Três anos após o preço do petróleo ter iniciado um acelerado declínio, o setor petrolífero e investidores finalmente aceitaram a ideia de preços mais baixos por mais tempo, pondo fim, potencialmente, a um período de crise do setor.
O preço do petróleo tipo Brent, referência internacional, está agora 59% abaixo dos US$ 115,06 por barril de três anos. O West Texas Intermediate (WTI), o referencial americano, também encontra-se 58% abaixo dos US$ 107,26.
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A abrupta queda desencadeou forte declínio dos lucros das empresas, recessões econômicas que atingiram da Rússia até a Venezuela e demissões em todos os campos de petróleo do mundo. Mas agora, empresas de petróleo (estatais e privadas) e investidores estão se adaptando a um mundo no qual a faixa de US$ 50-60 o barril é vista como a nova zona de equilíbrio.
As produtoras cortaram custos, concentraram-se em ativos mais lucrativos e deixaram de injetar dinheiro em projetos onerosos em locais como o Ártico. A capacidade de lucrar com preços do petróleo menores ajudou a acalmar o nervosismo dos investidores, que voltaram a financiar novos projetos.
"Menor por mais tempo tornou-se o novo 'mantra' do setor", disse Daniel Yerigin, vice-presidente do IHS Markit e experiente analista do mercado de petróleo. "As pessoas voltam a se preparar para um novo nível de preço, e US$ 50 a US$ 60 parece aceitável para a maioria."
No fechamento de ontem nos mercados internacionais, o petróleo Brent caiu 0,97%, para US$ 46,91 por barril, enquanto o WTI recuou 1,21%, para US$ 44,20.
Para muitos, esse patamar representa um alívio, após a combinação de acelerada expansão da produção americana de óleo de xisto e a elevada extração da Arábia Saudita, que fez o petróleo despencar para menos US$ 30 o barril, no início de 2016.
Essas empresas de xisto americanas abriram o caminho para a adaptação ao preço menor. Antes da crise, as empresas muitas vezes precisavam de uma faixa de preço da US$ 80 a US$ 85 para equilibrar receita e despesa. Desde o início de 2015, nos EUA, 105 produtores e 120 empresas de prestação de serviços faliram, segundo o escritório de advocacia Haynes & Boone.
As empresas de óleo de xisto americanas que se mantiveram em atividade concentraram-se em suas áreas mais promissoras e implementaram melhorias tecnológicas, como a prospecção de superpoços dotados de mais areia, a fim de poupar custos por meio de economias de escala. A Parsley vendeu ações várias vezes para fazer caixa, o que lhe permitiu fazer aquisições no Permian, um campo no Texas que se tornou um dos lugares mais econômicos nos EUA para se operar, onde os produtores conseguem ganhar dinheiro com os poços mesmo com os baixos patamares dos preços do petróleo.
Atualmente, de acordo com Sheffield, a Parsley poderá continuar a crescer mesmo se o petróleo cair para US$ 40 o barril.
O grupo das grandes multinacionais também se adapta a um prolongado período de petróleo barato. Chevron, Royal Dutch Shell, Exxon Mobil e BP sugeriram neste ano que, com US$ 60 o barril, conseguirão gerar caixa para cobrir seus gastos e os retornos dos acionistas. Já a US$ 50 o barril, o quadro não é tão claro. Mas as empresas dizem que estão focadas em se sustentar mesmo a esse preço.
No primeiro trimestre de 2017, muitas grandes petrolíferas divulgaram os maiores lucros em mais de um ano. Para enfrentar a nova faixa de preços, as empresas reduziram os custos por meio da pressão a fornecedores e prestadores de serviços, reduziram projetos menos lucrativos e abandonaram a cultura perdulária do passado.
Agora, muitos no setor petrolífero nem querem que o preço suba muito, dizem alguns analistas. Isso porque preços altos do petróleo desencadearam um enorme surto de crescimento dos investimentos que alimentou a superoferta mundial e levou o mercado ao colapso.
O petróleo barato, além disso, é benéfico para grandes consumidores, como EUA e Europa. Os motoristas americanos contabilizaram número recorde de quilômetros percorridos no período de doze meses encerrado em março, segundo o Federal Reserve (o BC dos EUA). "Para o petróleo, [a faixa de] US$ 50 a US$ 60 é ideal, tanto para os [países] consumidores quanto para os produtores", disse Rob Thummel, gestor de ativos energéticos da assessoria de investimentos Tortoise Capital Advisors.
A capacidade de adaptação dos produtores de óleo de xisto é fator fundamental. Com a elevação dos preços, eles poderão lançar grandes volumes no mercado, fazendo com que o petróleo registre nova queda e garantindo um preço praticamente sem oscilações dentro de uma estreita faixa de variação.
Mas nem todos estão se adaptando. A Venezuela, com sua economia movida a petróleo, entrou em colapso. E várias empresas continuam a enfrentar dificuldades, em especial no setor de serviços.
Fonte: Valor