A Petrobrás projeta uma recuperação gradual do preço do petróleo nos próximos cinco anos, até voltar ao patamar de US$ 50 por barril – o dobro da cotação média projetada para este ano, de US$ 25. Com a melhora de cenário, deve cair também a dívida da empresa, de US$ 87 bilhões para US$ 60 bilhões, segundo o presidente da companhia, Roberto Castello Branco, que ontem reiterou o foco de novos investimentos no pré-sal.
Segundo ele, a diretoria avalia os projetos viáveis nesse período de crise. Alguns vão ser reestruturados para se adequarem à cotação mais baixa do barril (ontem, o tipo Brent fechou a US$ 35 o barril), outros vão ser suspensos e até mesmo cancelados.
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Em meio à pandemia do novo coronavírus e da queda abrupta do preço da commodity, a Petrobrás reagiu com corte de US$ 3,5 bilhões do seu investimento anual, que passou de US$ 12 bilhões para US$ 8,5 bilhões. Com o trabalho de revisão dos ativos, a estatal espera definir os que geram mais ganhos sobre o capital investido, que tenham menos riscos e, ao mesmo tempo, sejam economicamente viáveis.
“Tem uma questão de alocação de capital. O que você prefere: investir num campo do pré-sal que pode gerar um retorno real em torno de 15% ou investir numa operação de varejo (de combustíveis), que dá um retorno sobre capital empregado de 6% a 7%? O capital é escasso”, afirmou Castello Branco, em entrevista virtual promovida pela Genial Investimentos.
O principal ativo da empresa hoje é o campo de Búzios, localizado no pré-sal da Bacia de Santos e adquirido no ano passado no leilão de áreas excedentes da cessão onerosa. Esse reservatório é complementar a outro concedido à estatal em 2010, logo depois de a empresa descobrir o pré-sal e anunciar sua viabilidade técnica e econômica. Búzios é o maior campo já descoberto no mundo. Assim como esse, devem ser priorizados reservatórios de grande dimensão, baixo risco e custo de extração do petróleo próximo a US$ 3 por barril.
A empresa já anunciou o fechamento de pelo menos 62 plataformas no início de abril, com a justificativa de que o retorno econômico da produção onde estão instaladas não justifica a continuidade da operação. A maior parte está localizada em campos em terra, alguns deles já em fase de declínio, e em águas rasas. Mas há também campos na Bacia de Campos, no litoral do Estado do Rio de Janeiro.
Muitos desses ativos já eram considerados inviáveis pela empresa e tinham sido incluídos no programa de privatizações. Mas, com a crise, mesmo sem compradores à vista, foram desmobilizados.
Também está no radar a venda e, alguns casos, o fechamento de subsidiárias, principalmente daquelas consideradas inadequadas ao perfil da estatal – uma petroleira focada na exploração e produção de petróleo e gás, sobretudo no pré-sal. Em fevereiro, foi anunciado encerramento da atividade da fábrica de fertilizantes Araucária Nitrogenados, no Paraná. A demissão de centenas de funcionários motivou a realização de uma greve pelos sindicatos. Já a privatização completa da companhia foi descartada por Castello Branco.
‘Rigor’
“Comparando com outras operadoras, a Petrobrás foi bastante rigorosa no ajuste de ativos. Considero que essa será uma justificativa para focar no pré-sal e enxugar investimentos e gastos com empregados. Mas, se o preço se recuperar, como alguns cenários apontam, a empresa poderá se reposicionar”, afirma Luciano Losekann, especialista em petróleo e gás natural e professor da Faculdade de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Para ultrapassar a fase atual, a empresa está reduzindo custos e dívida. Contratos estão sendo renegociados com fornecedores, principalmente com os de maior porte, que, segundo Castello Branco, têm mais capacidade de resistir à crise. A meta financeira para o ano, relativa à dívida, “é impossível de ser atingida”, afirmou o executivo na entrevista. A Petrobrás planejou fechar o ano com o mesmo patamar de compromisso de pagamento a credores de 2019, de US$ 87 bilhões.
Há uma expectativa de retomar medidas de retração da dívida no começo do ano que vem, mas isso vai depender do ambiente econômico mundial.
Fonte: Estadão