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Artigo - Infraestrutura... de novo?!?

Há alguns dias discutíamos internamente na SOLVE se já não estávamos nos tornando repetitivos com a publicação de tantos artigos, apresentações e palestras, sempre versando sobre as deficiências da infraestrutura portuária brasileira.

Eis que nas últimas semanas participamos de três eventos que reuniram inúmeros players do setor: II Fórum Catarinense do Setor Portuário, em Itapoá; reunião virtual da Câmara de Transporte e Logística da Federação das Indústrias de Santa Catarina; e a Feira Logistique, em Balneário Camboriú.


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O painel que mais chamou atenção no encontro em Itapoá foi “Gargalos na Infraestrutura Rodoviária, Ferroviária e Aquaviária de Acesso aos Portos Catarinenses”, já que todos os participantes do evento sentiram pessoalmente a dificuldade de acesso ao Terminal a partir das rodovias SC 416 e 417 em pista única e péssimo estado de conservação, um bom exemplo do estado das rodovias de acesso aos portos brasileiros, além da enorme demora em equacionar o acesso aquaviário adequado à Baía da Babitonga.

Já na Federação das Indústrias, com a participação da Secretária Nacional de Transportes Rodoviários, Eng. Viviane Esse, discutiu-se a urgente necessidade de investimentos na renovação da concessão para fazer com que a BR101, no trecho de Santa Catarina, volte a fluir. Na mesma reunião o Dr. Lucas Sampaio Ataliba, Gerente Substituto da Antaq/SC, discorreu sobre a infraestrutura portuária da região sul/sudeste.

Nos diversos painéis realizados na Feira Logistique invariavelmente ouviam-se referências às deficiências da infraestrutura, seja de acessos rodoviários, ferroviários ou aquaviários, ao lado da lotação dos portos e terminais, sem falar que o próprio acesso ao Centro de Eventos de Balneário Camboriú, localizado ao lado da BR101 é um lembrete diário do estado dessa rodovia que interliga o Brasil ao longo da costa de sul a norte. Durante a Logistique chegamos a comentar que os painéis também pareciam sempre mais do mesmo, recaindo invariavelmente no tema infraestrutura.

Ou seja, os gargalos estão tão evidentes que parece não haver como deixar de tratar esses temas! Algo como “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”!

Dados divulgados pela ANTAQ indicam que o Brasil movimentou 5,4 milhões de TEU de janeiro a maio desse ano contra 4,6 milhões de TEU no mesmo período do ano passado, ou seja, um crescimento de 19,27%!

Considerando que esse aumento expressivo na demanda não vem sendo acompanhado pelo crescimento da oferta de capacidade, ou pior, o Brasil recentemente viu sua capacidade portuária ser reduzida após o encerramento do contrato da APMT em Itajaí, o início das obras de modernização de Navegantes e a paralisação de um berço no BTP.

Diante de todos esses fatos e dados, não causa surpresa que o sistema portuário brasileiro esteja pressionado de maneira sem precedentes e que, portanto, esse tema não saia da pauta.

Embora haja reconhecidamente quase que um consenso sobre a falta de berços para navios porta-contêineres nos portos de São Paulo, Paraná e Santa Catarina (por onde são movimentados quase 80% da carga conteinerizada do Brasil), pode-se dizer que os terminais dessa região estão investindo (ou buscando autorização para investir) fortemente em aumento de capacidade e produtividade, mas aparentemente ainda serão necessários projetos greenfield ou brownfield.

Ainda assim, de que adianta os armadores estarem trazendo mais (e maiores) navios e os terminais estarem se preparando para operar essa demanda crescente, se os acessos marítimos não permitem que esses gigantes operem a plena capacidade ou se os acessos terrestres não permitem que a carga chegue e saia com presteza!?

Para se ter ideia, o trecho Santa Catarina x Paraná da BR101 teve sua duplicação entregue em 2010, o trecho Santa Catarina x Rio Grande do Sul foi entregue em 2019. A BR470 que liga os portos catarinenses ao Oeste do estado está em obras de duplicação há 10 anos!

A BR 277, que liga Curitiba a Paranaguá, foi duplicada em 2001. A rodovia dos Imigrantes em Santos foi entregue ao tráfego no longínquo ano de 1976 e expandida em 2002. Podemos afirmar, portanto, que a exceção do trecho sul da BR 101, nenhuma obra expressiva de acesso a portos foi realizada nos últimos 14 anos, enquanto de 2011 a 2023 o Brasil passou de um movimento anual de 7,9 milhões de contêineres para 12,3 milhões de  contêineres, um aumento de 55% usando praticamente as mesmas rodovias e ferrovias.

Isso sem falar em dragagens de aprofundamento e retificação do canais de acesso aos portos, que com poucas exceções também não ocorrem há mais de um década. Não há como pensar em porto sem acesso terrestre e marítimo!

Embora o governo venha sinalizando investimentos em infraestrutura através do chamado “novo PAC”, sabe-se que os recursos são escassos e as obras extremamente morosas (vide duplicação de um trecho de BR 470 de apenas 76 km). Portanto parece-nos evidente que a alternativa é realmente atrair a iniciativa privada para concessões (ou expansões) de terminais, canais de acesso marítimo e, até mesmo, viabilizar a expansão e construção de novas rodovias e ferrovias.

Por fim, uma palavra sobre a Feira Logistique, que, em novo local, aumentou de tamanho e relevância, num claro reconhecimento da importância para o Brasil dos setores de transporte, armazenagem e logística e, claro, para Santa Catarina, com seus vários portos, terminais e um sem número de instalações retro portuárias, assim como a sede de alguns dos principais agentes de carga do Brasil.

Os painéis e palestras contaram com personalidades como o ex-Presidente Michel Temer, o ex-Ministro da Agricultura Francisco Turra, o Presidente da ABPA Ricardo Santin, o Presidente Executivo da ABAC, Luis Fernando Resano, a Diretora Executiva da ABOL, Marcella Cunha, o Secretario de Portos e Aeroportos de SC, Beto Martins, dentre outros. E, nas conversas de corredor ouvimos algumas boas notícias, tais como: que Itajaí deverá voltar a operar em setembro, que o BTP voltará a operar a plena capacidade ao longo desse mês de agosto, que as obras de reforço dos berços de Navegantes estão dentro do cronograma e que há grandes chances de sair nos próximos meses a retificação do canal de acesso ao porto Itapoá!
Seguindo nesse caminho, quem sabe um dia possamos “virar o disco”!?

Robert GranthamRobert Grantham é sócio da Solve Shipping Intelligence Specialists

 

 

 

 

 

 

 

 

 






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