Não é de hoje que especialistas em logística, exportadores e empresários em geral afirmam que um dos principais problemas do Brasil é a falta de investimentos em infraestrutura.
O sistema portuário é apenas um elo da cadeia logística, mas de nada vale estar preparado para quebrar recordes e se expandir, se os acessos não estiverem aptos a suportar, com folga, as demandas.
A falta de iniciativas efetivas para mudar esse cenário tem prejudicado o desenvolvimento do país. Algumas das variáveis influentes têm sido objeto de atualizações e aprimoramentos. No entanto, o resultado não tem surtido os efeitos desejados, pois é preciso analisar todos os componentes dessa complexa equação, atribuindo-lhes o peso adequado.
Afinal, os Três Poderes querem ou não que o Brasil prospere, mitigando e até suprimindo nossa dependência externa, o assistencialismo e o populismo?
O ideal é que a cultura do desenvolvimento sustentado seja inculcada desde a formação escolar, mediante docentes bem remunerados e tecnicamente bem qualificados, currículos adequados, isentos de tendenciosidade ideológica, e escolas bem equipadas. Porém, não podemos esperar por uma nova geração assim formada para resolver problemas imediatos, urgentes, muitos dos quais dependem de bom senso, boa vontade, inteligência e visão de Estado.
Infraestrutura e industrialização estão entre eles, com um sistemático e renitente atraso.
Infelizmente, a legislação brasileira é pródiga em criar empecilhos ao desenvolvimento sustentado do Brasil. Para cada incentivo ou plano criado, uma legião contrária se levanta, arguindo leis que exigem contrapartidas draconianas, descaracterização de projetos, ou mesmo sua inviabilização.
Quando não é o arcabouço legal, são ingerências de países desenvolvidos e corporações internacionais, ora de forma direta, ora financiando grupos radicais internos.
Apesar de ter um dos menores índices de áreas de plantio, e uma matriz energética bem menos poluente em relação a países que nos cobram compromissos ambientais, o Brasil sofre pressões que vão do protecionismo escancarado ao “canto de sereia” das indulgências pelos “pecados” ambientais que cometeram no passado, e ainda cometem: subdesenvolvimento financiado.
Há preocupações genuínas, mas também há muito oportunismo, vaidades e ingenuidades, carecendo da necessária visão holística. Nesse caso, só existe empatia com quem compartilha os mesmos entendimentos, ou faz disso um meio de vida.
Quantos milhões de empregos deixam de ser criados? Quantos tributos deixam de ser arrecadados, os quais permitiriam solucionar demandas sociais e ambientais crônicas do país?
Em meio a esse quadro de impedâncias, há quem lucre e assuma relevância que pouco agrega à solução dos problemas. Problemas são sua matéria-prima. Soluções? Nem tanto.
A Reforma Tributária acena com condições um pouco melhores. Governos anunciam linhas de financiamento para investimentos em infraestrutura em vários setores. A reindustrialização é primorizada. Planos estão sendo revisados. Preocupações com ESG e pactos globais estão em pauta.
Tudo isso é importante, mas não gerará o desenvolvimento sustentado almejado enquanto as legislações ambiental e de licitações permanecerem como estão. É preciso priorizar a realização das obras de infraestrutura de que o Brasil tanto precisa, agilizando licenciamentos de parques energéticos, logísticos e industriais, rodovias, ferrovias, hidrovias, dutovias, aeroportos e portos. Caso contrário, esse processo continuará a ser um calvário, sujeito a judicializações e decisões parcialmente consequentes.
O desenvolvimento sustentado é um sistema em que cada elemento deve funcionar de forma integrada, caso contrário, nunca será desenvolvimento, nem, muito menos, sustentado. É prática e não narrativa!
Que essa consciência e ação permita que 2025 seja o ano da infraestrutura, ao menos o primeiro, gerando empregos, encurtando distâncias, melhorando nossa matriz energética, produzindo e exportando cargas de maior valor agregado, desenvolvendo tecnologias e pesquisas científicas de uso prático, mitigando e compensando impactos negativos, ao mesmo tempo em que multiplica e socializa efeitos positivos.
Amém!
Adilson Luiz Gonçalves é escritor, engenheiro, pesquisador universitário e membro da Academia Santista de Letras
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