PROJETO PARTICIPANTE DO PRÊMIO PORTOS E NAVIOS DE SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL
Resumo
Este estudo de caso apresenta o projeto de pesquisa sobre a flora da Ilha Guaíba. Na Ilha Guaíba está o Terminal da Ilha Guaíba (TIG), situado no município de Mangaratiba, ao sul do estado do Rio de Janeiro. A Ilha Guaíba tem uma área total de 209 hectares (ha), sendo que o TIG ocupa de 51,5 ha deste total. Está licenciado pelo INEA através da LO Nº IN 053340 válida até 21 de agosto de 2029.
O TIG é um terminal de embarque de minério de ferro, que está sob operação da Vale desde 2007. Embarca em média 50 milhões de toneladas por ano, principalmente para a China. Uma média de 10 a 12 composições ferroviárias carregadas de minério de ferro chegam ao TIG diariamente, vindas de Minas Gerais. O acesso ferroviário é feito por um ramal restrito aos trens da MRS Logística e que interliga o continente à ilha através de uma ponte ferroviária com 1.705 metros de extensão, para transporte de minério de ferro.
O estudo de caso tem o foco em biodiversidade e conservação da Ilha Guaíba. O projeto, coordenado pelo Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ) e apoiado pelo Programa de Pesquisa em Biodiversidade da Fazenda Marinha – VALE S.A., catalogou 110 a 123 espécies, incluindo novas espécies e espécies ameaçadas. As metodologias incluem coletas botânicas, expedições mensais e identificação por especialistas. Os resultados foram divulgados em eventos científicos e através de materiais educativos.
Este estudo analisa as intervenções propostas, dificuldades, soluções e impactos do projeto.
Palavras chaves: biodiversidade, conservação, catalogação
Introdução
A Ilha Guaíba, localizada em Mangaratiba-RJ, é uma área de aproximadamente 209 hectares de Mata Atlântica costeira. O projeto de pesquisa sobre a flora da ilha visa catalogar espécies, identificar novas espécies e espécies ameaçadas, e promover a conservação da biodiversidade local. Este estudo de caso apresenta as práticas e resultados do projeto, coordenado pelo Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ) e apoiado pelo Programa de Pesquisa em Biodiversidade da Fazenda Marinha – VALE S.A.
Contexto
A Ilha Guaíba, localizada no município de Mangaratiba, no estado do Rio de Janeiro, constitui uma área de significativa relevância ecológica e estratégica, tanto do ponto de vista ambiental quanto econômico. Com aproximadamente 209 hectares de extensão, a ilha abriga o Terminal da Ilha Guaíba (TIG), uma infraestrutura portuária operada pela VALE S.A. desde 2007, voltada principalmente para o embarque de minério de ferro com destino ao mercado internacional, especialmente à China.
O TIG ocupa cerca de 51,5 hectares da ilha e movimenta, em média, 50 milhões de toneladas de minério por ano, operando com intensa logística ferroviária e marítima. Essa operação envolve a chegada diária de composições ferroviárias com mais de 130 vagões, o armazenamento e a organização do minério em pátios especializados, e o embarque em navios de grande porte por meio de carregadores instalados em um píer com dois berços acostáveis. A estrutura do terminal inclui ainda oficinas, subestações, áreas administrativas, cais de atracação e sistemas de controle ambiental.
Apesar da presença dessa infraestrutura industrial de grande porte, a Ilha Guaíba conserva remanescentes expressivos de Mata Atlântica costeira, o que motivou a realização de um estudo voltado à caracterização e conservação de sua flora. O estudo foi conduzido pelo Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), no âmbito do Programa de Pesquisa em Biodiversidade da Fazenda Marinha – VALE S.A., com o objetivo de identificar, catalogar e avaliar o estado de conservação das espécies vegetais da ilha. A iniciativa também buscou compreender os impactos potenciais das atividades portuárias sobre a biodiversidade local, promovendo ações de educação ambiental e divulgação científica.
A coexistência entre uma operação industrial de alta complexidade e um ecossistema de elevada sensibilidade ecológica torna a Ilha Guaíba um território singular, onde o endemismo, a biodiversidade e a conservação se entrelaçam com desafios logísticos, ambientais e sociais.
Nesse contexto, o presente estudo de caso apresenta o desenvolvimento e os resultados de uma abordagem integrada, que envolveu expedições de campo, coleta e armazenamento de material botânico, identificação de espécies raras e ameaçadas, e a descoberta de uma nova espécie endêmica, Myrcia cupreiflora. Além disso, foram produzidos materiais educativos, como um guia ilustrado e um documentário, com o intuito de ampliar o alcance do conhecimento gerado e sensibilizar diferentes públicos sobre a importância da conservação da flora local. A partir da análise das interações entre o uso industrial do território e a riqueza florística da ilha, este estudo contribui para o debate sobre sustentabilidade, planejamento ambiental e gestão integrada de áreas costeiras no Brasil.
Estudo de caso
O desenvolvimento do estudo sobre a flora da Ilha Guaíba, situada em Mangaratiba-RJ, ocorreu no contexto do Programa de Pesquisa em Biodiversidade da Fazenda Marinha – VALE S.A., sob coordenação do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ). A execução do projeto teve início em agosto de 2022 e se estendeu até dezembro de 2024, com o objetivo de realizar o levantamento florístico da ilha, identificar espécies raras, ameaçadas e novas, e promover ações de conservação da biodiversidade local. A área de estudo, com aproximadamente 200 hectares de Mata Atlântica costeira, apresentou uma vegetação rica e diversificada, incluindo tanto espécies nativas quanto exóticas introduzidas ao longo da ocupação humana.
Durante o período de execução, foram realizadas nove expedições de campo, apesar de limitações logísticas e administrativas enfrentadas no primeiro ano do projeto. As coletas botânicas foram conduzidas com o apoio de embarcações da VALE e táxis náuticos, sendo que, em algumas ocasiões, foi necessária a contratação de guias locais para o acesso às trilhas. As amostras coletadas, totalizando 123 espécimes, foram identificadas por especialistas e estudantes de graduação em Biologia, e posteriormente depositadas no herbário do JBRJ. Além disso, fragmentos foliares foram armazenados em sílica, constituindo o primeiro banco de DNA da flora da Ilha Guaíba, com vistas a futuros estudos em botânica molecular.
O estudo resultou na catalogação de 110 a 123 espécies, entre as quais se destacam exemplares ameaçados de extinção, como Coussapoa curranii e Adiantum mynsseniae, ambas classificadas como Em Perigo (EN), e espécies vulneráveis como Euterpe edulis e Pouteria psammophila. Um dos principais resultados foi a descoberta e descrição de uma nova espécie, Myrcia cupreiflora, endêmica da região e considerada rara. A identificação dessas espécies foi embasada em bibliografia especializada e na comparação com coleções botânicas já existentes.
Como parte das ações de divulgação científica e educação ambiental, foram produzidos um guia digital ilustrado com fotografias das espécies e um documentário de 18 minutos, que apresenta a rotina dos pesquisadores, entrevistas com a equipe e a relevância do projeto para a conservação da flora local. Os resultados também foram apresentados no 74º Congresso Nacional de Botânica, em Brasília, por meio de uma mesa-redonda. Os produtos alcançados demonstram a efetividade do estudo e sua contribuição para o conhecimento e preservação da biodiversidade da Ilha Guaíba.
Conclusões
O projeto de pesquisa sobre a flora da Ilha Guaíba atingiu seus objetivos de catalogar espécies, identificar novas espécies e espécies ameaçadas, e promover a conservação da biodiversidade local. As intervenções propostas foram eficazes, apesar das dificuldades logísticas e de identificação de espécies raras. As aprendizagens incluem a importância da colaboração com especialistas e o uso de tecnologias avançadas para estudos de DNA. As oportunidades futuras envolvem a personalização de LLMs para usos específicos.O impacto do projeto foi significativo, beneficiando diretamente a equipe do projeto e indiretamente o público através de palestras e documentários.
Entre as espécies identificadas na Ilha Guaíba, destaca-se a descoberta de *Myrcia cupreiflora* (Myrtaceae), uma nova espécie descrita recentemente e endêmica da Mata Atlântica do estado do Rio de Janeiro. Essa espécie é morfologicamente semelhante a *Myrcia strigipes*, mas distingue-se por características únicas como:
Folhas: fortemente bulladas (com bolhas) e densamente pontuadas na face inferior.
Inflorescências: axilares e terminais, com coloração acobreada e indumento estrigoso (pelos rígidos).
Botões florais: com cálices completamente fundidos, que se rasgam verticalmente em 4–5 sépalas homogêneas na antese.
Frutos imaturos: globosos, glandulares e pubescentes.
A espécie foi registrada em apenas dois fragmentos florestais, sendo um deles na própria Ilha Guaíba, com coletas realizadas em junho (botões florais) e agosto e outubro (frutos imaturos). Apesar de ocorrer em área protegida (APA de Mangaratiba), *Myrcia cupreiflora* enfrenta ameaças devido à urbanização, turismo e atividades portuárias, sendo classificada como **Em Perigo (EN)** segundo os critérios da IUCN, com uma área de ocorrência estimada em apenas 79km².
Essa descoberta reforça a importância da conservação da flora local e da continuidade de projetos de pesquisa como o desenvolvido na Ilha Guaíba, que contribuem significativamente para o conhecimento e preservação da biodiversidade brasileira.
Referências
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ). Relatório de Atividades Final.
VALE S.A. Programa de Pesquisa em Biodiversidade da Fazenda Marinha.
74º Congresso Nacional de Botânica. Apresentação para o Evento de Biodiversidade.
Documentário sobre a Flora da Ilha Guaíba.
Guia digital ilustrado sobre a Flora da Ilha Guaíba.