A forte alta do minério de ferro surpreendeu o mercado ontem, quando o preço da commodity no porto de Tianjin, na China, bateu em US$ 62,60 por tonelada, o maior nível desde junho do ano passado. O aumento, 19,5% em um único dia em relação aos US$ 52,40 por tonelada de sexta-feira, segundo dados do The Steel Index, foi histórico no setor. Os especialistas receberam a alta com cautela e indicaram que esse nível pode não ser sustentável nos próximos meses em razão do desequilíbrio que ainda existe entre oferta e demanda. Entre os bancos, há previsões de preços médios para a matéria-prima entre US$ 40 e US$ 45 a tonelada, na média de 2016.
A alta do minério foi uma resposta positiva a declarações de autoridades chinesas, que disseram no fim de semana que vão perseguir o crescimento econômico neste ano. Na sessão anual do Congresso Nacional do Povo, sábado, foi anunciada meta de crescimento para o país entre 6,5% e 7%. Os líderes chineses sugeriram ainda que estão tentando evitar um aumento da dívida ou bolhas de ativos. As ações das grandes mineradoras refletiram o otimismo: papéis de Rio Tinto subiram 3,5% e da BHP Billiton, 5%. Ações preferenciais da Vale tiveram alta de 6,93%.
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Desde o início do ano, os preços da matéria-prima, negociados no mercado à vista chinês, tiveram aumento de 46,8%.
O aumento dos preços neste começo de ano vem sendo motivado por uma combinação de fatores. O primeiro trimestre de 2016 costuma ser mais fraco em termos de oferta por questões sazonais. Além disso, houve atraso na entrada de nova oferta da australiana Roy Hill. A Samarco também contribuiu para um ambiente mais favorável - menos 30 milhões de toneladas. Embora o acidente da mineradora tenha ocorrido em novembro de 2015, a suspensão das atividades se refletiu, na oferta, em fevereiro.
Outro fenômeno que influencia os preços é o mercado de opções (financeiro) do minério de ferro, maior do que o mercado físico da commodity, apontou Marcos Assumpção, analista do Itaú BBA em encontro com investidores no Rio. Nesse cenário, a melhoria das expectativas com mudanças na economia da China influencia os preços da commodity. O banco previa até semana passada um preço médio no mercado à vista da China de US$ 40 este ano.
Para a analista Caroline Bain, da consultoria Capital Economics, a recente valorização do minério de ferro reflete uma recuperação da confiança em relação às commodities. Mas faz alerta para os principais elementos que pesam sobre os preços da matéria-prima: oferta e demanda em desequilíbrio.
"O anúncio do congresso chinês certamente contribui para esse aumento na confiança por commodities, pois o país continua a ter como meta um forte crescimento de 6,5% a 7%", diz Caroline. Além disso, os investimentos em moradia popular devem impulsionar a procura por aço, e consequentemente a demanda pelo minério de ferro. Mas alerta que as grandes produtoras - Vale, Rio Tinto, BHP - principalmente, continuam com projetos de expansão, levando a excesso de oferta no mercado global.
Do lado da demanda, um alívio pela maior procura por aço pode ajudar, mas a siderurgia da China já produz muito mais do que precisa. "Para que os preços atuais do minério sejam sustentáveis, precisamos ver grandes cortes de capacidade de produção das mineradoras de alto custo", afirma.
Em relatório, o UBS considerou a alta do minério um movimento "emocional". Para os analistas internacionais do banco, não há ainda fundamentos. Afirmaram que a demanda por aço na construção e na infraestrutura da China continua enfraquecida. "Está no seu auge e o excesso de oferta de minério ainda vai crescer no médio prazo".
O Goldman Sachs afirmou que a recuperação das margens na indústria de aço chinesa, que ajudou a impulsionar a perspectiva de demanda e a estocagem de minério, provavelmente tem vida curta. O mercado local já está inchado. Mesmo que siderúrgica que pararam voltem a produzir, há limite na necessidade de minério, disse.
Fonte: Valor Econômico/Francisco Góes, Renato Rostás e Rodrigo Rocha | Do Rio e São Paulo