Petrobras registra poço seco em área central de Libra

A Petrobras comunicou à Agência Nacional de Petróleo (ANP) esta semana a sua nona descoberta de petróleo no campo de Libra, o maior projeto no pré-sal brasileiro, leiloado pelo governo por R$ 15 bilhões em bônus de assinatura, em 2013. No entanto, o banco de dados de exploração e produção da ANP, que reúne todo o histórico de perfurações da indústria petrolífera, mostra que Libra não tem dado apenas notícias boas e que a estatal perfurou um poço seco no campo, no ano passado.

O resultado ruim, logo no quarto poço perfurado na área (3-BRSA-1310-RJS), está longe de atestar o fracasso de Libra, ainda em fase inicial de exploração e considerado pela indústria um dos maiores campos do mundo. Mas o sinal de alerta foi ligado. Isso porque o poço seco, abandonado definitivamente, foi perfurado na área central do campo, o que coloca em dúvida a ideia de que o reservatório gigante de Libra é homogêneo e tem óleo distribuído por toda sua estrutura.


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Segundo os dados públicos da ANP, a Petrobras e seus sócios (Shell, Total, CNOOC e CNPC) perfuraram um poço "seco, com indícios de óleo". "Isso quer dizer que foram descobertos indícios, mas não em condições ou volume suficiente para justificar a viabilidade econômica do poço", afirmou um ex-diretor da ANP.

Uma fonte a par do assunto conta que a perfuração do poço chegou a encontrar hidrocarbonetos, mas que o reservatório apresentou baixa porosidade - o que dificulta a produção no local. Embora o resultado não tenha sido o esperado, a porção noroeste do campo tem se mostrado atraente e é lá onde se concentram as grandes expectativas do consórcio que opera Libra.

O geólogo Pedro Zalán, da ZAG Consultoria e ex-consultor sênior da Petrobras, alerta que o resultado é preocupante, porque mostra que nem toda a área de Libra leiloada na primeira rodada do regime de partilha, com 500 quilômetros quadrados, possui reservatórios com óleo, como se esperava.

"Com certeza isso impacta no volume recuperável a ser calculado. Acende uma luz amarela, de que há risco significativo na avaliação da estrutura de Libra", disse o consultor. "Esse foi o único poço malsucedido até agora, mas essa é uma estrutura gigante que foi vendida como tendo óleo em toda a região. A perfuração de um poço seco já é um motivo de grande preocupação sim", reforçou.

Na ocasião da licitação do projeto, a ANP estimou entre 8 bilhões e 12 bilhões de barris o volume de óleo recuperável de Libra. Zalán, no entanto, considera o modelo geológico utilizado pela agência como "extremamente otimista" e acredita que a existência de um poço seco na região central de Libra pode colocar em xeque as estimativas de recuperação de óleo.

"Não é comum numa fase de avaliação de uma estrutura perfurar um poço seco no centro da área. Nas bordas até é possível e aceitável, mas no centro não. A Petrobras usa um modelo geológico em que toda a estrutura está uniformemente preenchida com reservatórios porosos e com óleo. Esse poço desconstrói essa visão", complementou.

Para efeitos de comparação, outros campos gigantes do pré-sal, como Lula, Sapinhoá e Búzios, não registraram nenhum poço seco ao longo dos mais de 50 poços perfurados em suas respectivas áreas de concessão, segundo dados da ANP.

A Petrobras, por sua vez, esclareceu que o poço 3-BRSA-1310 identificou a presença de hidrocarbonetos em reservatórios de baixa porosidade, "trazendo informações importantes para a campanha de avaliação dessa grande estrutura", e não procede a informação de que a perfuração deu seco. A petroleira disse, ainda, que a taxa de sucesso exploratório de Libra é de 100% e que o plano de desenvolvimento do projeto segue conforme planejado, com dois poços previstos para este ano.

Até o momento, a Petrobras só confirmou o sucesso dos dois primeiros poços perfurados pelo consórcio (3-BRSA-1255-RJS e 3-BRSA-1267-RJS), que identificaram a existência de colunas de petróleo de 290 metros e 200 metros, respectivamente. Já o poço descobridor de Libra, perfurado antes do leilão de 2013, detectou uma coluna de 327 metros de altura.

Procurada, a ANP informou que o modelo usado na licitação de Libra, baseado em dados de apenas um poço, atraiu o interesse das grandes empresas do setor e que a exploração de importantes campos produtores, como Marlim, Marlim Sul e Roncador, também apresentou poços secos com indícios.

"Esse tipo de resultado pode ocorrer quando as empresas estão delimitando os reservatórios. Os carbonatos presentes em Libra, que ainda estão em estudos, têm uma produtividade que só se compara à de grandes áreas produtoras do Oriente Médio e México e aos demais campos do pré-sal. No entanto, é natural do processo de exploração e produção a ocorrência de heterogeneidades, devido à própria incerteza que é intrínseca a essa atividade", citou a ANP, em nota.

Fonte: Valor






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