Em depoimento ao juiz Sergio Moro, responsável pela Operação Lava-Jato, a funcionária da Petrobras Lizarda Yae Igarasi afirmou que o ex-diretor da estatal Renato Duque era “muito poderoso” e “mandava muito na companhia”. Lizarda afirmou que sob influência de Duque a petrolífera cancelou a licitação de 19 sondas, sob a justificativa de preço alto, mas depois comprou 28 sondas por meio da Sete Brasil por um preço semelhante.
A funcionária da Petrobras coordenou uma comissão de licitação para a compra de 19 sondas. No depoimento prestado nesta segunda-feira, Lizarda evitou responder quando foi questionada se houve influência de Duque, ex-diretor da Petrobras da área de Serviços da estatal, para beneficiar alguma empresa em contratos da Petrobras. No entanto, citou o episódio do cancelamento da licitação da compra das 19 sondas, que foi substituído pela compra de um número ainda maior de equipamentos da Sete Brasil, com “preços muito similares”. Ao comparar os preços das duas licitações, Lizarda disse que os da primeira, sem influência de Duque, “eram bem razoáveis”.
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“O que foi contratado da Sete [para a compra de 28 sondas] é muito semelhante ao que foi cancelado, das 19 sondas”, disse. Lizarda afirmou que a equipe técnica da Petrobras tinha “restrições ao projeto da Sete”, sobretudo em relação ao prazo previsto para a entrega das sondas e a quantidade de equipamentos comprados pela estatal. “Foi feita grande propaganda da Sete Brasil, pela área de Finanças [da Petrobras], de que todo o dinheiro do financiamento da Sete era acordado, resolvido e que tinha dinheiro. Acabou não acontecendo. O financiamento do BNDES e de bancos particulares não aconteceu”, disse.
Segundo Lizarda, o processo de compra das 28 sondas escolhido por Duque possibilitava o aumento do preço até a entrega dos equipamentos, diferentemente do processo previsto pela licitação anterior, das 19 sondas. “Prevaleceu a posição da área de serviços”, disse, referindo-se ao setor de atuação de Duque.
Ex-diretor da área de Serviços da Petrobras, Duque foi preso na 10ª fase da Lava-Jato, em 2015, acusado pelo Ministério Público Federal de desviar pelo menos R$ 650 milhões em propinas. Duque deve ser ouvido por Moro em 17 de abril. “Ele tinha forte noção de que Duque era muito poderoso na companhia. Ele mandava muito na companhia”, afirmou Lizarda, funcionária da Petrobras desde 2004 e arrolada como testemunha pela defesa do ex-diretor.
Duque responde a processo por fraude em processo licitatório, lavagem de dinheiro, associação criminosa, uso de documento falso, corrupção passiva e corrupção ativa.
Em depoimentos a Moro, os funcionários da Petrobras José Luis Roque e Eberaldo de Almeida Neto também relataram o alto preço das sondas registrado na licitação de compra de 19 sondas, com valores acima da média do mercado.
Fonte: Folha