Estudo cria índex de riscos para negócios em país que produz commodities

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Um estudo apresentado ontem em São Paulo aponta que as pressões sobre os recursos naturais podem interferir nas metas de investimentos e desenvolvimento se as empresas e governos limitarem-se a olhar para o seu próprio quintal - deixando escapar o panorama geral do planeta.

Elaborado pela ONG Earth Security Group, de Londres, o estudo foi encomendado por um grupo heterogêneo de stakeholders interessados em antecipar riscos, incluindo o governo da Suíça, a Fundação BMW e a trading Olam, uma das maiores na Ásia. Em vez de prever possíveis prejuízos para setores econômicos, o estudo transforma em índex as atuais pressões sobre recursos naturais e governança capazes de dominar a agenda nos emergentes. O trabalho analisou o risco combinado em nove economias: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, México, Indonésia, Nigéria e Turquia.

Em todos eles, a poluição e a falta de água, assim como os conflitos envolvendo o uso da terra e a estabilidade de oferta energética destacam-se como pressões graves, com impacto direto nos negócios.

Sua principal conclusão é que as multinacionais não podem mais agir isoladamente - é preciso de uma nova "diplomacia empresarial", capaz de atuar junto a governos e avançar na compreensão da interdependência global dos recursos.

Intitulado "Gerenciamento de riscos e resiliência no Século 21", o documento empresta para o meio ambiente a relação de causa e efeito aplicada à economia - segundo a qual um espirro na China tem o potencial de provocar uma pneumonia no Brasil.

Nesse contexto, commodities globais como milho, arroz, soja, óleo de palma, petróleo e gás, madeira e cacau estão cada vez mais expostas a pressões nos países produtores. Conflitos em um país provocam riscos em todo o mundo, em razão da grande integração das cadeias de produção.

O estudo mostra, por exemplo, os riscos que a demanda crescente da China por soja pode ter (ou já tem) no Brasil, mais notadamente no aumento das taxas de desmatamento que a expansão das lavouras tende a levar. Ou ainda nos riscos que a poluição, a seca e a falta de infraestrutura na Costa do Marfim, o maior produtor mundial de cacau, impõem à indústria de chocolate.

"O que governos e empresas estão fazendo não é suficiente. Pegue o exemplo dos chocolates. Não estamos falando de um cenário 2025, mas de uma falta de cacau em cinco anos. Que impacto isso terá para a Suíça? ", questionou o pesquisador Alejandro Litovsky, CEO do Earth Security Group, em apresentação na sede brasileira da Cargill, em São Paulo. "E voltando à soja brasileira. O governo chinês já tornou claro que a limitação de água no país deverá priorizar o plantio de alimentos destinados à população. O resto será comprado. Qual o impacto disso no desmatamento do Brasil?"

Segundo Litovsky, não são apenas os impactos diretos que preocupam mas também o efeito dominó sobre outros países. Apesar os esforços de controle da produção no Brasil, a demanda chinesa por grãos e gargalos de logística acabaram empurrando a soja também para Paraguai e Argentina, onde o custo de produção é mais baixo e as regulamentações ambientais e sociais mais frágeis.

As pressões de sustentabilidade sobre os emergentes ampliarão os riscos globais, mas trazem oportunidades de inovação. "É preciso ir além da ética e regras globais. As empresas têm de fazer mais para reduzir sua exposição a tensões geopolíticas usando diplomacia de negócios para promover a inovação da sustentabilidade", disse. "Precisarão influenciar a política para a sustentabilidade. Não há como fugir disso".

Fonte: Valor Econômico/Bettina Barros | De São Paulo






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