Manobrar navios de cargas valiosas no Amazonas pode pagar até R$ 50 mil

Manobrar um navio de 200 metros de comprimento e da altura de um prédio de quatro andares por rios sinuosos e repletos de pequenas embarcações não é uma tarefa fácil. Especialmente se este navio estiver carregado com 50 mil toneladas de uma carga valiosa, altamente explosiva e poluente. Mas este é o trabalho  do profissional de praticagem, que recebe até R$ 50 mil mensais para assumir todos estes riscos e dificuldades.

O prático, conhecido internacionalmente como ‘pilot’, é um profissional de carreira naval, que possui um profundo conhecimento sobre a geografia, o clima e os costumes de um determinado local. Ele é requisitado na navegação para ajudar os comandantes a manobrar navios em determinadas áreas.

O serviço do prático é opcional em boa parte da costa brasileira. Na Bacia do Amazonas, a partir de Macapá, sua contratação é obrigatória devido ao alto grau de complexidade da navegação na região. A exceção é para os barcos regionais.

Com isso, a demanda por este tipo de profissional e os salários pagos a eles são cada vez maiores. Estimativa do Sindicato das Empresas de Agenciamento de Cargas, Logística e Transportes Aéreos e Rodoviários de Cargas do Estado do Amazonas (Setcam), 95% de toda a carga que entra e sai do Estado passa pelos rios, com a movimentação de cerca de R$ 7 milhões por dia.

“Entramos no rio com embarcações de grande porte, que valem milhões de dólares, para atracar em espaços restritos e com velocidade reduzida. A atividade requer muita prática e conhecimento. Aqui existe ainda a peculiaridade de o Amazonas ser uma bacia muito dinâmica, que muda constantemente. A praticagem que se tem aqui é muito diferente da que é feita em outros lugares”, explica o diretor-presidente da empresa de Praticagem dos Rios Ocidentais da Amazônia (Proa), Manoel Paulo Coelho.

De acordo com o prático, ao navegar pela Bacia Amazônica é importante considerar também os fatores culturais da região, pois o fluxo de embarcações não registradas e pilotadas por pessoas sem habilitação é bastante intenso. “E não tem muito o que fazer a respeito. Não dá para impedir o ribeirinho de ir pescar, de se locomover. Quando chega um comandante de outro país, às vezes ele fica assustado, mas nós que temos experiência sabemos como agir. Sabemos que se o barco está parado de determinado jeito é porque a pessoa está pescando. Sabemos que o ribeirinho não vai fazer aquilo que é esperado que ele faça”, conta. De acordo com Manoel Coelho, sua empresa chega a atender 50 embarcações por mês.

Legislação desobriga ter formação militar

No Brasil não é necessário seguir carreira militar ou ser formado em um curso Superior de navegação para se tornar um prático, como acontece no restante do mundo. De acordo com Coelho, o Brasil e os Estados Unidos são os dois únicos países do grande mercado de navegação internacional que funcionam assim. Apesar de não haver esta exigência, a praticagem do Brasil é a sexta mais segura do mundo.

A seleção de práticos no País é realizada pela autoridade marítima local, a Marinha do Brasil. A instituição militar realiza concursos regularmente para selecionar profissionais para atuar em empresas particulares, espalhadas por 21 zonas de praticagem. O número de práticos necessário para cada zona também é estipulado pela Marinha.

De acordo com informações da assessoria de comunicação da Capitania Fluvial da Amazônia Ocidental, o número de práticos necessário para cada região é definido em conformidade com a demanda local. Na Zona de Praticagem 2 (ZP 2), que compreende a área que vai de Itacoatiara a Tabatinga, existem 24 práticos, sendo 17 da empresa Proa e sete da Amazon Pilot.

Segundo a capitania, novas vagas podem ser abertas no caso de aposentadoria de práticos ativos ou de crescimento da demanda. Depois de aprovado na seleção da Marinha, os candidatos a práticos passam por um estágio de cerca de um ano, que deve ser cumprido na zona em que pretendem atuar. Só depois disso é que ele pode fazer a prova da marinha que o credencia à praticagem.

Profissionais do Amazonas têm experiência na área

A maioria dos práticos que atuam no Amazonas possuem longa experiência na área e tem formação militar, apesar desses requisitos não serem obrigatórios pela legislação brasileira.

Este é o caso de Benedito de Oliveira Silva, que atuou como comandante mercante por dez anos antes de entrar para a primeira empresa de práticos do Amazonas.

“Na época eu estava muito cansado das longas viagens e de não ter vida social. Ficava muito tempo no mar. Por isso resolvi fazer o concurso de prático para me fixar em um lugar, elevar meus ganhos e continuar fazendo o que gosto de fazer”, observa Silva.

Segundo Silva, a implantação do atual sistema, administrado por empresas privadas, foi bastante difícil, mas trouxe muitos benefícios à navegação no Estado.

“No início tínhamos apenas o apoio da Marinha, mas alguns empresários achavam que esse novo sistema, que também objetivava as metas do governo em busca de soberania em seu território, poderia inviabilizar os preços no negócio de navegação. Com o tempo todos viram que a navegação ficou mais segura graças a isso, inclusive do ponto de vista ecológico, e que a gente na verdade começou a viabilizar a navegação por aqui”, afirma.

Atualmente as empresas de praticagem realizam alguns dos mais detalhados mapeamentos dos rios, com a ajuda de equipamentos de alta precisão, custeados de maneira particular.

“Investimos muito em equipamentos e pesquisa, mas o prático precisa sempre se aprimorar. É comum que nos dias de folga muitos saiam para o rio para fazer sondagem. Pois apesar de a tecnologia ajudar muito, é a experiência e o conhecimento que fazem com que o tempo de resposta a acontecimentos inesperados seja o mais rápido possível”, afirma Manoel Coelho.


Fonte: D24am.com / Rosana Villar



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