Os EUA esperam que até 4 de novembro todos os países reduzam a "zero" as importações de petróleo iraniano - ou ficarão sujeitos a sanções, disse ontem um alto funcionário do Departamento de Estado, expressando um endurecimento da política do governo Donald Trump em relação ao Irã. O objetivo de Washington é isolar Teerã política e economicamente.
Os compradores do petróleo iraniano esperavam que os EUA concedessem mais tempo para reduzirem suas importações de petróleo, isentando de sanções os países que fizessem esforços significativos para cortar suas compras. Essa expectativa era baseada em comentários anteriores de altos funcionários do governo Trump, bem como na decisão anterior do governo de Barack Obama, de suprimir a dependência mundial em relação ao petróleo iraniano ao longo de vários anos.
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Mas uma autoridade do Departamento de Estado disse ontem que Washington não pretende admitir quaisquer isenções e que, em vez disso, pedirá a outros exportadores de petróleo do Oriente Médio, nos próximos dias, que assegurem o suprimento da commodity para os mercados mundiais.
Os preços do petróleo subiram 3% imediatamente após a notícia. Em Nova York, o petróleo tipo WTI fechou a US$ 70,53 o barril, uma alta de 3,6%. Em Londres, o Brent avançou 2,1% e fechou a US$ 76,31.
Os preços do petróleo atingiram o nível mais alto desde maio, quando Trump anunciou a saída dos EUA do acordo nuclear de 2015 firmado com o Irã e o governo americano restabeleceria sanções contra um dos maiores exportadores de petróleo.
"Certamente vamos demandar que até 4 de novembro as importações de petróleo dos países sejam zeradas sem questionamentos", disse o funcionário. Embora o governo não descarte admitir isenções no futuro, continuou, sua predisposição é: "Não, não vamos admitir isenções". "Vemos isso como uma de nossas principais prioridades de segurança nacional."
Duas semanas atrás, Andrew Peek, subsecretário-adjunto de Estado para o Irã e o Iraque, disse a repórteres que os EUA estavam dispostos a conceder isenções se os países fizessem grandes reduções na importação de petróleo iraniano. "[Os cortes] precisam ser significativos, mas provavelmente vão variar de país para país", disse ele.
Nos últimos dias, altos funcionários dos departamentos de Estado e do Tesouro viajaram pelo mundo para persuadir outros países a reduzir o consumo de petróleo iraniano e avisá-los que quaisquer empresas, bancos ou comerciantes que negociam o petróleo iraniano estarão sujeitos a penalidades, inclusive o risco de serem impedidos de acessar mercados americanos. O alto funcionário do Departamento de Estado disse que aliados na Europa e na Ásia já haviam sido advertidos, e que viagens à China, Índia e Turquia estão em andamento.
Governos estão sendo advertidos de que o secretário de Estado, Mike Pompeo, e a Casa Branca "não estão brincando quanto a isso". A China e a Índia, dois dos maiores compradores do petróleo iraniano, "estarão sujeitos às mesmas sanções que todos os outros, caso se envolvam com esses setores da economia".
Tóquio já recebeu o pedido de Washington para deixar de importar petróleo do Irã, segundo fontes de Washington. O Irã é o seu sexto maior fornecedor de petróleo do Japão, representando 5,5% do total importado. Mesmo antes das suspensão das sanções americanas em virtude do acordo nuclear de 2015, ainda durante o governo de Barack Obama, o Japão importava petróleo do Irã na mesma escala, o que ajudou a construir uma relação amigável com o país.
O governo Trump, ao deixar o acordo nuclear e restabelecer as sanções contra a economia iraniana, atingiu não apenas a indústria do petróleo, mas também o sistema bancário, de transporte, comércio e de seguros. O objetivo declarado de Washington é obrigar Teerã a rever radicalmente sua postura militar e nuclear na região.
A relutância dos bancos em negociar com o Irã já está afetando as exportações de petróleo do país. As exportações caíram para uma média de 2,2 milhões de barris por dia, em comparação com 2,7 milhões de barris diários em maio, segundo a Vortex, empresa de consultoria com sede em Londres. No início deste mês, a Indian Oil Corp, maior refinadora no país, disse estar considerando cortar as importações de petróleo iranianas, após uma decisão do estatal State Bank of India de suspender os negócios com Teerã.
Refinarias europeias, que compram cerca de um terço das exportações de petróleo iranianas, também estão abandonando o mercado. A italiana Saras está considerando parar de comprar petróleo iraniano porque seus bancos não querem financiar essas operações mesmo antes do limite de 4 de novembro, segundo funcionários. A companhia disse na semana passada não haver tomado uma decisão final. Refinarias europeias dizem que já começaram a comprar mais petróleo da Arábia Saudita, Rússia e Iraque para compensar as reduções nas compras de petróleo iraniano. (Com agência Nikkei)
Fonte: Valor