A decisão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) de apenas se limitar às cotas de produção definidas há quase dois anos garante que não haja exagero por excesso, nem por omissão, opinam especialistas. Ao mesmo tempo, se a determinação for cumprida, os países podem garantir o fornecimento mundial de petróleo sem comprometer o consumo ou reduzir as receitas por causa dos preços.
Hoje, contudo, com a resolução mais clara tanto dos membros do cartel quanto da Rússia, a cotação da commodity reage negativamente apesar de boa parte do aumento na oferta já estar na conta prévia dos investidores. O Brent com vencimento em setembro recuava 1,46% há pouco na ICE Futures de Londres, para US$ 74,22 o barril, enquanto o WTI do mesmo mês caía 0,78% na Nymex, de Nova York, para US$ 67,10.
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Essa reversão de tendência do preço derruba hoje o valor de mercado das principais petrolíferas em todo o mundo. As ações da Royal Dutch Shell recuaram 3,09% hoje na bolsa de Amsterdã, cotadas a 28,85 euros, enquanto as da BP caíram 3,4% em Londres, para 5,57 libras esterlinas (US$ ). Na Nyse, bolsa de Nova York, os papéis da Chevron tinha queda de 2,13% há pouco, para US$ 122,43, enquanto os da Exxon Mobil perdiam 1,83%, para US$ 79,85 cada.
No entanto, para o banco Credit Suisse, a decisão é melhor do que se esperava. Os analistas calculam que o consenso do mercado girava em torno de 1,2 milhão de barris por dia de crescimento na produção, sendo que o acordo significa aumento de 1 milhão de barris. Esse volume acertado é exatamente o quanto a instituição projeta existir de déficit no mercado internacional.
A Petrobras era ponto fora da curva: na B3, suas ações ordinárias subiam 0,45%, para R$ 17,84, e as preferenciais avançavam 1,32%, para R$ 15,31.
O Credit ainda aposta em nível de US$ 71 para o Brent e de US$ 66 para o WTI no fim do ano, principalmente porque o efeito imediato que espera é de avanço em apenas 600 mil barris na produção. Para o banco, ainda haverá um saque de 500 mil barris diários nos estoques durante o segundo semestre.
O Bank of America Merrill Lynch (BofA) também ressalta que a previsão era de aumento em 1,2 milhão de barris. A instituição ressalta que muitos membros da Opep não conseguirão acelerar a atividade de extração e uma ociosidade do parque é estrutural, pela falta de investimento nos últimos anos. Até o segundo trimestre do ano que vem, o BofA estima que o Brent atinja US$ 90.
Em relatório, a consultoria Wood Mackenzie, especializada no setor petrolífero, comenta que a decisão da Opep ajuda a diminuir a instabilidade do mercado internacional e, consequentemente, a impedir movimentos bruscos na cotação. Para Ann-Louise Hittle, vice-presidente para análise do setor, encontrou-se o equilíbrio entre atender aos consumidores, que reclamavam da commodity mais cara, e ao balanço fiscal dos países produtores.
Mesmo os especialistas mais pessimistas não creem em grande excesso de oferta com a decisão da Opep e de seus aliados. Thomas Pugh, economista da Capital Economics, declara que o aumento de 1 milhão de barris deixa o mercado “bem suprido”. Países como Venezuela, Irã e Angola, por exemplo, dificilmente terão como elevar a oferta, então a situação só se complicaria no ano que vem, com a desaceleração da demanda mundial.
A projeção oficial da Capital Economics para o preço do Brent no fim de 2018 é de US$ 65. “Mas se houver uma queda muito forte na produção de Irã e Venezuela, certamente haverá um repique para cima nesse nível”, conclui Pugh.
Fonte: Valor