A Usiminas quer montar um plano estratégico de longo prazo para nortear seus investimentos, agora que passou sua reestruturação financeira e o lado operacional reage bem à recuperação do mercado de aço. Segundo o presidente do conselho de administração da companhia mineira, Elias Brito, as conversas já se iniciaram e devem tomar corpo depois que a nova composição do colegiado assumir, na assembleia geral ordinária (AGO) do dia 25.
Brito disse ontem, em evento de reinauguração do alto-forno 1 da empresa, em Ipatinga (MG), que as premissas do plano - que deve abranger períodos mais extensos, talvez de cinco anos - estão sendo montadas por grupos divididos igualmente entre a japonesa Nippon Steel & Sumitomo Metal e a ítalo-argentina Ternium / Techint, as duas controladoras da Usiminas. Após um conflito societário de quase cinco anos, em conjunto as duas empresas controladoras anunciaram no começo de fevereiro deste ano um cessar-fogo, que incluiu um novo acordo de acionistas.
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"Agora é o momento de pensar em investir. Quando uma companhia vai mal, pensa no desinvestimento. O nosso momento agora é o outro, de investir", comentou Brito. "Mas ainda não está no radar participar de compras de ativos, por exemplo."
Durante a cerimônia de religamento do alto-forno, o novo presidente da Ternium, Máximo Vedoya, e o diretor da Nippon Steel para Américas, Kazuhiro Egawa, confirmaram que estão trabalhando juntos para o "desenvolvimento" da companhia. Os dois executivos garantiram que a Usiminas é prioridade para os dois grupos siderúrgicos e ressaltaram a relação de longo prazo com a empresa.
Vedoya ainda fez um apelo às autoridades brasileiras em relação à tarifa excedente imposta sobre a importação de aço nos Estados Unidos, seção 232. "A decisão dos EUA de mudar as regras do jogo no mercado internacional terá impacto global. É importante que instituições e governo tenham muito clara a gravidade da situação e tomem medidas necessárias para garantir a concorrência leal", disse.
Mais cedo, em entrevista coletiva, o presidente-executivo da siderúrgica mineira, Sérgio Leite, afirmou que a usina de Ipatinga vai trabalhar a plena carga, mesmo com o incremento de quase 20% na capacidade produtiva que o religamento do alto-forno 1 trouxe. A unidade de Cubatão (SP), que teve as áreas primárias paralisadas em 2015 - mesmo ano em que o forno de Ipatinga havia parado, por conta da crise -, assim, precisará de menos placas de terceiros.
O objetivo da Usiminas é depender menos do mercado de placas, que é produto do ferro-gusa fabricado em altos-fornos com minério de ferro e carvão metalúrgico, e uma espécie de matéria-prima para a produção de chapas de aço. O preço da placa no mercado aberto tem oscilado bastante e mesmo com contratos mais longos, como o que tem com a Ternium Brasil (ex- CSA), a Usiminas fica exposta a essa instabilidade.
Leite disse que a companhia estava comprando cerca de 130 mil toneladas por mês da matéria-prima, mas provavelmente precisará de menos com a volta do alto-forno 1. Isso significa que, se o mercado interno não absorver esses 20% a mais de capacidade, a utilização em Cubatão vai cair. Não está nos planos enviar placas de Ipatinga para a Baixada Santista.
Brito declarou ainda que os fundamentos hoje não justificam retomar os fornos de Cubatão. Até 2020, acrescentou, certamente se iniciaram as discussões nesse sentido. "Com um crescimento mais perene do crescimento e estabilidade do mercado, é o caminho natural que se pense em retomar as áreas primárias de Cubatão", disse.
Quanto a reajustes de preço, Leite fez coro à Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que já informou ver espaço para um aumento de 7,5% em junho. O executivo da Usiminas lembrou que hoje os laminados a quente e a frio brasileiros são vendidos quase ao mesmo preço dos importados (em geral, chineses). Por isso, seria possível um reajuste no fim do semestre. O "prêmio" considerado sustentável pelo mercado varia de 5% a 10%.
Fonte: Valor