Os bancos estão prevendo novo prejuízo para Petrobras no quarto trimestre e no ano de 2015, embora menor que o rombo histórico registrado no exercício anterior, quando a empresa contabilizou perdas por corrupção e o a interrupção de projetos bilionários na área de refino que resultaram em prejuízo de R$ 21,587 bilhões. Caso se confirme a previsão de fechar 2015 no vermelho, os acionistas ficarão pelo segundo ano seguido sem receber dividendos.
Analistas informam que está mais difícil prever os resultados da Petrobras, devido à falta de previsibilidade sobre os efeitos não recorrentes que devem afetar o resultado da estatal. Muitos que acompanham a empresa sequer escreveram relatórios e outros evitaram fazer projeções sobre impactos não recorrentes ou de baixas por perda do valor recuperável dos ativos, o chamado "impairment".
PUBLICIDADE
Mas há certo consenso de que a queda do preço do petróleo vai exigir novo "impairment" nos ativos de exploração e produção. Além disso, a derrota sofrida em um processo relevante no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) também pode trazer efeitos negativos para o resultado, se a empresa passar a considerar que a chance de perda na causa passou a ser "provável" e não só "possível".
A estatal começou a encerrar as atividades da refinaria Nansei Sekiyu K.K., no Japão, e apesar da baixa contábil de R$ 343 milhões relativa a esse ativo em 2014, o balanço do quarto trimestre do ano passado pode trazer novas baixas.
Sem considerar esses e outros efeitos não recorrentes que possam vir a afetar os números da companhia - como a contabilização dos recebíveis do setor elétrico -, a média das projeções coletadas pelo Valor com sete casas de análise (HSBC, BTG Pactual, Itaú BBA, Morgan Stanley, Raymond James, Brasil Plural e Credit Suisse) aponta um lucro de R$ 1,76 bilhão para a Petrobras no quarto trimestre. No mesmo intervalo de 2014, o prejuízo da estatal somou R$ 26,6 bilhões, devido principalmente às baixas por revisão do valor recuperável das refinarias de Pernambuco (Rnest), e Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), além de outras baixas de ativos de exploração e produção no Brasil e exterior no fim daquele ano.
"Temos argumentado que, tendo em vista o lucro operacional baixo registrado pela Petrobras nos primeiros nove meses do ano passado, os efeitos não recorrentes devem ser os principais 'drivers' do resultado de 2015", disseram os analistas do Credit Suisse.
Em relatório, o Credit Suisse lembrou que o barril do petróleo tipo Brent atingiu o patamar de US$ 35, em um contexto já duro para a estatal. A Petrobras enfrenta dificuldade para aumentar os combustíveis, redução da cobertura de exportações futuras, aumento das necessidades de financiamento e chances cada vez maiores da necessidade de uma grande baixa contábil.
O banco foi o único que arriscou uma previsão de R$ 7 bilhões por "impairment", além de efeitos da autuação do Carf, que soma R$ 5,9 bilhões e se refere a dois processos administrativos fiscais.
Na ponta positiva, o Brasil Plural lembra que a venda de 49% da Gaspetro por R$ 1,9 bilhão, concluída no fim de dezembro pela Petrobras, pode afetar positivamente os resultados. "No entanto, não está claro se a companhia vai considerar a venda nos seus resultados, devido à suspensão subsequente do negócio por um tribunal regional da Bahia", disse o banco.
As maiores atenções dos bancos estão voltadas para a venda de ativos e para a liquidez da estatal
Para a receita da estatal, a expectativa é de praticamente estabilidade na comparação anual. Apesar da queda contínua dos preços do petróleo, a Petrobras conseguiu ganhar com a desvalorização do real ante o dólar, ao manter os preços dos derivados com um prêmio na comparação com os preços internacionais.
A média das projeções indica receita de R$ 86,1 bilhões, alta de 1,25%. No caso do resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda), a situação é parecida. Os analistas indicam um resultado de R$ 18,6 bilhões, queda de 7,15% na comparação anual, antes dos efeitos não recorrentes.
Segundo o Itaú, apesar do aumento de 4% e 6% dos preços do diesel e da gasolina, respectivamente, aplicado no fim de setembro, o preço médio de realização deve ter pequena diminuição acompanhando a queda dos preços do petróleo. O volume de vendas será afetado pela fraca atividade econômica e uma diminuição do consumo de óleo combustível, especialmente a partir de usinas de energia. "Por isso, prevemos uma queda de quase 8% nas vendas de produtos de óleo e de 2% das receitas líquidas em comparação com o terceiro trimestre de 2015", escreveram os analistas.
Já sobre o custo de extração - conhecido como "lifting cost", em inglês -, espera-se que tenha diminuído em dólares, devido à desvalorização do real, enquanto o pagamento das participação governamentais também deve cair, devido ao baixo preço do petróleo.
O Itaú destacou também que a participação especial (encargo governamental semelhante ao royalty) cai mais rápido do que o preço do petróleo, já que é baseada na rentabilidade dos campos. Custos de refino também são suscetíveis à diminuição, dada a maior utilização da capacidade instalada das refinarias e da desvalorização do real. Além disso, a empresa está obtendo lucro com as importações de diesel e gasolina.
A própria Petrobras coletou as projeções de 13 analistas para os resultados do quarto trimestre. O Valor apurou que a mediana das prévias é de um lucro de R$ 2,7 bilhões, sendo a mais otimista de lucro de R$ 5,2 bilhões e a mais pessimista de prejuízo de R$ 9,7 bilhões. A mediana da receita é de R$ 85,2 bilhões, ligeira alta de 0,25% na comparação anual. O Ebitda, por sua vez, deve somar R$ 19,4 bilhões, queda de 3,08%.
Enquanto mantém um olho nos resultados operacionais, as maiores atenções dos bancos estão voltadas para a venda de ativos e para a liquidez da Petrobras, que fechou setembro com dívida líquida de R$ 402,35 bilhões.
Fonte: Valor Econômico/Cláudia Schüffner, Camila Maia e Rodrigo Polito | Do Rio e de São Paulo