O consumo aparente de produtos siderúrgicos no Brasil em 2016 deve alcançar 19,4 milhões de toneladas, um retração de 8,8% em comparação com o ano passado, prevê o Instituto Aço Brasil. A estimativa de consumo para este ano é o pior nível projetado desde 2009, no pós-crise econômica mundial. Ainda segundo a entidade, no ano passado, o consumo foi de 21,3 milhões de toneladas, uma queda de 16,9% em relação a 2014.
"Se considerarmos a queda de 2015 em relação a 2014, mais a queda de 2016 em relação a 2015 nós temos um acumulado de 25,7%. E, da mesma forma, se formos um pouco mais atrás e pegarmos 2014 em relação a 2013, vamos chegar a uma queda acumulada da ordem de 32,1%", disse ontem o presidente-executivo do Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes. "Esta é a pior crise de todos os tempos. Nem a crise de 2008 teve a proporção da atual", completou.
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O instituto também prevê queda de 1% na produção de aço bruto em 2016, ante o ano anterior, para 32,9 milhões de toneladas. Na mesma comparação, a entidade prevê recuo de 4,1% nas vendas internas, para 17,4 milhões de toneladas.
Com a queda do mercado doméstico e a desvalorização do real, as siderúrgicas estão focando o setor externo. O Aço Brasil prevê alta de 2,3% do volume de exportações este ano, ante 2015, para 14 milhões de toneladas. Na mesma comparação, o órgão prevê um recuo de 38% do volume de importações, para 2 milhões de toneladas.
Diante desse cenário - de aprofundamento da retração no consumo interno de aço - o instituto prevê mais 11.332 demissões no setor neste semestre. No mesmo período, estima o desligamento de mais 23 unidades no país, incluindo a desativação do alto-forno da Vallourec, previsto para abril. Ao longo de 2014 e 2015, foram 74 unidades desativadas ou paralisadas, sendo quatro alto-fornos. Com isso, 29.740 funcionários foram demitidos. No fim de 2013, o setor empregava 120 mil pessoas.
Segundo Lopes, caso o governo opte por utilizar recursos das reservas cambiais para programas sociais e abater a dívida, ele deveria priorizar esses recursos para incentivar as exportações brasileiras e garantir a manutenção da indústria de transformação do país.
"Nesse momento em que está se discutindo usar reserva para programa social ou para abater dívida, tem alguém aqui na fila dizendo que existem outras prioridades", disse. "A exportação é a única saída para o parque industrial brasileiro se recuperar", completou.
Na prática, o Aço Brasil defende a retomada, de 0,1% para 3%, da alíquota do Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para as Empresas Exportadoras (Reintegra). O ideal, aponta Lopes, é a alíquota entre 6% e 7%.
Questionado sobre o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, Lopes afirmou que a postura do Aço Brasil é "apolítica".
Fonte: Valor Econômico/Rodrigo Polito | Do Rio