A decisão de reduzir tarifas entre os Estados Unidos e a China por 90 dias marca um alívio diplomático que deve facilitar o fluxo de mercadorias entre as duas maiores potências comerciais globais. Para Peter Sand, analista-chefe da Xeneta, o maior ganho é o retorno de um ambiente mais previsível para as empresas, após um período de tensões comerciais que impactou severamente as cadeias de suprimentos.
A janela de 90 dias será estrategicamente aproveitada pelos transportadores, já que o tempo médio de trânsito entre os dois países é de 22 dias. Isso deve gerar um aumento repentino no volume de embarques, pressionando as tarifas de frete para cima. A antecipação da alta temporada, tradicionalmente no terceiro trimestre, pode ocorrer já no primeiro semestre de 2025. Transportadoras que haviam redirecionado capacidade para rotas alternativas, como Extremo Oriente–Europa, precisarão reagir rapidamente para atender à retomada da demanda transpacífica, possivelmente pagando mais no curto prazo por capacidade ajustada.
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Embora as tarifas de frete tenham caído no primeiro trimestre do ano, com queda média de 56% e 48% nas rotas China–Costa Oeste e China–Costa Leste dos EUA desde 1º de janeiro, o anúncio da flexibilização gerou um aumento em abril, antes de uma nova ligeira retração. Os níveis, porém, permanecem elevados frente ao fim de março. Dados da Xeneta indicam que a capacidade oferecida da Ásia para a América do Norte recuou 17% desde 20 de abril, atingindo 265 mil TEU em 12 de maio, enquanto as viagens em branco aumentaram 86%, alcançando 89.100 TEU no mesmo período.
Apesar da redução temporária, a tarifa de 30% sobre importações chinesas ainda representa um obstáculo para empresas com produtos de baixa margem, limitando uma retomada uniforme da demanda. Além disso, o impacto das tarifas de 145% anunciadas em abril pode atrasar a retomada plena do fornecimento e da produção na China, após meses de incerteza.
No longo prazo, o ambiente comercial segue vulnerável à volatilidade e riscos geopolíticos. Segundo Sand, o episódio reforça a urgência de diversificação nas cadeias de suprimentos, já que empresas não pretendem mais operar sob a ameaça constante de decisões políticas inesperadas. A capacidade de reagir com agilidade será essencial diante de um cenário global cada vez mais instável.