Estaleiro do pré-sal, EAS deve vender áreas este ano e testa novos negócios

Em recuperação judicial desde junho, quando teve o acordo com credores homologado pela Justiça, o Estaleiro Atlântico Sul (EAS), complexo gigantesco em Ipojuca (PE), tenta se reinventar e emergir de uma crise que parecia insolúvel. Um dos credores chegou a propor a falência da empresa no início de 2021, alegando ocultação de patrimônio.

Em dezembro, o EAS antecipou o pagamento de um cash sweep (amortização de dívida com utilização de excedente de caixa) previsto para março deste ano e reduziu em R$ 100 milhões a dívida registrada na RJ, de R$ 1,4 bilhão. Este ano, deve ser fechada a venda milionária de duas áreas do estaleiro para a criação de terminais portuários privados.

UPIs valem mais de R$ 1 bilhão
No plano de recuperação, parte da área do estaleiro, que se estende por 1,62 milhão de m² do conjunto industrial e portuário de Suape, foi separada em Unidades Produtivas Isoladas (UPIs) para serem alienadas durante o processo, para pagamento de dívidas.

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São cinco UPIs divididas em dois grandes blocos que, somados, correspondem a 954 mil m². Um deles, com duas áreas, foi estimado no documento que definiu o plano de reestruturação, em R$ 380 milhões; o outro, com três, foi avaliado em R$ 895 milhões, também com base nos dados do processo.

“Estamos negociando duas das principais áreas, ambas destinadas a projetos para terminais privados. Infelizmente não posso abrir maiores informações, devido ao contrato de confidencialidade, mas são as áreas mais nobres do estaleiro e as negociações estão bastante avançadas. É o que posso dizer sobre os projetos de M&A”, disse à Coluna a presidente do EAS, Nicole Terpins, que prevê para este ano a assinatura dos dois primeiros contratos.

Presidente do estaleiro conduz as negociações com compradores
Advogada especializada em operações de fusão e aquisição, Nicole conduz pessoalmente as negociações. Mas, alegando cláusulas de confidencialidade, não quis comentar sobre valores nem sobre os candidatos à compra.

Ela preside o EAS desde agosto de 2019. No mês anterior, o estaleiro havia acabado de entregar o último navio da encolhida lista de encomendas da Transpetro – subsidiária da Petrobras que, como a holding, esteve no centro das denúncias de corrupção da Operação Lava Jato. As construtoras Queiroz Galvão e Camargo Corrêa (hoje Mover), que dividiram o controle do empreendimento, também estavam na lista de protagonistas da investigação policial.

O EAS não foi alvo de investigações, mas foi arrastado pelas pesadas consequências da Lava Jato. Não apenas a Transpetro reduziu drasticamente a encomenda de grandes petroleiros, como os pedidos de sondas pela Sete Brasil – empresa criada em 2010, reunindo Petrobras, bancos, fundos de pensão e investidores nacionais e estrangeiros para construir e operar navios-sonda do pré-sal – também foram por água abaixo.

Quem não lembra da encomenda de 28 sondas de uma só vez, que impulsionou a construção de novos estaleiros, e que ao final resultou em prejuízo bilionário para os acionistas da Sete?

“Quando assumi (a presidência), tinha uma equipe de 20 pessoas. Pensava: ‘Não aguento mais ouvir passarinhos cantar, quero ouvir a sirene’”, lembra Nicole. O estaleiro, que já empregou cerca de 10 mil funcionários, hoje tem uma população flutuante de profissionais, dependendo das contratações para reparos navais, que passou a ser a sua principal atividade. Segundo Nicole, atualmente são em torno de 500 empregados.

Empresa quer produzir equipamentos para eólicas
Na tentativa de se reinventar, o EAS prepara a entrada no mercado de construção de equipamentos para a indústria geradora de energia eólica. Com um mercado onshore (terrestre) já estabelecido, a disputa com fornecedores tradicionais será difícil. Nicole diz estar confiante nesta nova atividade e, principalmente, na fabricação de equipamentos para os parques eólicos marítimos (offshore) que devem ser instalados principalmente no Nordeste.

“Não adianta ficar na choradeira. Estamos tentando buscar todos os mercados. O reparo naval não estava no plano original do estaleiro e estamos sendo muito bem-sucedidos. Agora, o que a gente pretende é virar fornecedor para torres e fundações para energia eólica. Há um mercado onshore de sistemas com demanda consolidada. Temos ainda perspectiva em relação ao mercado offshore. Teremos um diferencial bastante grande para atender a esses parques, que é o custo de logística, pela localização. Vamos entrar no mercado onshore, hoje dominado por outros concorrentes, e no offshore, em formação”, diz Nicole.

O EAS ficou fora de operação durante um ano e quatro meses, depois da entrega do último navio da encomenda da Transpetro. Credores importantes, como Caixa e Banco do Brasil, foram votos contrários ao plano de recuperação, que acabou sendo aprovado pela maioria. Voltou a funcionar em outubro, dedicado à reparação de navios. Mas, agora, segue um planejamento mais pé no chão, à espera de uma nova política industrial.

“Se a orientação política continuar no caminho em que está hoje, dificilmente teremos fortalecimento da indústria naval. Espero que haja uma retomada, mas em outras proporções, o que não justificaria a destinação do estaleiro, com toda a magnitude dele, apenas para a indústria naval. Por isso, estamos fazendo essa segregação de áreas destinadas a projetos voltados à infraestrutura. Vamos permanecer com uma área menor do que antes, que a gente pretende utilizar não só para a indústria naval, mas também para outros mercados”, diz Nicole Terpins.

Fonte: Estadão



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