Após recuar em janeiro e fevereiro, o indicador de incerteza do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV) voltou a aumentar em março e ultrapassou mais uma vez a barreira de 120 pontos, nível considerado muito elevado. Acima de 110 pontos, afirma o economista Pedro Costa Ferreira, a incerteza tem impacto negativo direto sobre os investimentos.
Entre janeiro e fevereiro, o Indicador de Incerteza da Economia (IIE-Br) recuou de 127,3 para 118,8. Neste mês, subiu a 122,7 pontos. "Houve uma melhora das expectativas no início do ano, um movimento captado inclusive pelas sondagens de confiança. Mas seria preciso muito mais para que a tendência de redução da incerteza fosse sustentável", diz Ferreira.
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De um lado, cresceram as dúvidas em relação à política monetária americana, diante dos efeitos ainda desconhecidos sobre a economia das medidas que o presidente Trump pretende implementar. Internamente, o Brasil viu o cenário para a aprovação das reformas trabalhista e previdenciária ficar mais turvo, além da possibilidade mais concreta de julgamento da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
"No curto prazo, é difícil esperar que a incerteza caia a um nível compatível com o aumento consistente do investimento privado", diz o economista do Ibre-FGV.
Uma redução pronunciada da incerteza, avalia Ferreira, com efeito benigno sobre a atividade, passaria pela aprovação da reforma da Previdência, por uma sinalização de reforma política e pela adoção de medidas voltadas para as classes mais pobres, uma tentativa de criar maior "paz social". "Para a sociedade, fica esse sentimento [diante das reformas] de que só se estão retirando direitos. Isso causa instabilidade."
O avanço do IIE-Br em março foi puxado especialmente pelo componente de expectativas, influenciado, por sua vez, por incertezas em relação ao câmbio. A elevação de preço de algumas commodities e a expectativa de safra recorde poderiam valorizar ainda mais o real, enquanto a não aprovação da reforma das aposentadorias e a possibilidade de cassação da chapa Dilma-Temer - por ora apenas riscos no cenário - provocariam desvalorização da moeda. "São vetores contrários", diz o economista.
O aumento da incerteza contrasta com o avanço expressivo da confiança da indústria em março, conforme os dados da sondagem divulgados também ontem pela FGV. Nesse sentido, o economista esclarece que o período de coleta das duas pesquisas é diferente - o indicador de incerteza conseguiu captar a repercussão da Operação Carne Fraca, por exemplo, quando o período de coleta da sondagem já havia terminado - e o IIE-Br leva em conta a economia como um todo, e não apenas um setor, e que ele é um indicador "mais neutro" de expectativas, enquanto a sondagem leva em conta o "espírito animal" do empresário.
O IIE-Br é formado por três indicadores: o IIE-Mídia, que acompanha o tema no noticiário, o IIE-Expectativa, que verifica as variações de expectativa de inflação e câmbio no boletim Focus, do Banco Central, e o IIE-Mercado, que mede a volatilidade do mercado financeiro com base no Ibovespa.
Fonte: Valor