O grupo ArcelorMittal, maior produtor mundial de aço, decidiu tirar da gaveta, após quatro anos congelado, o projeto de expansão em suas instalações de São Francisco do Sul (SC). O investimento, que teve seu valor atualizado para US$ 330 milhões (R$ 1,22 bilhão), havia sido suspenso em abril de 2014, em razão do início da crise econômica do país e da forte retração da indústria automotiva. A tecnologia também foi atualizada.
"Vínhamos trabalhando de novo nesse projeto desde o ano passado, quando a economia do Brasil voltou a crescer, discutindo com a área financeira e fazendo sua atualização tecnológica", disse ao Valor Benjamin Baptista Filho, presidente da ArcelorMittal Brasil. No início de julho, relatou, ele foi a Londres, sede do grupo, e fez uma apresentação dos novos indicadores a Lakshmi Mittal, CEO da ArcelorMittal, e a Aditya Mittal, vice-presidente de Finanças. "Saí de lá com sinal verde para fazer o investimento", disse o executivo.
PUBLICIDADE
A unidade de laminação de São Francisco do Sul é especializada em fazer chapas de aço a frio e galvanizadas. A matéria-prima (bobinas laminadas a quente) é oriunda da usina do grupo em Serra (ES) e chega por meio de barcaças até o porto do município catarinense, que fica ao lado.
A expansão, argumenta a companhia, vai fortalecer a atuação da ArcelorMittal em aço de maior valor agregado nos setores automotivo, construção civil e de linha branca. Trata-se de aço revestido com material contra corrosão. Vai também sustentar a estratégia de crescimento do grupo no Brasil e América Latina.
O início da produção adicional, com a terceira linha de aço galvanizado, está previsto para 2021, com pouco menos de 30 meses de obras de montagem. Essa linha terá capacidade de beneficiar 500 mil toneladas por ano. Com ela, a empresa passará também a fazer novos produtos, como o Magnelis - usado em painéis para gerar energia solar e em material da construção civil. Já é fabricado pelo grupo na Europa desde 2016.
A decisão de desengavetar o projeto, disse Baptista Filho, se deve à retomada da indústria automotiva e às perspectivas de recuperação da economia do país a partir de 2019. As vendas de automóveis - que tiveram forte desaquecimento no país nos últimos anos - voltaram a subir em 2017 e tiveram também impulso das exportações a países vizinhos, como a Argentina, e ao México.
Atualmente, a unidade catarinense, inaugurada no início dos anos 2000, tem duas linhas de produção - uma dedicada ao setor automotivo e outra para bens de linha branca e para construção civil. Juntas, elas contam com capacidade anual de 950 mil toneladas. Além disso, a empresa faz mais 500 mil toneladas de aço laminado a frio, vendido para diversas aplicações industriais.
Com a expansão, a ArcelorMittal terá no Brasil um portfólio de aços mais nobres de 2,1 milhões de toneladas na operação do Sul. Desse volume, 1,45 milhão de toneladas serão produtos galvanizados e 700 mil de laminado a frio. O investimento, com tecnologia Combline (recozimento contínuo) vai permitir ampliar em 200 mil toneladas a oferta de laminado a frio, com alta resistência e para linha automotiva, segundo explicou o executivo.
A partir de Serra, a empresa continuará com vendas de 2,1 milhões de toneladas de bobinas a quente. O volume será destinado ao mercado interno e a clientes cativos da América do Sul. Os embarques spot para Oriente Médio e Ásia serão desviados para a nova linha de aço galvanizado.
Atualmente, os principais concorrentes locais da empresa nos mercados que demandam aço revestido - automotivo, linha branca e construção civil - são Usiminas e Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). O consumo doméstico é ainda suprido com produto importado, principalmente da China e Coreia do Sul.
"A nova linha nos permite crescer no setor automotivo, acompanhando tanto a maior aplicação desse aço nos automóveis como a maior produção de veículos", disse Baptista, lembrando que o Brasil tem capacidade instalada para fabricar 5 milhões de carros ao ano. O executivo destaca que há também sinais de retomada na construção, máquinas e equipamentos e setor do agronegócio.
"Estamos operando à plena capacidade em Serra [7,2 milhões de toneladas de placas e 4,2 milhões de toneladas de bobinas a quente] e em Vega [como é conhecida a unidade catarinense]", afirma Baptista. O excedente de placas da usina capixaba, 3 milhões de toneladas, é exportado, principalmente para os EUA. Um dos grandes clientes é a laminadora de Calvert, no Alabama, que pertence ao grupo e Nippon Steel.
A ArcelorMittal Brasil faz ainda aços longos. E neste ano, concluiu compra da Votorantim Siderurgia. Fatura em torno de R$ 20 bilhões.
Fonte: Valor