Chefe da Saudi Aramco alerta para crise de oferta

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A indústria do petróleo corre o risco de sofrer uma crise de oferta porque as empresas vêm priorizando o setor de xisto e outros empreendimentos de curto prazo em vez dos grandes projetos de longo prazo que costumavam ser vistos no passado, segundo Amin Nasser, executivo-chefe da Saudi Aramco, gigante petrolífera estatal da Arábia Saudita.

Nasser disse que os crescentes investimentos na produção de ciclo curto - cuja operação começa mais rápido mas também acaba antes do que os projetos convencionais - não vão ser suficientes para atender a demanda cada vez maior por petróleo. "Algo como o petróleo de xisto [...] não vai realmente ter grande impacto na exigência mundial de oferta total até 2040", disse Nasser, em entrevista ao "Financial Times".


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Depois da brutal recessão enfrentada pela indústria nos últimos anos, as grandes petrolíferas têm priorizado o corte de custos e o retorno de dinheiro aos investidores por meio de recompras de ações e distribuição de dividendos. "Isso indica que as empresas estão preocupadas em atender as exigências dos acionistas", disse Nasser sobre a relutância em investir em projetos que são muito caros e levam mais tempo para começar a produzir, mas que costumam operar por mais tempo.

Avanços tecnológicos na técnica de fraturamento hidráulico liberaram volumes imensos de petróleo antes inacessíveis em formações rochosas, de forma que petrolíferas como ExxonMobil, Chevron e Royal Dutch Shell investiram pesadamente nos campos de xisto nos EUA, que geram dinheiro mais rápido. O mundo, no entanto, ainda vai depender do petróleo convencional, como o da Arábia Saudita, maior exportador mundial da commodity.

Os comentários de Nasser chegam em meio ao surgimento de dúvidas quanto ao empenho e disposição da Arábia Saudita em seguir adiante com os planos de abrir o capital da empresa. Há temores entre os sauditas de que a operação não confira a avaliação de US$ 2 trilhões desejada pelo poderoso príncipe herdeiro do país, Mohammed bin Salman, e que, além disso, possa trazer vulnerabilidades jurídicas para a petroleira.

"É uma decisão soberana", disse Nasser, acrescentando que Riad ainda vai decidir se realmente vai promover uma oferta pública inicial de ações da petrolífera.

A AIE sustenta que a falta de investimentos em grandes projetos afetará o fornecimento no início dos anos 2020

A produção de petróleo da Arábia Saudita também está no centro dos holofotes. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pediu aos sauditas que elevem a produção em 2 milhões de barris por dia para conter a alta dos preços, em meio aos problemas produtivos na Venezuela e à iminente queda no fornecimento iraniano depois da reimposição das sanções contra país. Os EUA, apesar da onda de expansão produtiva com o xisto, ainda dependem de petróleo estrangeiro.

A Arábia Saudita concordou em elevar a produção em 1 milhão de barris diários em relação ao nível de maio e analistas do setor dizem que a produção doméstica poderia chegar ao recorde de 11 milhões de barris diários. A Arábia Saudita, contudo, ainda não concordou em começar a usar sua capacidade máxima, o que lhe deixaria pouco espaço para produzir mais em caso de problemas inesperados no fornecimento mundial.

Nasser, que deu a entrevista antes do encontro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), reconheceu que a Arábia Saudita, sozinha, não tem capacidade para manter o mercado de petróleo sob controle no longo prazo. "Todos precisam fazer a sua parte [...] Vamos contribuir, mas quanto vamos contribuir?", disse Nasser, assegurando que há fontes suficientes para atender a demanda mundial e reverter o esgotamento dos campos existentes.

Bob McNally, da consultoria especializada em energia Rapidan Group, com sede em Washington, disse que as petrolíferas internacionais estão se voltando aos projetos de ciclo curto em parte porque a Opep mostrou não ser capaz de "ancorar os preços do petróleo" - seja para cima ou para baixo - e proteger os retornos no longo prazo.

A Agência Internacional de Energia (AIE) vem sustentando que a insuficiência de investimentos em projetos de grande escala vai levar a uma falta no fornecimento no início dos anos 2020, quando a produção de xisto nos EUA deve chegar a seu ápice.

Na metade final da atual década, os investimentos das petroleiras em bens de capital deverão ter caído quase pela metade, para US$ 443,5 bilhões, em comparação aos US$ 875,1 bilhões investidos entre 2010 e 2015, de acordo com outra consultoria especializada no setor, a Rystad Energy.

Parte disso se deve ao declínio no custo de desenvolvimento de campos petrolíferos, mas a queda nos investimentos também coincide com o novo foco dos grandes grupos de energia em canalizar mais dinheiro a projetos de curto prazo e de fontes renováveis, já que buscam garantir seu futuro em um mundo de energia de baixas emissões de gás carbônico.

Grandes petroleiras, como BP e Shell, ainda não veem problemas de falta de oferta. Executivos do setor, por outro lado, dizem que as empresas têm consciência da aproximação do dia em que a demanda por petróleo chegará a seu pico e começará a cair - fator que também está determinando as estratégias de investimento.

Fonte: Valor






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