Em cinco anos, Santos perdeu a metade das escalas de navios de passageiros durante a temporada de verão. A debandada de navios para outros portos estrangeiros, cada vez mais atrativos, também fez cair em 34% a quantidade de pessoas que passaram pelo cais santista no período.
As embarcações de cruzeiro são sazonais: chegam entre outubro e novembro e encerram as atividades na costa brasileira entre março e abril do ano seguinte. Enquanto o Porto de Santos registrou 310 escalas de navios na temporada 2010/2011, foram 156 atracações no balanço 2015/2016.
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Os indicadores também são reflexo direto da redução da quantidade de navios, que caiu de 22 para 17 no mesmo intervalo. Situação muito diferente daquela registrada na primeira década do século, quando foi registrado crescimento vertiginoso de 267% no número de cruzeiros pela costa.
Os dados também evidenciam que cada vez menos passageiros embarcam, desembarcaram e transitam pelo Porto de Santos. Eram 1.120.830 pessoas movimentando o terminal marítimo há cinco anos e, de acordo com o levantamento na última temporada, foram 738.981.
Os dados são do Concais, empresa que administra o único terminal do cais santista voltado a receber navios do tipo. Segundo a diretora de operações da instalação, Sueli Martinez, o Porto de Santos, apesar do quadro, continua como o que mais embarca no Brasil, já que a região concentra o maior PIB do País.
Ela lembra que a decisão de agendar escalas no cais santista é exclusiva do armador, muitas vezes tomada por escritórios fora do País, e admite a mudança nos últimos anos. "Os navios estão migrando para outros países, outros destinos mais rentáveis e mais atraentes", explicou.
Sem apoio, mercado quebra
Para o presidente da Associação Brasileira das Empresas Marítimas, associada à organização internacional de linhas de cruzeiro (Clia Abremar), Marco Ferraz, a situação se torna mais preocupante uma vez que, apesar dos esforços de entidades, não são percebidas ações do Governo.
Para ele, quatro são os pilares que agravam o problema: custos portuários (taxa de embarque, atracação, operação e praticagem); impostos (considerada mais pesada que os navios de carga); infraestrutura (gargalos logísticos); e regulação internacional (que conflitam com leis trabalhista).
"Tudo aqui acaba gerando custo. Por exemplo, quando um navio não consegue atracar no terminal, nós temos que contratar ônibus para levar os passageiros até lá. Junto às taxações e aos impostos, que acabam sendo mais caros que navios de carga, tudo se torna menos atrativo", diz.
A migração de roteiros para outros complexos na América do Sul, na visão do presidente da Abremar, torna-se natural e inevitável num contexto considerado desfavorável como esse. "É preocupante. Se não houver sensibilização do Governo, cada vez menos navios virão ao Brasil".
Menor poder aquisitivo
O secretário de turismo de Santos Luiz Dias Guimarães compartilha da opinião do presidente da Abremar de que os complexos portuários internacionais estão cada vez mais atrativos para os armadores. Para ele, a queda no poder aquisitivo do brasileiro também dificulta a disputa.
Os problemas, entretanto, ultrapassam o setor turístico. "Certamente refletirá na diminuição de empregos temporários. A situação só poderá ser revertida com ações reguladoras e de incentivo por parte do Governo Federal, bem como com a reversão do quadro econômico do País", diz.
Para o setor, previsão é de mais uma temporada de queda nos números entre 2016 e 2017
Temporada 2016/2017
Se a situação já estava ruim, ela pode piorar na temporada de navios de passeiros entre 2016 e 2017. A previsão da Clia Abremar é que ocorra redução de 40% na quantidade de cruzeiros pela costa do País - índice que vai impactar diretamente o Porto de Santos, apesar da importância.
A previsão vale para embarcações de fazem a cabotagem. Isto é: aqueles que percorrem a costa brasileira durante um período realizando viagens turísticas. "Até o momento, só temos cinco navios confirmados, na expectativa de mais um", diz o presidente da entidade, Marco Ferraz.
Fonte: A TRIBUNA ON-LINE