A crise econômica e os efeitos da operação Lava-Jato levam os operadores portuários a revisar suas perspectivas de faturamento, de movimentação de cargas e seus limites de cobertura contratados, o que naturalmente resulta em redução dos valores de seguro nesse segmento, que já sofre perdas com suspensão de investimentos. Esse cenário aumenta a concorrência em uma carteira que conta com praticamente meia dúzia de seguradoras especializadas e torna o corretor um importante mediador para se conseguir um programa com coberturas abrangentes, franquias num patamar aceitável e um preço que caiba no orçamento.
Uma boa parte da receita do mercado segurador nesta carteira vinha dos investimentos na área portuária, como a construção, ampliação e modernização de portos. Maria Helena Carbone, diretora da consultoria de riscos e corretora Aon neste nicho do mercado, afirma que ao contrário das demais áreas dos chamados seguros marítimos, como casco, clubes de P&I (proteção e indenização), construtor e reparador naval, o seguro de operador portuário não foi afetado pela crise ou pela Operação Lava-Jato. "A maioria dos terminais está movimentando mais do que no ano anterior, e a alta do dólar favorece a exportação. Estamos investindo bastante nesta área para os anos vindouros e apostando no seu crescimento. Cerca de 30% do mercado de marine é da Aon, incluindo casco e máquinas, construtor e reparador naval, bem como operador portuário", afirma.
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A principal apólice comercializada pelas seguradoras é a de responsabilidade civil, que garante os danos a terceiros, entre eles prejuízos a mercadorias, a navios, a pessoas e bens. Também há cobertura de danos físicos a bens do operador e perda de receita, responsabilidade civil do empregador, danos morais, danos elétricos e quebra de máquinas. Felipe Smith, diretor de riscos corporativos da Tokio Marine, uma das seguradoras com apetite pelo segmento, afirma ser um nicho para poucos. "Não há muitos acidentes, mas quando eles ocorrem, são de alta severidade e podem envolver vários clientes, além do porto, bem como requisitar apólices de outras carteiras, como patrimonial, transporte, lucro cessante", explica.
O que preocupa resseguradores como o IRB Brasil Re é que muitos operadores estão fazendo concorrência entre corretores de seguro, seguradoras e corretores de resseguro no momento da renovação de contratos. "O seguro de operador portuário é ramo com alta severidade. Uma redução de prêmio sem uma justificativa técnica, somente em função de ganhar o risco, pode comprometer seriamente o resultado das carteiras futuramente", diz Paul Connoly, vice-presidente de resseguros do IRB, um dos líderes do segmento.
Os poucos investimentos são disputados acirradamente por todos. No radar dos corretores está o Porto de Açu, no Estado do Rio de Janeiro, que terá um novo terminal portuário em São João da Barra, no norte fluminense. A obra receberá investimento de R$ 610 milhões e poderá gerar até 25 mil empregos diretos e indiretos. "Além do operador portuário, permanecem no nosso radar alguns investimentos que saem das gavetas", como cita Ricardo Ciardella, especialista de portos da JLT.
Hélio Novaes, CEO da corretora MDS, uma das principais do segmento, afirma que esse segmento voltará a crescer. Quanto maior a economia, mais cresce o movimento em portos e, consequentemente, os investimentos."
Até 2042, dentro do Plano Nacional de Logística Portuária, o Estado do Rio deverá receber R$ 7,8 bilhões, o equivalente a 15% dos investimentos portuários previstos para o país, que somarão R$ 51 bilhões.
Enquanto driblam a crise, corretores dão sugestões do que poderia ser melhorado no mercado, que não disponibiliza cobertura adequada no que diz respeito ao seguro de responsabilidade civil de armadores e afretadores. "Este seguros são colocados diretamente no mercado externo, onde duas opções se colocam dependendo do trade e do tamanho da embarcações", afirma Maria Helena, citando o sistema de mútuo do International Group, formado por 13 clubes; e o mercado de preço fixo, com algumas limitações de valor e tamanho de embarcações.
Fonte: Valor Econômico/Denise Bueno | Para o Valor, de São Paulo