A disparada do dólar, que superou ontem a barreira dos R$ 4, fez o endividamento da Petrobras explodir. De acordo com dados do Valor Data e de analistas do setor, a variação de 28% da moeda estrangeira sobre o real no acumulado do terceiro trimestre até a última segunda-feira aumentou em cerca de R$ 70 bilhões a dívida da petroleira no período. O valor é superior ao montante de US$ 15,1 bilhões (cerca de R$ 60 bilhões) que a companhia espera obter entre 2015 e 2016 com o plano de desinvestimentos, principal arma da empresa para reduzir a alavancagem.
Não por acaso, o impacto negativo provocado pela variação cambial ofuscou a notícia sobre o avanço nas negociações com a japonesa Mitsui para a venda de 49% da participação da Petrobras em ativos de distribuição de gás natural no país, conforme fato relevante divulgado ontem pela estatal, e puniu as ações da companhia no mercado. O papel ON fechou o pregão da BM&FBovespa com queda de 3,13%, negociado a R$ 8,35, e as ações preferenciais recuaram 4,52%, cotadas a R$ 6,97.
"O aumento do dólar tem um efeito brutal para o endividamento da Petrobras", afirmou um analista de um grande banco de investimentos do país, que pediu para não ser identificado.
"[A Petrobras] É a maior dívida corporativa do mundo", afirma Flavio Conde, da consultoria WhatsCall
Segundo ele, considerando que cerca de 80% da dívida líquida da companhia, de R$ 324 bilhões no fim do segundo trimestre, eram em dólar, o efeito da variação da moeda estrangeira no acumulado do terceiro trimestre é da ordem de R$ 70 bilhões. "A Petrobras está em uma sinuca de bico", completou o analista.
A opinião é compartilhada por Flavio Conde, da consultoria WhatsCall. "Esse dólar a R$ 4 já faz a dívida bruta da Petrobras superar os R$ 500 bilhões. É a maior dívida corporativa do mundo", destacou o especialista.
"A variação do dólar vai afetar o resultado da Petrobras no terceiro trimestre", disse Bruno Piagentini, analista da Coinvalores.
Com relação à negociação da participação em distribuidoras de gás natural, a Brasil Plural avalia que a totalidade dos ativos de distribuição de gás da Petrobras some entre US$ 2,5 bilhões e US$ 3 bilhões. No entanto, a venda de uma fatia minoritária pode incluir algum desconto, reduzindo o lucro com a venda.
Em comentário enviado a investidores ontem, Caio Carvalhal, analista da Brasil Plural, avaliou que a venda da participação nas distribuidoras de gás para a Mitsui vai ajudar a Petrobras a levantar caixa, depois que a venda da BR Distribuidora foi adiada.
O especialista também considerou positiva a redução de 20% nos investimentos previstos pela Petrobras neste ano, conforme antecipado ontem pelo Valor. A casa de análise calculava que a petrolífera precisava reduzir os investimentos previstos para este ano em 30% e para 2016, em 18%, a fim de combinar a geração de fluxo de caixa com os aportes.
Piagentini, da Coinvalores, também avaliou que, isoladamente, o anúncio da negociação ente a Petrobras e a Mitsui é um fato positivo e indica um avanço no plano de venda de ativos da companhia, que pretende levantar US$ 57,7 bilhões até 2019.
Já o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, considerou o negócio um equívoco. Segundo o especialista, a venda de uma participação minoritária no negócio minimiza o valor dos ativos.
"A Petrobras está vendendo [a participação no negócio de distribuição de gás] para fazer frente à dívida. Seria importante maximizar o valor do ativo. Mas a venda de uma participação minoritária não maximiza [o valor]", disse Pires.
Para o diretor do CBIE, a Petrobras também poderia segregar o processo, vendendo um grupo de distribuidoras por região. A medida, avaliou, atrairia mais investidores, geraria mais concorrência e possibilitaria preços mais elevados para os negócios.
De acordo com o fato relevante divulgado ontem, a Petrobras e a Mitsui estão em "negociação final" para a venda de 49% da holding que consolidará as participações da estatal nas distribuidoras estaduais de gás natural.
No documento, a companhia não forneceu mais detalhes sobre a operação em curso, nem indicou uma previsão para a conclusão do negócio. Procurada pelo Valor, a companhia não respondeu aos questionamentos.
A estatal tem participação em 19 distribuidoras, localizadas em 18 Estados e no Distrito Federal.
Fonte: Valor Econômico/Rodrigo Polito, Camila Maia e Daniela Meibak | Do Rio e de São Paulo
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