Apesar da relativa estabilidade nos preços do minério de ferro este ano, a Vale - maior produtor mundial deste insumo siderúrgico - entende que o mercado global do produto está passando por uma transformação. Para a mineradora brasileira, a cotação do minério de ferro não é definida apenas pelo custo de produção, mas cada vez mais por prêmios e descontos praticados em relação ao preço de referência do mercado.
Esses descontos são determinados pelos chamados "contaminantes" do minério de ferro, como a alumina, a sílica e o fósforo, que pioram a qualidade do aço nos altos fornos das siderúrgicas. Esses elementos, além do teor de ferro propriamente dito, jogam na atualidade um papel fundamental na definição dos preços de mercado do minério. Os bancos trabalham com uma projeção média na casa dos US$ 65 por tonelada para este ano para o minério com 62% de teor de ferro vendido no mercado à vista da China, o principal consumidor mundial da commodity.
PUBLICIDADE
A Vale vem conseguindo receber prêmios crescentes em relação ao preço de referência como resultado de uma política de produção que privilegiou margens ao invés de volumes, com cortes de produção em minas mais pobres, e também com a entrada de novas minas mais ricas em teor de ferro, em Carajás, no Pará. Como resultado dessa estratégia, o prêmio médio realizado pela Vale em 2018 deve situar-se entre US$ 7 e US$ 7,5 por tonelada, o dobro em relação a 2017. Essa política vai gerar até US$ 3 bilhões em 2018, segundo dados da companhia. No mercado, existem perspectivas otimistas para os prêmios do minério de ferro, mas a dúvida é saber qual será o nível desses prêmios no futuro.
Na véspera do feriado de 7 de setembro, a Vale levou representantes de 45 investidores brasileiros e estrangeiros para Belo Horizonte, para uma visita ao Centro Tecnológico de Ferrosos (CTF) da companhia e ao Centro de Operações Integradas (COI), responsável pela gestão da cadeia logística da mineradora. A cadeia logística da Vale inclui sistemas compostos por minas, ferrovias e portos, unidades pelotizadoras, além, do centro de distribuição na Malásia e 16 portos na China. O portfólio de produtos é variado, o que leva a Vale, inclusive, a refutar a ideia de que o minério de ferro é uma commodity.
"O minério de ferro deixou de ser commodity", afirmaram executivos da mineradora na visita dos investidores a Belo Horizonte. No encontro, alguns dos principais diretores da companhia apresentaram a visão da Vale sobre a mudança estrutural pela qual passa o mercado global de minério. Em comentário aos clientes, o Credit Suisse expôs a transformação. "A administração [da Vale] enfatizou mudanças fundamentais no mercado de minério de ferro, que estão elevando os prêmios de qualidade [do minério] a níveis inesperados".
O banco afirmou que os prêmios para finos de minério de ferro, o principal produto da Vale, estão em níveis "saudáveis" e continuam subindo. Antes mesmo da viagem dos investidores, a corretoria Itaú BBA havia divulgado um relatório afirmando que a Vale é a maior beneficiada, entre as grandes mineradoras mundiais, pela alta dos prêmios pagos por qualidade no minério de ferro. A corretora disse que o Brazilian Blend Fines (BRBF), da Vale, com 62% de teor de ferro, se beneficia pelo seu baixo conteúdo de alumina. No fim de agosto, o "Metal Bulletin" lançou novo indicador de preços para o minério com 62% de teor de ferro e baixo índice de alumina. No entendimento da Vale, esse novo índice capta melhor o valor "intrínseco" do BRBF, que já é vendido em mais de dez países na Ásia.
A discussão sobre prêmios e descontos no mercado de minério de ferro se relaciona com a situação econômica das siderúrgicas e com os controles de poluição na China. Quanto maiores forem as margens das siderúrgicas, maiores são os prêmios pagos. As restrições ambientais impostas pela China, sobretudo no inverno, exigem que as usinas de produção de aço aumentem a eficiência dos altos fornos, o que melhora as perspectivas de demanda para o minério de alta qualidade. Esse tipo de minério contribui para reduzir as emissões de gases na atmosfera. O minério mais rico também reduz o uso de coque nos altos fornos, insumo cujos preços superam os US$ 300 por tonelada.
Fonte: Valor