Investigado por supostas irregularidades relacionadas ao Decreto dos Portos, em 2017, que teriam favorecido a empresa Rodrimar, o presidente Michel Temer (MDB) convocou nesta segunda-feira uma reunião com representantes de concessionárias e agências reguladoras do setor de transportes para discutir a assinatura do decreto que regulamenta a lei 13.448/17, que trata de relicitações, e justificou o seu receio em assinar a medida.
"Quando me trouxeram na semana passada a questão da relicitação, que desde logo me convenci dos argumentos, mas a preocupação que eu tive confesso foi a seguinte: "Ah, o presidente editou um decreto, resolveu sentar-se à mesa, redigiu um decreto, assinou e mandou publicar no DO (Diário Oficial). Exata e precisamente [podem] dizer 'para beneficiar tal ou qual empresa, ou então há algum ilícito que tenha sido veiculado pelo presidente", afirmou.
PUBLICIDADE
Apesar de dizer que teve conhecimento do tema há pouco dias, o decreto de relicitação já é aguardado há meses pelo setor, e o governo chegou a anunciar em maio que o documento seria editado em breve.
Temer afirmou ainda que o "processo natural de todo e qualquer ato administrativo" segue um ritual e muitas vezes chega ao presidente "uma semana antes ou quando não chega no dia", depois de discussões que na área técnica duram meses. "Ou seja, não se pode ter a ilusão de que num dado momento o presidente da República redige um decreto, assina um decreto e manda publicar. Isso não existe, nem no meu governo e evidentemente não existiu em anteriores", completou.
O presidente disse que alguns decretos, mesmo passando pelas preliminares burocráticas, geram "procedimentos investigativos que, as vezes alcançam cinco, seis mil páginas para revelar o óbvio: ou seja, que durante muito tempo se deu todo um processo, um caminho administrativo para chegar ao presidente da República".
Na investigado sobre o Decreto dos Portos, Temer já prestou informações à Polícia Federal a respeito do tema e diz que nunca recebeu pagamentos indevidos de empresas do setor portuário e não atuou para favorecer nenhuma delas por meio de medidas do governo. O Palácio do Planalto tem dito que o Decreto dos Portos publicado no ano passado não beneficiou a Rodrimar.
Temer disse ainda que pediu que a reunião, que aconteceu na sala de audiências no Palácio do Planalto, fosse transmitida pela TV do governo federal para demonstrar transparência.
"Convidei todos a essa reunião para que nós possamos transparentemente ouvir os membros do governo, as razões que poderão nos levar a assinatura desse decreto e ouvir os concessionários. Para que fique claro, transparente, límpido que a assinatura se deveu a esses fatos governamentais e não ao desejo ilícito, não transparente de favorecer empresa tal e qual", disse. "Eu pessoalmente já antecipo que estou pré-convencido (a assinar o decreto). Estou pré-convencido que será útil e é o caminho inafastável", afirmou.
Segundo o presidente, o decreto vai redesenhar uma formula equivocada adotada no passado, "quando ainda não governávamos" e que foram "feitas de tal maneira que agora se impõe um redesenho".
Presente à reunião, o presidente da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR), César Borges, disse que é fundamental que "esse passo seja dado". "Algumas empresas já se manifestaram pela vontade de fazer a devolução do contrato de concessão. Espero que seja um processo rápido. Não adianta lançarmos novas concessões se não resolvermos o passado", disse, destacando que o Brasil passou por uma fase "muito difícil". "Foi impossível para empresas lidar com questão da redução da demanda de tráfego que inviabilizou diversos projetos", completou.
Fonte: Valor