora objeto de investigações em Andorra, pequeno país encravado entre a Espanha e França, por comprovados desvios bilionários.
Além disso, cada vez mais o chavismo foi se apropriando das receitas da PDVSA para bancar os gastos do governo. Em nome de programas sociais. Com isso, a companhia, numa primeira etapa, reduziu investimentos. Depois foi se endividadando.
Operando com prejuízo e com dívidas crescentes, as instalações industriais da companhia perderam em desempenho. Mais recentemente, por não honrar dívidas com os credores, teve instalações de embarque arrestadas no Caribe.
Em resumo: o resgate da Venezuela da situação em que se encontra dependenderia de um resgate da PDVSA. Mas nessas alturas quem tem capacidade de resgatar quem? É um perfeito abraço de afogados.
Em tempo: na Venezuela, onde falta tudo (alimentos, remédios, roupas....) a gasolina, mantendo a tradição de décadas, custa menos do que água.
Fonte: G1