Exploração na costa é a mais baixa desde 1970

A atividade de exploração de petróleo na costa brasileira, que ao longo das últimas décadas resultou nas descobertas das grandes reservas da Bacia de Campos e no pré-sal na Bacia de Santos, está regredindo 45 anos em sua história. Num momento em que a abertura da operação do pré-sal começa a entrar na pauta do Congresso, dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP) mostram que a indústria está travada pela crise da principal figura do mercado, a Petrobras, e que o número de poços perfurados para achar óleo e gás em alto mar no ano passado foi o mais baixo desde o longínquo 1970.

E a tendência para este ano é que a situação se agrave ainda mais, segundo projeções da consultoria Accenture e da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Petróleo (Abespetro).


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O corte dos investimentos em exploração - que não é uma exclusividade brasileira - tem um efeito imediato sobre a cadeia fornecedora, desde empresas de sísmica às prestadoras de serviços e fabricantes de equipamentos de perfuração. A situação, contudo, preocupa também no longo prazo. Sem investimentos na área, alertam especialistas, a renovação das reservas do país pode ficar comprometida. E, consequentemente, o Brasil pode ter problemas para sustentar o crescimento da produção futura de petróleo e gás.

"A exploração é o carro-chefe do negócio. Se o volume de exploração cai hoje, as chances de descoberta são menores. Menos exploração significa que os projetos de desenvolvimento da produção para o futuro estão, de certa forma, comprometidos", explica o diretor executivo da Accenture Strategy Upstream, Matheus Nogueira.

Os efeitos já foram sentidos pela Petrobras, que adicionou apenas 16 milhões de barris as suas reservas provadas em 2015. Comparando, a Exxon Mobil, mesmo diante da baixa dos preços do barril, acrescentou 1,5 bilhão de barris de petróleo.

O menor ritmo exploratório acontece não só em mar, mas afeta também as atividades em terra. O Sindicato dos Petroleiros da Bahia informou que a Petrobras está desativando uma série de sondas, próprias ou contratadas de terceiros, sobretudo no Nordeste. Ainda segundo o Sindipetro-BA, a estatal comunicou que encerrará as atividades de todas as sondas em operação na Bahia.

Para Nogueira, a redução da atividade exploratória no país é uma combinação de fatores, mas a situação financeira da Petrobras, responsável por cerca de 70% dos poços perfurados no país, pesa muito. Ainda segundo ele, a retração é fruto também da queda dos preços do barril do petróleo e de decisões que afastaram as empresas privadas do setor ao longo dos últimos anos. Cita como exemplo o a falta de leilões de blocos exploratórios por cinco anos (2008-2013), a oferta de áreas de menor interesse nas últimas duas rodadas e a mudança do marco regulatório que limitou a operação do pré-sal à Petrobras.

Para efeitos de comparação, as empresas privadas perfuraram, no ano passado, apenas seis poços na costa brasileira, um dos piores índices desde a abertura do mercado, em 1997, mas ainda assim melhor que os quatro poços em 2014.

A queda da atividade exploratória não é uma exclusividade da Petrobras, nem do setor petrolífero brasileiro

A queda da atividade exploratória não é uma exclusividade da Petrobras, nem da indústria petrolífera brasileira. De acordo com relatório do banco Barclays, em 2016 será a primeira vez que os investimentos globais em exploração e produção deverão cair pelo segundo ano consecutivo desde 1986-1987. A projeção do banco é que os investimentos das petroleiras internacionais caiam 15% este ano, após a queda de 23% em 2015.

Segundo o Boston Consulting Group, as 18 maiores petroleiras do mundo já reduziram seus investimentos em perfuração pela metade desde 2013, para algo em torno de US$ 29 bilhões por ano.

Um bom termômetro para captar os efeitos da redução dos investimentos sobre a atividade da indústria é o número de sondas em operação no mundo. De acordo com informações da americana Baker Hughes, 1.891 sondas de perfuração operavam em janeiro, o nível mais baixo no mundo desde junho de 2009. Nos Estados Unidos, por exemplo, a quantidade de sondas em operação é a menor desde 1999.

A percepção do mercado, no entanto, é de que no Brasil a crise é agravada pela dependência dos investimentos da Petrobras, que se encontra em sua maior crise financeira da história. "No Brasil a situação é mais séria, porque praticamente só tem a Petrobras, que já afirmou que está abrindo mão da exploração para se dedicar à produção do pré-sal", afirma o geólogo Pedro Zalán, da ZAG Consultoria, para quem a abertura da operação do pré-sal para as petroleiras estrangeiras poderia funcionar como "uma injeção de glicose na veia" para a indústria.

Zalán destaca que, além da redução dos investimentos, atrasos no licenciamento ambiental estão afetando o ritmo da exploração brasileira. O impacto é especialmente maior sobre as campanhas exploratórias nos blocos na Margem Equatorial, negociados na 11ª Rodada, em 2013.

Ricardo Savini, presidente da Georadar, empresa brasileira de sísmica, afirma que projetos estão sendo postergados. Ele afirmou que há algumas licitações em andamento, mas que as petroleiras têm adiado a assinatura de contratos para realização de campanhas sísmicas. "As empresas estão postergando até o limite o cumprimento do programa exploratório mínimo dos blocos da 11ª Rodada [que vencem em 2018]", disse.

As finanças da Georadar ajudam a ilustrar o impacto da redução do ritmo de exploração sobre a cadeia fornecedora. Em 2015, a empresa fechou o ano com um faturamento de R$ 60 milhões, que representam 10% das receitas da empresa em 2012. Savini aposta que as atividades de sísmica devem se recuperar do "péssimo 2015" entre 2016 e 2017, mas destaca que ainda assim a demanda é muito tímida para um país com as extensões territoriais do Brasil e que a atividade de perfuração deve demorar mais para se recuperar.

Fonte:Valor Econômico\André Ramalho | Do Rio






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