A gravidez é uma experiência transformadora e pode ser uma jornada almejada por muitas mulheres que estejam dentro e fora do mercado de trabalho. No entanto, em um ambiente competitivo essa vivência ainda carrega diversos desafios e preconceitos que impactam diretamente a igualdade de oportunidades entre os gêneros. Se tratando do setor logístico do qual eu faço parte atualmente, é preciso ter em mente que a presença feminina nesse campo é vital para a diversificação da força de trabalho e a promoção da criatividade e inovação, contribuindo para a melhoria contínua dos processos logísticos e o aumento da eficiência.
Há seis meses, tive meu primeiro filho enquanto atuava como diretora jurídica e de compliance na Total Express, empresa líder de logística integrada, e tive a oportunidade de vivenciar a exceção da regra e contar com apoio e atenção não apenas do corpo diretivo, mas de todos os colegas da empresa, postura que foi fundamental para que houvesse uma conciliação sadia entre minha vida pessoal e profissional, sem que uma comprometesse os cuidados e responsabilidades da outra.
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Da vaga no estacionamento que seria mais adequada para facilitar embarque e desembarque à participação em reuniões de trabalho que eram otimizadas para não prolongar qualquer possível desconforto, passando pela garantia verbalizada pelo CEO da empresa, assegurando que área que dirijo seria atendida prontamente durante minha ausência e que o cargo seguiria a espera do meu retorno, certamente devo boa parte da minha gestação tranquila por estar em um ambiente de trabalho saudável e empático.
Mas, infelizmente, acho que sou uma exceção, pois uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-Rio), que ouviu 247 mil mães, entre 24 e 35 anos, constatou que depois de 24 meses após a licença maternidade quase metade das mulheres estão fora do mercado de trabalho. O número de profissionais que são promovidas entre a gravidez e a licença maternidade é ainda mais baixo, embora não tenhamos dados estatísticos em um volume que permita um estudo mais assertivo. E a questão sobre uma licença-maternidade adequada e a falta de apoio para o retorno ao trabalho após a licença é apenas um dos temas que precisam ser debatidos quando o assunto é a carreira profissional da mulher.
O medo da discriminação e do possível impacto na progressão na carreira é outro desafio enfrentado pelas mães. A incerteza sobre a estabilidade no emprego e a preocupação de que a maternidade possa ser vista como um obstáculo para o avanço profissional são fatores que causam ansiedade e insegurança, uma vez que ainda há um pensamento preconceituoso de que gestantes são menos produtivas, menos comprometidas ou menos capazes de assumir responsabilidades desafiadoras em sua vida profissional.
A transição para a maternidade exige tempo e suporte, tanto emocional quanto prático, para que as mulheres possam voltar ao trabalho de forma tranquila, sem prejudicar sua carreira. Além de cumprir as regras asseguradas pelas leis trabalhistas, é importante adotar políticas internas e estimular uma cultura organizacional que valorize a compreensão e empatia com essa condição, pois assim cria-se um ambiente onde as mulheres podem prosperar sem ressalvas e as empresas mantenham em seus quadros de colaboradores profissionais altamente capacitadas e motivadas.
A falta de representatividade feminina em cargos de liderança no setor de logística é um ponto de atenção que somado ao padrão de atuação do mercado corporativo frente à gravidez e à maternidade só reforçam a necessidade de revisão do tema. A ausência de modelos e mentores femininos pode inibir o crescimento profissional das mulheres, impedindo-as de vislumbrar uma trajetória de carreira bem-sucedida e desafiadora dentro da logística.
Outro bom exemplo da atenção que a Total Express dá ao tema está em sua adesão ao Programa Empresa Cidadã, uma iniciativa da Receita Federal que oferece benefícios fiscais para empreendimentos que adotam licença maternidade e paternidade estendida a seus colaboradores e que dialoga com os valores sociais que a companhia acredita. Por lei, no Brasil, é obrigatória a concessão de 120 dias (quatro meses) de licença remunerada às mães e cinco dias aos pais, mas em uma Empresa Cidadã a licença maternidade passa a ter duração de 180 dias (seis meses) enquanto a licença paternidade passa a ser de 20 dias.
Pessoalmente, foram 10 anos em busca de concretizar tal desejo e o receio do impacto que essa escolha teria em minha vida profissional, justamente por conta do cenário já descrito, foi um dos pontos que prolongaram sua realização. Hoje estou tendo a felicidade de vivenciar a maternidade sem medo, mas essa ainda é uma realidade muito distante da maioria das mulheres.
Os hábitos, comportamentos e costumes têm avançado nos últimos anos e com isso a indústria de logística está no limiar de uma transformação significativa em relação à maneira como trata temas como gravidez e maternidade. O compromisso contínuo com a inclusão, igualdade de gênero e apoio às mulheres durante todas as fases de suas vidas profissionais não apenas melhora a vida dos funcionários, mas também fortalece a indústria como um todo. Ao reconhecer os desafios e enfrentá-los, o setor se prepara para prosperar em ambientes cada vez mais inclusivos. Nesta equação, todos ganham.
De acordo com Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), o mercado de transporte e logística no País deve receber até 2026 cerca de R$ 124,3 bilhões em investimentos pelo setor privado, o que demonstra a robustez do setor. Como um setor integrado, podemos capitanear essa transformação que será uma grande aliada no crescimento do nosso mercado e ampliar a necessidade da conscientização sobre a importância da inclusão e igualdade de gênero, considerando que um homem não enfrenta os mesmos julgamentos e preconceitos quando se torna pai.
A mudança não acontece da noite para o dia, mas é evidente que a integração plena e justa das mulheres em todos os setores, inclusive na logística, é uma necessidade imperativa. Essa transformação profunda de valores e cultura organizacional certamente levará a um setor mais eficiente, dinâmico e adaptável às demandas globais. A equidade de oportunidades deve ser uma prerrogativa no mundo corporativo, garantindo que a maternidade não seja um entrave para o progresso na carreira, mas uma experiência que contribua para um ambiente de trabalho mais humano e produtivo.
Aldrey Liboni é diretora Jurídica da Total Express