Novo executivo-chefe da Chevron promete conter gastos

Imprimir

Michael Wirth, novo presidente: "Bem-vindo ao negócio de petróleo: é assim, como sempre tem sido; os preços são difíceis de prever: é um mercado de commodity"

O novo executivo-chefe da Chevron, Michael Wirth, disse que a empresa planeja manter um controle rígido sobre os investimentos em bens de capital, apesar da alta do preço do petróleo nos últimos 12 meses e dos alertas quanto a valorizações ainda maiores nos próximos anos.


PUBLICIDADE



A petroleira americana precisar ser capaz de cobrir seus dividendos usando o fluxo livre de caixa gerado por uma cotação do barril a US$ 50, bem abaixo do atual patamar de US$ 70 do Brent, disse Wirth, que assumiu o cargo em fevereiro, em entrevista.

Ele ressaltou a importância de privilegiar o controle de custos, o cumprimento dos orçamentos dos bens de capital e a geração de caixa para pagar os dividendos, em vez ficar buscando cada oportunidade de crescimento que passar pela frente da companhia.

"Aumentamos nosso pagamento de dividendos por 31 anos consecutivos", disse Wirth. "Nossos acionistas sabem disso e valorizam isso."

O declínio dos investimentos em petróleo depois da queda livre das cotações em 2014 tem alimentado um coro cada vez maior de alertas de analistas e executivos sobre descompasso da atual produção mundial, incapaz de acompanhar o ritmo de crescimento da demanda. O cenário resultante da falta de petróleo no mercado seria um de preços nas alturas nos próximos dez anos.

Wirth admitiu a possibilidade. "Bem-vindo ao negócio de petróleo: é assim, como sempre tem sido", afirmou. "Os preços são difíceis de prever: é um mercado de commodity."

Seu objetivo, no entanto, é "ganhar em qualquer cenário", acrescentou, e ele acredita ainda ter trabalho pela frente para tornar a Chevron mais competitiva para os tempos em que os preços estiverem baixos. "Vamos ver preços mais altos do que estão hoje e vamos ver preços mais baixos do que estiveram no passado [...] E precisamos ter um portfólio que seja resiliente."

"Provamos que conseguimos sobreviver aos [preços do barril a] US$ 50. O desafio para nossa organização é: como se lucra aos US$ 50?", pergunta o executivo.

Da mesma forma que seus colegas Darren Woods, na ExxonMobil, e Ben van Beurden, da Royal Dutch Shell, Wirth passou a maior parte da carreira em operações mais próximas ao refino e comercialização do que à produção de petróleo e gás, antes de ser escolhido em 2017 para substituir John Watson com executivo-chefe.

Essas operações de pós-produção do petróleo normalmente recompensam estilos administrativos mais cuidadosos e parcimoniosos do que os mais ambiciosos e carregados de riscos. Wirth reconhece que o histórico de carreira dele influencia sua abordagem.

"Os custos sempre são importantes, a disciplina de capital sempre é importante. Segurança, execução e confiabilidade sempre são importantes", afirmou.

A companhia teve um início lento no xisto, mas agora, afirma Wirth, a petrolífera recuperou o terreno perdido

Há evidências dessa mentalidade no contraste entre as estratégias de investimento em bens de capital da Chevron e da ExxonMobil. A rival americana atualmente planeja aumentos constantes nos investimentos em máquinas e instalações, que vão passar de US$ 23,1 bilhões, em 2017, para US$ 28 bilhões, em 2019, e para cerca de US$ 30 bilhões por ano, a partir de 2023.

Wirth, por outro lado, pretende gastar entre US$ 18 bilhões e US$ 20 bilhões por ano até 2020, um ligeiro recuo em comparação ao antigo plano de investimentos de Watson, de US$ 17 bilhões a US$ 22 bilhões.

"Temos indicado que vamos manter as despesas de capital estáveis. Estamos em um cenário de preços mais altos, [mas] não mudamos nosso orçamento de capital e não acredito que o façamos", disse Wirth.

"Não vamos financiar projetos quaisquer. Vamos ter projetos que atendem nossas exigências econômicas, mas que vamos optar por não financiar porque vamos ter opções melhores."

O analista Paul Sankey, do Mizuho, comentou em junho que a Chevron estava em seu melhor ponto em vários anos. O volume de produção deve subir em média cerca de 6% ao ano até 2020, graças aos investimentos nos últimos dez anos, embora agora tenha cortado pesadamente os gastos em bens de capital.

Para uma grande petrolífera internacional, o ritmo de expansão é elevado e supera o da ExxonMobil, que foi obrigada a elevar as despesas de capital "para compensar volumes que estão suando para crescer", disse Sankey.

A preferência de Wirth vai inclinar-se a investimentos como a expansão de US$ 37 bilhões no gigantesco campo petrolífero de Tengiz, no Cazaquistão, e o plano para impor um rápido crescimento na Bacia Permiana do Texas e do Novo México, uma região onde a Chevron é dona de terras há décadas e que nos últimos anos se tornou o núcleo da onda avassaladora do petróleo de xisto nos EUA.

A Chevron teve um início lento no xisto. Como o próprio Wirth admite, o ímpeto inicial ficou a cargo das pequenas e médias empresas, mais ágeis e inovadoras e com custos menores. Agora, no entanto, ele diz que a Chevron recuperou o terreno perdido e seu enorme tamanho vem se tornando uma vantagem em vez de um ponto fraco.

Sua produção na Bacia Permiana no fim de 2017 era de 200 mil barris de petróleo equivalente (BPE) por dia. No fim de março, havia aumentado em 25%, para cerca de 250 mil BPE por dia. "O jogo do xisto está se tornando um jogo de escala", afirmou.

Gestão anterior foi ofuscada por estouros colossais em orçamentos e atrasos nos projetos de gás GNL na Austrália

"Agora, estamos em modo de perfuração industrial, no qual estamos perfurando centenas de poços. E tudo isso se trata de eficiências industriais. Pequenas melhorias em passos que você repete muitas vezes se tornam grandes melhorias", disse Wirth.

O resultado dessas melhorais, acrescentou, é que "um poço na Bacia Permiana é mais econômico do que qualquer outra coisa que possamos fazer", com taxas de retorno de mais de 30%, mesmo com cotações abaixo dos níveis de hoje. Embora a área esteja em crescimento, ainda precisa de financiamento do grupo. Wirth, contudo, projeta que vai estar gerando caixa em 2020.

Suas expectativas quanto à força de longo prazo do petróleo de xisto nos EUA reforçam a ênfase do executivo na necessidade de ser cuidadoso nas decisões de investimento. Os projetos de petróleo que tenham custos de desenvolvimento muito maiores do que o do xisto americano vão encontrar dificuldade para ser viáveis. "Agora, os projetos em mercados de fronteira, os investimentos mais arriscados [...] não são tão necessários", disse o executivo. "E acho que isso tem implicações para todos."

Para a Chevron, isso significa que cada projeto no qual investir vai ter que ser "o melhor em sua classe", afirmou. "Não pode ser apenas o tipo de projeto que você teria financiado no passado, porque temos conseguido opções melhores."

A petrolífera aprendeu algumas lições importantes, fruto da gestão anterior. Sob muitos aspectos, John Watson, executivo-chefe da Chevron de 2010 até fevereiro, teve uma liderança bem-sucedida e o desempenho das ações superou confortavelmente o da rival americana ExxonMobil.

Seu mandato, no entanto, foi ofuscado por estouros colossais nos orçamentos e atrasos em dois grandes projetos de gás natural liquefeito (GNL) na Austrália, os de Gorgon e Wheatstone. O custo combinado de ambos superou os orçamentos originais em US$ 22 bilhões. A Chevron teve que arcar com metade disso e suas parceiras, com a outra metade.

Wirth disse que a Chevron ficou "realmente satisfeita" em ter Gorgon e Wheatstone, que vão "proporcionar valor" aos "acionistas por dezenas de anos". Ele admitiu, contudo, que houve "várias lições" que a empresa vem aprendendo para evitar estouros similares de custos no futuro.

Um fator crucial, disse o executivo, é realizar uma preparação mais cuidadosa antes de se comprometer a fazer um investimento: avançar mais nos trabalhos iniciais de engenharia e assegurar que o local tenha toda a infraestrutura necessária instalada. Uma melhor preparação pode incluir "questões tão básicas como [ter] a alimentação e a moradia das pessoas toda organizada, para que não se tornem problemas", acrescentou.

Novas tecnologias também podem ajudar. A indústria de petróleo e gás requer o uso de dados em massa. A aplicação de novas tecnologias para analisar e usar esses dados está no topo da agenda de Wirth "para inovar em nosso caminho rumo a resultados mais econômicos", disse o executivo.

Mesmo com essas melhoras, entretanto, a Chevron não tem pressa em entrar em novos projetos gigantes que precisem ser iniciados a partir do zero, como os de Gorgon e Wheatstone. Seu maior projeto na atualidade é a expansão de um campo de petróleo já existente no Cazaquistão.

Fonte: Valor






   ICN
   Zmax Group
   Antaq
       

NN Logística

 

 

Anuncie na Portos e Navios

 

  Sinaval
  Syndarma
       
       

ECOBRASIL 2025 - RIO DE JANEIRO - RJ - INSCRIÇÕES ABERTAS - CLIQUE AQUI