Elek, diretor de Governança: "Depois que nossa imagem foi muito impactada, devemos ser extremamente cuidadosos"
Há dois anos à frente da diretoria de Governança e Conformidade da Petrobras, João Elek Junior, comemora os avanços nos controles internos da estatal, mas destaca que ainda há um longo trabalho pela frente. Depois de um intenso esforço de revisão do cadastro de fornecedores da petroleira, o executivo espera que o bloqueio cautelar das empresas envolvidas na Lava-Jato seja eliminado gradualmente a partir das próximas semanas. Uma das metas, a partir de agora, será reforçar o controle na área de patrocínios.
Interferências de políticos e lobistas no repasse de verbas de patrocínio - das escolas de samba do Rio a projetos em comunidades carentes e campanhas institucionais de combate à dengue, por exemplo - são algumas das questões que pairam sobre a área de comunicação da estatal.
PUBLICIDADE
"E se eu, por exemplo, der dinheiro [de patrocínio] para alguém da Fórmula 1 que não seja íntegro? Depois que nossa imagem foi muito impactada [com a Lava-Jato], devemos ser extremamente cuidadosos com essas coisas. Eu poderia, da mesma maneira que sou criterioso com os fornecedores, também ser com qualquer contraparte", disse Elek ao Valor.
Desde que vieram a público as denúncias de corrupção investigadas pela Lava-Jato, a Petrobras passou a exigir programas de integridade dos seus fornecedores. Nos últimos dois anos, a estatal analisou o compliance de mais de 12 mil companhias, para atestar se elas são idôneas e alinhadas com a lei. Segundo Elek, 90% do cadastro de fornecedores já foi reavaliado.
O executivo explicou que, com base nos programas de cada empresa, a Petrobras atribui uma classificação de risco ao fornecedor. "Se o grau de risco for alto e eu tiver outras empresas capazes de me atender e que não apresentem risco elevado, chamo essas outras".
Elek também mencionou que a Petrobras tem analisado as plataformas de compliance dos novos sócios com quem a estatal fecha acordos de parceria em negócios.
Para fazer frente ao crescimento do ritmo de trabalho na área, a intenção da Petrobras é reforçar o número de funcionários e aumentar em 50% o quadro pessoal da diretoria de Governança e Conformidade - que conta hoje com cerca de 330 vagas, sendo que 20% delas não estão preenchidas.
"Se você quiser um engenheiro bom nessa área [de óleo e gás], talvez [a Petrobras] seja o lugar onde mais facilmente você encontrará [bons profissionais]. Há contadores que dão aula de contabilidade; há advogados aqui que poderiam ser donos dos melhores escritórios, pela experiência que acumulam. Mas quando entramos no mundo de governança e compliance, que é novo, não tenho tanta gente pronta", disse Elek.
Ao analisar os dois primeiros anos da diretoria, Elek disse acreditar que "muita coisa foi feita" e que a consciência sobre a integridade dentro da companhia está, hoje, "muito melhor". Ele destacou, porém, que as medidas adotadas vêm exigindo forte mudança cultural dentro da petroleira.
"Dá para imaginar a popularidade que isso [programa de compliance] trouxe [para a rotina de contratações]. Ainda assim, a disciplina [dos funcionários] foi muito boa", elogiou o diretor.
Segundo ele, a Petrobras tem reforçado investigações internas, por meios de indícios e denúncias, e aplicado penalidades aos funcionários - que vão desde a advertência à suspensão (de no máximo 29 dias) e até mesmo demissão.
Elek, porém, preferiu não fornecer maiores detalhes sobre as penalidades já aplicadas e explicou que a preocupação da empresa é trabalhar mais na correção das não conformidades do que na exposição das punições. O executivo acrescentou que outro trabalho da diretoria tem sido credenciar aqueles funcionários que preenchem todos os requisitos de integridade, numa espécie de "cadastro positivo" que serve de base para futuras promoções.
"Um grupo muito pequeno de pessoas fez coisas erradas [em referência à Lava-Jato]. Não quero criar obstáculos para a maioria. É o contrário. O obstáculo faz a minoria tropeçar. E aqueles que, sem a má-fé, não atentam para uma ou outra regra, um ou outro aspecto de integridade, induzimos ele a seguir isso [a integridade] com mais facilidade", completou o executivo.
O bloqueio cautelar das empresas envolvidas na Lava-Jato deve ser revisto este mês. A lista dos atuais 24 grupos econômicos impedidos de contratar com a estatal após denúncias do esquema de corrupção completou dois anos em dezembro. Segundo Elek, o desbloqueio deve ser gradual, já que algumas empresas estão mais adiantadas que outras na adoção das medidas de integridade.
"Com toda certeza, se olharmos as empresas que estão no bloqueio, encontraremos aquelas que fizeram muita coisa para melhorar sua gestão de integridade, que mudaram pessoas na administração, celebraram acordos de leniência, foram longe. E há empresas que não estão tão adiantadas. É claro que eu vou priorizar as que estão numa situação que nos dê mais tranquilidade", afirmou.
Elek lembrou também que as empresas declaradas inidôneas pelo Ministério da Transparência, Fiscalização e Controladoria-Geral da União (Alumini, GDK, Mendes Junior, Skanska, Iesa Óleo & Gás e Jaraguá Equipamentos) não devem deixar a lista por enquanto.
O executivo destacou, ainda, que a Petrobras já conseguiu reaver cerca de R$ 700 milhões que haviam sido desviados no esquema de corrupção investigado pela Lava-Jato. A meta da companhia é recuperar outros R$ 5,5 bilhões.
Segundo ele, a empresa pretende processar ex-diretores e ex-funcionários que tenham praticado atos de corrupção e destacou que a Petrobras é assistente de acusação em cerca de 30 ações na Justiça em que o Ministério Público busca a responsabilização de pessoas e empresas, no âmbito da Lava-Jato.
Fonte: Valor