A venda da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA) pela Thyssenkrupp à ítalo-argentina Ternium, por € 1,5 bilhão, incluindo dívidas, foi um bom negócio para as duas companhias, na avaliação de especialistas. O mercado de capitais reagiu bem. Os papéis do grupo alemão, que abaterá parte de sua pesada dívida com o dinheiro que vai embolsar, tiveram alta superior a 4% na bolsa de Frankfurt. Já as ações da Ternium fecharam com alta acima de 10% em Nova York, refletindo a aquisição e o bom resultado de seu balanço em 2016.
De acordo com uma fonte do setor, a Ternium pagou € 300 por tonelada instalada da CSA, que inclui um porto e uma geradora de energia. Para se fazer uma instalação do zero (greenfield), gasta-se na faixa de US$ 1.500 por tonelada. "Para a Ternium, a compra da CSA faz todo o sentido", declarou um interlocutor.
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A companhia, que tem operações na Argentina, Colômbia, México e EUA, sofre com um déficit superior a 3,5 milhões de toneladas de placas ao ano, adquiridas de terceiros, para suprir suas laminadoras de produtos finais. E a oferta nesse mercado vem se estreitando nos últimos tempos, elevando os preços da placa.
Estrategicamente, a ofensiva da Ternium, uma empresa em ótima situação financeira - alavancagem financeira de 0,6 vez, considerada a relação entre a dívida líquida e o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) - foi considerada muito acertada. "Era um ativo que estava aí, solto na praça, pois a Thyssenkrupp já havia demonstrado que não pretendia mais continuar com ele", disse.
"A CSA é o estado de arte, com tecnologia de última geração e operação de alto padrão. Com ela podemos aumentar a sofisticação dos produtos", afirmou Daniel Novegil, CEO da Ternium, em teleconferência com analistas, ontem. E acrescentou que a CSA não opera com sua capacidade máxima de produção, de 5 milhões de toneladas ao ano. "Desde o começo tentaremos levar a companhia ao máximo de sua capacidade."
A construção da CSA em Santa Cruz, distrito do Rio de Janeiro, aliada à unidade americana do Alabama - "projeto Steel Americas" - trouxe muita dor de cabeça para a Thyssen e perdas da ordem de € 8 bilhões, já descontados os € 3 bilhões com as vendas dos dois ativos. A siderúrgica começou a ser construída em 2005, entrou em operação em meados de 2010 (ainda à meia carga e com problemas de impactos ambientais) e somente se estabilizou operacionalmente em 2014.
Em mãos da Ternium, a previsão é que terá outro desempenho, disse ao Valor uma fonte com grande conhecimento do setor. Diz que se trata de um grupo com alta capacidade de gestão e que acredita que o atual ciclo ruim da siderurgia vai passar,. "O resultado será outro, bem diferente".
Novegil destacou ainda a integração das operações da Ternium com a CSA, elevando a colaboração entre unidades no Brasil, México e Argentina. "Há oportunidades para criar valor e rentabilidade", disse, lembrando que a aquisição não tem relação com a participação detida na Usiminas. "Apenas vimos uma boa oportunidade e fomos atrás dela", afirmou o CEO.
O executivo reiterou que a aquisição não muda a relação com a empresa mineira, cujo controle é dividido com a Nippon Steel &Sumitomo. "Nosso esforço é para deixar a Usiminas mais sadia e melhorar o desempenho". Para a Ternium, não há plano de uma cisão de Usiminas - unidade de Cubatão, na Baixada Santista - vinculada ao negócio da CSA e que vise sua saída do capital da Usiminas.
Procurada pelo Valor, a assessoria informou que a Ternium não faria entrevistas sobre a aquisição.
Fonte: Valor