A Global Logistic Properties (GLP), maior grupo de galpões logísticos do Brasil, planeja entrar no setor de infraestrutura nos próximos anos. Até 2022, a companhia tem como alvo ao menos 15 projetos, nas áreas de rodovias, aeroportos e portos, segundo o presidente, Mauro Dias.
“A empresa já estava em um processo de diversificação, olhando outras áreas no ecossistema de logística. E o setor de infraestrutura terá muitas oportunidades”, diz.
O profundo conhecimento da cadeia logística brasileira, o acesso da companhia ao mercado de capitais e o alto número de projetos que serão leiloados nos próximos anos são alguns dos fatores que vão favorecer a entrada nesse segmento, afirma o executivo. “Haverá espaço. Os players que atuam hoje no mercado não são suficientes para dar conta de todo o pipeline dos governos.”
A primeira tentativa de entrar no segmento ocorreu no fim de setembro, no último leilão rodoviário, da BR-364/365, entre Minas Gerais e Goiás. O grupo concorreu em consórcio com construtoras locais, mas não teve sucesso - o ativo foi arrematado pela Ecorodovias.
A concessão da BR-364/365 tinha exatamente o perfil das rodovias que a GLP quer operar, com predominância de veículos pesados e foco no escoamento de carga. Porém, um fator de risco que tornou a proposta do grupo mais conservadora, neste leilão, foi a incerteza em relação ao tráfego da via, afirma Danillo Marcondes, diretor de Infraestrutura do grupo - a área foi criada dentro da empresa em fevereiro deste ano.
Outra rota que se encaixa na estratégia do grupo, por exemplo, seria a BR-153 - o trecho entre Tocantins e Goiás está na lista das concessões federais previstas para 2020. Em relação ao corredor Piracicaba-Panorama, concessão que será licitada pelo governo paulista em novembro, Marcondes classifica o ativo como interessante, devido a seu grau de maturidade, mas não confirma a participação.
A decisão de firmar consórcios com outros grupos para participar das concorrências também será analisada caso a caso, diz ele.
“O setor de rodovias já viveu todo um ciclo de concessões e amadureceu. Os contratos evoluíram muito, assim como o nível de fiscalização. Não há mais espaço para aventuras”, afirma Dias.
No segmento de aeroportos, a companhia está analisando preliminarmente os três blocos da sexta rodada de concessões, que deverão ir a leilão no segundo semestre do ano que vem. Nessa concorrência, serão ofertados três grupos de aeroportos: no Sul (bloco que inclui Curitiba, Navegantes e Foz do Iguaçu); no Norte (com Manaus e Porto Velho, entre outros); e no Centro e Nordeste do país (Goiânia, São Luís, entre outros).
Em portos, há interesse em terminais de grãos e contêineres. “Estamos olhando oportunidades no Brasil inteiro, não há uma região específica”, diz o presidente.
Apesar da decisão de investir em infraestrutura, o segmento de galpões continuará a ser o principal negócio da GLP no Brasil. Em setembro, a empresa chegou à marca de 1 milhão de metros quadrados construídos, com a entrega de 30 mil metros quadrados em Gravataí (RS), para um cliente de comércio eletrônico, e a expansão do parque de Guarulhos (SP). A ocupação dos empreendimentos - 3 milhões de metros quadrados, incluindo desenvolvimentos e aquisições - chega a 93% do total.
As entregas previstas para o acumulado deste ano e para o primeiro trimestre de 2020 somam 518 mil metros quadrados, com 300 mil metros quadrados desse total em 2019. No começo do próximo ano, a GLP concluirá um projeto que está sendo construído sob medida para o Grupo Pão de Açúcar, em Duque de Caxias (RJ), e o novo empreendimento erguido em Jundiaí (SP). Os investimentos totalizam R$ 530 milhões em 2019.
Daqui para frente, as apostas em galpões vão se concentrar no desenvolvimento de projetos localizados no raio de 30 quilômetros do centro da cidade de São Paulo. O foco será atender à demanda de empresas de comércio eletrônico que abastecem o maior mercado consumidor do país e que, ao conquistar clientes do varejo tradicional, crescem mesmo quando não há expansão da economia.
A companhia já captou 40% de um fundo de R$ 3,1 bilhões para o desenvolvimento de 1,3 milhão de metros quadrados de galpões nas proximidades da capital paulista, para os quais já possui terrenos. Até janeiro, o grupo prevê captar com investidores outros 40%. Os demais 20% ficarão com a GLP.
Considerando-se apenas contratos típicos de aluguel, o volume de novas locações fechado pela GLP cresceu 42% de janeiro a setembro, na comparação anual, para 196 mil metros quadrados. Se incluídos projetos construídos sob medida, o resultado deste ano passa a ser pior que o de 2018. Isso porque, conforme Dias, o contrato de “build to suit” para o Mercado Livre, em Cajamar, distorce a base de comparação.
Com US$ 66 bilhões de ativos sob gestão, a GLP é um grupo de Cingapura, controlado por investidores internacionais de longo prazo, com atuação em nove países. No ano fiscal encerrado em março de 2018, o grupo teve receita de US$ 1,18 bilhão.
Fonte: Valor