Alternativa à bioinvasão

Pesquisadores da USP desenvolvem sistema que possibilita monitorar, de forma remota e automática, troca da água de lastro dos navios

Pesquisadores do Departamento de Engenharia Naval e Oceânica da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram um sistema que permite monitorar, de forma remota e automática, a operação de troca da água de lastro dos navios. O objetivo do projeto é identificar, pela coordenada geográfica, a posição em que o navio começou a fazer a troca e monitorar os parâmetros físico-químicos da água. O controle efetivo das trocas da água de lastro pode evitar uma possível disseminação de espécies aquáticas, nocivas às espécies nativas brasileiras.

O sistema utiliza sensores de qualidade de água, GPS e aparelhos de telemetria. Nos tanques de lastro e nos pianos de válvulas, os sensores medem várias propriedades físico-químicas da água, como pH, oxigenação, turbidez, salinidade, temperatura e oxigênio dissolvido. Esses parâmetros são determinantes para saber se a água é oceânica ou costeira. A água oceânica, por exemplo, é menos turva do que a costeira, porque não tem tanta influência de sedimentos. “Uma vez que esses parâmetros físico-químicos da água são identificados, os correlacionamos com a posição geográfica do navio e o sistema envia os dados por email. Então é possível monitorar exatamente como se deu a variação desses parâmetros existentes”, explica o pesquisador do departamento de engenharia naval e oceânica da USP, Newton Pereira.

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Os sensores são instalados dentro dos tanques de lastro dos navios; o GPS, bem como a antena de comunicação por satélite, podem ser inseridos no casario da embarcação, por exemplo, e o sistema de controle, na praça de máquinas. De acordo com Pereira, todos os equipamentos estão disponíveis no mercado. “Todos os sensores são comerciais, o que desenvolvemos foi o sistema de controle que vai integrar todos esses sensores com o GPS e com o acionamento da bomba. A nossa inovação está em agrupar tudo isso juntamente com o controle de acionamento da bomba”, afirma Pereira.

Captada do mar ou do rio e armazenada em tanques de lastro dos navios, a água de lastro dá estabilidade às embarcações quando estão navegando sem carga. Por ser uma operação que envolve riscos e eleva o custo da viagem, são constatados vários casos em que comandantes burlam a lei e acabam não fazendo a troca, ou não a realizam a pelo menos 200 milhas náuticas da costa e em águas com 200 metros de profundidade, conforme regulamentação da Organização Marítima Internacional (IMO).

Estima-se que mais de 100 milhões de toneladas de água de lastro sejam lançadas anualmente no litoral brasileiro. A questão é que nesta troca pode ocorrer a bioinvasão de espécies exóticas. Um dos exemplos é o mexilhão dourado (Limnoperna fortunei), originário da Ásia. Trazido pela água de lastro, a espécie infestou o continente sul-americano e, por não ter predadores naturais, reproduziu-se livremente. Por causa dele, as hidrelétricas de Itaipu e Cemig precisam interromper periodicamente suas operações para fazer a limpeza das turbinas infestadas pelo mexilhão. A presença desse organismo também destrói a vegetação aquática, disputa espaço e alimentos com os moluscos nativos, entope canos e dutos de água, de esgoto e de irrigação, além de comprometer equipamentos dos navios.

O protótipo do sistema já foi testado com sucesso em laboratório. O próximo passo é realizar os testes em situações reais, o que está previsto para acontecer em meados de julho ou agosto em parceria com a Universidade Federal do Amapá. “Nossa primeira ideia é fazer o monitoramento das águas do Rio Amazonas, porque o sistema pode ser usado tanto dentro como fora da embarcação. Posteriormente faríamos os testes a bordo do navio, mas para isso ainda estamos buscando parceiros”, diz o pesquisador, que é doutor em Engenharia Naval e Oceânica e Mestre em Engenharia Naval e Oceânica pelo Departamento de Engenharia Naval da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.

O sistema pode ser utilizado em outras aplicações, como o monitoramento ambiental dos rios, devido à possibilidade de customização dos sensores para que leiam outros tipos de dados. Outra possibilidade é a instalação do equipamento em navios de apoio offshore que frequentam as plataformas para detectar vazamentos de hidrocarbonetos e outros contaminantes.

Os pesquisadores da USP apresentaram, no último mês de janeiro, o projeto detalhado para a Marinha brasileira e tiveram apoio da entidade. Após a realização dos testes e homologação, o sistema poderá ser levado como proposta de controle para a IMO, que realiza uma reunião anual na qual vários países apresentam propostas de tratamento da água de lastro. De acordo com Pereira, ainda não há uma estimativa de custo do sistema para um armador que tenha interesse na aquisição. “Como é um protótipo ainda, precisaria haver um desenvolvimento em termos de escala industrial e então precisaríamos analisar cada projeto de navio para saber quantos tanques tem, quantos sensores seriam necessários. Teoricamente [o sistema] teria que ser customizado para cada navio”, conclui.

O protótipo começou a ser desenvolvido pelos pesquisadores da USP entre 2010 e 2012 e contou com financiamento do CNPQ. No ano passado, a instituição obteve um financiamento da Finep, através do CT-Aquaviário, para um projeto de escala maior sobre estudos de água de lastro que vai contemplar, entre as fases, a ampliação desse protótipo. A ideia é realizar também o monitoramento microbiológico para verificar, por exemplo, a presença de algas e de clorofila na água.

 

 



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