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Artigo - Transbordo flutuante: inovação sustentável no escoamento de grãos pelo Arco Norte

PROJETO PARTICIPANTE DO PRÊMIO PORTOS E NAVIOS DE RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL

Na complexa malha logística brasileira, o Arco Norte vem ganhando relevância como uma alternativa estratégica para o escoamento da produção agrícola do Centro-Oeste, impulsionado por sua posição geográfica favorável e pelo potencial logístico ainda em desenvolvimento. Nesse cenário, a Mega Logística, empresa genuinamente paraense, protagoniza uma transformação significativa ao implantar um modelo inovador de operação portuária: o Sistema de Transbordo Flutuante (STF), atualmente em operação no Porto de Vila do Conde (PA). A solução rompe com os modelos convencionais de infraestrutura ao dispensar estruturas fixas, armazéns e grandes áreas de retroporto. Em seu lugar, utiliza uma barcaça equipada com guindaste do tipo grab, com capacidade de 30 m³, que realiza a transferência direta de grãos entre barcaças fluviais e navios graneleiros amarrados a um sistema de boias, viabilizando a exportação diretamente sobre o leito do rio, de forma contínua, econômica e com baixo impacto ambiental.

Por ser o primeiro projeto com essas características no Brasil, um dos principais desafios foi a obtenção das licenças junto aos órgãos competentes. Foram necessários seis anos de estudos técnicos, consultas e processos de autorização até que o sistema fosse plenamente regularizado e pudesse operar de acordo com os parâmetros ambientais da região. Desde sua entrada em operação, em 2021, o STF da Mega Logística já movimentou mais de cinco milhões de toneladas de grãos, provenientes majoritariamente de áreas produtoras do Centro-Oeste. A estrutura é 100% flutuante, o que elimina a necessidade de obras permanentes e, consequentemente, evita qualquer tipo de desmatamento. Essa característica confere ao projeto um diferencial de excelência ambiental. Além disso, como a operação é feita exclusivamente por via aquaviária, há uma redução significativa no tráfego rodoviário, o que contribui para menores emissões de carbono, menos desgaste da infraestrutura terrestre e maior eficiência logística.

Do ponto de vista operacional, o modelo também se mostra altamente competitivo. Com um line-up independente e um sistema de carregamento otimizado, o STF proporciona redução de aproximadamente 80% nos custos com demurrage, agregando valor à cadeia logística de exportação. Trata-se de uma solução que combina flexibilidade operacional com alta performance em regiões portuárias saturadas.

A sustentabilidade do projeto, no entanto, vai além do aspecto ambiental. A Mega Logística estruturou a operação com forte presença de mão de obra local, especialmente de comunidades ribeirinhas, que já dominam a navegação fluvial da região. Ao todo, mais de 120 empregos diretos foram gerados, fortalecendo a economia local e promovendo inclusão produtiva. A valorização dos saberes tradicionais e a oferta de capacitação técnica contribuem para a permanência da população em seus territórios, integrando desenvolvimento logístico e responsabilidade social.

Com investimento inicial de R$ 38 milhões — valor significativamente inferior ao necessário para projetos de terminais portuários convencionais —, o STF apresenta retorno operacional expressivo. Diante dos resultados, a Mega Logística projeta a expansão do modelo para outras localidades estratégicas, como Santarém (PA) e diversos Terminais de Uso Privado (TUPs) ao longo do corredor hidroviário amazônico. A operação integra-se ainda a uma malha logística multimodal: os grãos partem por caminhão das áreas produtivas até o Sistema de Tombamento Flutuante da Mega Logística em Porto Velho (RO), onde são tombados diretamente em barcaças e seguem por via fluvial até Vila do Conde, onde são transbordados para exportação. Essa configuração reduz a quilometragem rodoviária, amplia a vida útil das estradas e eleva os níveis de previsibilidade e segurança logística.

Embora tecnicamente simples, o modelo proposto amplia a visibilidade do Arco Norte como corredor de exportação competitivo, geograficamente estratégico, mas historicamente carente de investimentos robustos em infraestrutura portuária. Trata-se de uma revolução silenciosa, porém eficaz, que transformou os rios amazônicos em corredores logísticos sustentáveis e conectou, com inteligência e responsabilidade, a produção do interior brasileiro ao mercado global — tudo isso sem desmatar um único hectare.

Marina TeixeiraMarina Teixeira é diretora de Marketing do Grupo Mega

 

 

 

 

 

 

 

 

 






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