O debate sobre sustentabilidade deixou de ser um tema restrito à agenda ambientalista para se tornar uma pauta estratégica e inadiável para todos os setores da economia. No transporte, e especialmente no marítimo, essa transformação já está em curso.
Empresas, governos e instituições sabem que o desafio não é apenas mover cargas de um ponto a outro — é fazer isso com eficiência, responsabilidade e menor impacto possível.
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A eficiência energética, nesse contexto, deixou de ser um conceito técnico para se tornar um valor. Significa fazer mais com menos: consumir menos combustível, reduzir emissões, otimizar rotas e aproveitar melhor os recursos naturais.
E quando olhamos para o Brasil, um país de dimensões continentais e com mais de 8.000 km de costa, fica evidente que o transporte marítimo — em especial a cabotagem — é parte essencial dessa resposta.
A cabotagem é, comprovadamente, uma das formas mais limpas e eficientes de transporte. Um navio pode transportar o equivalente à carga de centenas de caminhões, emitindo até quatro vezes menos CO? por tonelada movimentada.
Mais do que um dado técnico, essa diferença representa uma oportunidade real para o país reduzir emissões e tornar sua matriz logística mais sustentável.
Um estudo da Norcoast, empresa brasileira de navegação costeira, ilustra bem esse potencial. Em 2024, a companhia analisou operações para uma multinacional do setor químico, comparando o impacto ambiental do modal rodoviário com o marítimo, em rotas que partiram do porto de Suape (PE) para Manaus (AM), Santos (SP) e Paranaguá (PR), seguindo a metodologia internacional do GHG Protocol.
O resultado foi expressivo: o transporte de 7.862 toneladas de carga por cabotagem gerou 369 toneladas de CO?, contra 3.374 toneladas que seriam emitidas por caminhões. Ou seja, uma redução de 89% nas emissões — mais de 3 mil toneladas de dióxido de carbono a menos na atmosfera.
Casos como esse mostram que o modal marítimo é parte da solução climática, não do problema. A cabotagem contribui para desafogar as rodovias, reduzir acidentes, melhorar a eficiência energética e aproximar o Brasil de suas metas de descarbonização.
É com essa convicção que a Associação Brasileira de Armadores de Cabotagem (ABAC) participará da COP 30, na Estação do Desenvolvimento, espaço dedicado aos transportes e organizado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT).
No dia 18 de novembro, às 16h40, a ABAC apresentará o painel “A Contribuição do Transporte Marítimo Doméstico para as Metas Ambientais Brasileiras”, transmitido pelo canal da CNT no YouTube.
O encontro será uma oportunidade de mostrar, diante de líderes mundiais e especialistas em clima, o compromisso do setor de cabotagem com a sustentabilidade e com o futuro do planeta. O painel abordará temas centrais para essa transição: o potencial da cabotagem na redução das emissões de carbono, a migração modal como estratégia de descarbonização e o uso de combustíveis alternativos, como o biodiesel marítimo, que poderá substituir 100% do combustível fóssil no transporte doméstico e ainda gerar créditos de carbono internacionais.
Essa presença na COP 30 é mais do que simbólica. É o reconhecimento de que o setor marítimo brasileiro está engajado nas metas ambientais globais, de acordo com as diretrizes da Organização Marítima Internacional (IMO), que exige que os navios reduzam drasticamente suas emissões até 2050.
O mundo está em transição. A busca por combustíveis mais limpos, tecnologias de propulsão mais eficientes e operações inteligentes já é uma realidade no transporte marítimo global. No Brasil, temos um diferencial: uma costa extensa, uma infraestrutura natural pronta e um setor de cabotagem que cresce com base em inovação, regulação moderna e responsabilidade ambiental.
A ABAC acredita que a eficiência energética e a sustentabilidade são pilares de competitividade, não obstáculos. Investir em soluções limpas é garantir o futuro da navegação, da economia e do planeta.
A cabotagem tem potencial para ser um dos grandes aliados do Brasil na luta contra as mudanças climáticas. E estar na COP 30 é reafirmar esse compromisso — mostrando que, quando se trata de sustentabilidade, o mar está do lado certo da história.
Luis Fernando Resano é Diretor-Executivo da ABAC
(Associação Brasileira dos Armadores de Cabotagem)















