Desinvestimentos da Petrobras atraem novos produtores de óleo e gás para o Brasil

Ao menos quatro petroleiras aproveitaram as oportunidades de negócios geradas pelo programa de venda de ativos da Petrobras e se preparam para produzir seus primeiros barris de petróleo no Brasil, a partir de 2020. Petronas, Karoon, Trident Energy e 3R Petroleum fecharam negócios com a estatal, da ordem de US$ 3 bilhões, e vão estrear como produtoras de óleo e gás no país.

Juntas, as empresas assumirão uma produção média de 110 mil barris diários de óleo equivalente (BOE/dia), segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O volume equivale a cerca de 3% de toda a produção nacional de petróleo e gás natural.

O grande destaque fica por conta da Petronas, da Malásia, uma das maiores petroleiras do mundo, com uma produção de 2,3 milhões de barris de óleo equivalente (BOE/dia) — um pouco abaixo dos volumes produzidos pela Petrobras (2,7 milhões de BOE/dia). A companhia malaia pagará US$ 1,29 bilhão para assumir uma fatia de 50% dos contratos do campo de Espadarte e do bloco BM-C-36 (Tartaruga Verde), na Bacia de Campos.

Na sexta-feira, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) assinou os termos aditivos da cessão. A operação lhe garantirá, de entrada, uma produção de cerca de 56 mil BOE/dia, volume suficiente para alçar a empresa ao posto de uma das cinco maiores produtoras estrangeiras de petróleo e gás natural do Brasil, com base no ranking atual.

A aquisição é mais um capítulo de um movimento recente de investida da Petronas no mercado brasileiro. A estatal da Malásia vinha, há anos, mapeando oportunidades de negócios no país e chegou a fechar um acordo com a OGX, em 2013, para comprar 40% do campo de Tubarão Martelo, na Bacia de Campos, mas desistiu da operação depois que a antiga petroleira do empresário Eike Batista entrou em recuperação judicial.

Este ano, finalmente, a companhia sacramentou sua estreia no Brasil, com a compra de Tartaruga Verde e uma participação ativa na 16ª Rodada de concessões da ANP. Ao todo, a empresa pagou R$ 1,945 bilhão por três blocos na Bacia de Campos. O negócio marca a estreia da petroleira na atividade de exploração de óleo e gás, no Brasil.

O momento aquecido de fusões e aquisições de ativos de produção de óleo e gás marca também o surgimento de novos formatos de financiamento no mercado brasileiro.

A Trident Energy, petroleira independente que conta com recursos do fundo de investimento Warburg Pincus, comprou, por US$ 851 milhões, os polos de Pampo e Enchova, na Bacia de Campos, utilizando o modelo chamado Reserve Based Lending (RBL) — que consiste na utilização de reservas como garantia para empréstimos bancários. A modalidade foi regulamentada neste ano pela ANP.

Com a aquisição, a Trident assumirá uma produção de cerca de 25 mil BOE/dia, oriunda de campos maduros que produzem desde os anos 1980 e que passarão por investimentos em revitalização. A companhia já manifestou que identificou “projetos atrativos para aumentar a produção e estender a vida útil dos campos”.

Campos maduros

No mercado, a expectativa é que a saída da Petrobras desses campos maduros — que pouco receberam investimentos da estatal nos últimos anos — desencadeie novos projetos de revitalização dessas áreas. Esse é o espírito da 3R Petroleum, empresa brasileira criada com foco na recuperação de campos maduros terrestres e que conta com o suporte financeiro de fundos geridos pela gestora Starboard. A 3R comprou o Polo Macau, que engloba sete campos no Rio Grande do Norte, por US$ 191,1 milhões.

A Karoon, petroleira australiana que já fez algumas descobertas na Bacia de Santos, mas que ainda não produz no país, também resolveu aproveitar as oportunidades de negócios do plano de desinvestimentos da Petrobras para antecipar a sua produção no Brasil. A companhia fechou contrato com a estatal brasileira para comprar Baúna, no pós-sal de Santos, localizado próximo dos campos de Neon e Goiá, descobertos pela companhia australiana. Com isso, a empresa pretende antecipar sua geração de caixa no mercado brasileiro, enquanto ainda tenta viabilizar a produção de seus projetos próprios.

Contexto
Essas quatro empresas, contudo, não são as primeiras petroleiras a se posicionarem como produtoras de óleo e gás no Brasil, por meio do programa de desinvestimentos da Petrobras. A Perenco estreou este ano, como produtora de petróleo no país, ao concluir em outubro a compra dos polos de Pargo, Carapeba e Vermelho, conjunto de campos maduros localizados em águas rasas da costa do Estado do Rio de Janeiro. A empresa franco-britânica desembolsou US$ 398 milhões pelas áreas.

O programa de venda de ativos também serviu para reforçar a presença de petroleiras que já atuavam no país. Empresas como a Equinor, PetroRio, Petrorecôncavo, Imetame e Central Resources ampliaram a sua presença no mercado brasileiro, com a aquisição de ativos da estatal brasileira. Já a francesa Total, que já atuava no Brasil, garantiu, com a compra do campo de Lapa, na Bacia de Santos, a sua estreia como operadora (líder de consórcio) no pré-sal.

Fonte: Valor


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