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Futuro da navegação autônoma é tema de palestra na Navalshore

USV "Tupan" da startup TideWise foi a primeira embarcação autônoma registrada pela Marinha e a primeira embarcação autônoma brasileira a navegar no exterior, em uma operação no Mar do Norte

As embarcações remotas devem ditar os rumos da navegação, concordam os palestrantes do painel sobre Navegação Autônoma na conferência realizada nesta quarta-feira (17) no segundo dia da Navalshore 2022.

Com um modelo de negócios focado na oferta de serviços via sistemas não tripulados, descritos como “drone as a service”, a startup TideWise – uma das expositoras da feira – busca solucionar desafios da indústria marítima, por meio de sua capacidade em desenvolver tecnologias que otimizem as operações, reduzindo custos e riscos e aumentando a taxa de utilização de seus sistemas autônomos.

“Nosso foco é coletar mais dados, mais valor e com menos riscos e menos impacto ambiental, por meio de embarcações não tripuladas, que consumam menos combustíveis. Temos tido um grande aprendizado nesse sentido, nos últimos três anos, operando legalmente junto à Marinha do Brasil, além de continuarmos a desenvolver novos projetos com demais órgãos reguladores do país”, disse o CEO da TideWise, Rafael Coelho, durante a conferência.

Criada em 2019, a empresa desenvolveu o USV "Tupan", sua primeira embarcação autônoma multipropósito, que foi lançada ao mar em agosto de 2020. Em entrevista exclusiva à Portos e Navios, Coelho destacou que, desde então, a startup vem realizando projetos de PD&I (Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação) e operações nas áreas portuárias, costeiras e offshore.

“O USV "Tupan" foi a primeira embarcação autônoma registrada pela Marinha do Brasil e a primeira embarcação autônoma brasileira a navegar no exterior, em uma operação no Mar do Norte, realizada entre maio e junho de 2022”, informou o executivo.

Ele salientou que a TideWise passa por um momento de consolidar sua atuação na área de operações offshore em águas brasileiras, que inclui o desenvolvimento da primeira embarcação autônoma para transporte de passageiros do Hemisfério Sul, que está prevista para ser lançada no Rio de Janeiro, ainda em 2022, além de reforçar a posição da startup como referência regional no desenvolvimento e operação de embarcações autônomas.

“Em médio prazo, pretendemos converter uma embarcação tripulada (convencional) em não tripulada, por meio da implementação do WiseControl. Queremos expandir a empresa para o mercado europeu, desenvolver uma frota de embarcações autônomas em águas brasileiras, disponibilizar embarcações para serviços na Europa e ser uma referência global no desenvolvimento e operação de embarcações autônomas”, adiantou o CEO da TideWise.

Na visão do executivo, a inovação que envolve os sistemas não tripulados é uma tendência irreversível, que está sendo observada de forma global, principalmente em relação aos serviços que demandam a otimização de custos, segurança e confiabilidade. “Na indústria offshore, isso pode ser notado pela automatização de operações, a partir do crescente uso de ROVs (Remotely Operated Underwater Vehicle), AUVs (Autonomous Underwater Vehicles) e UAVs (Unmanned Aerial Vehicles)”, citou.

Conforme Coelho, hoje em dia, considerando a versatilidade das aplicações, o uso de USVs vem aumentando rapidamente, em especial porque suas aplicações variam desde o transporte de cargas, vigilância, levantamentos batimétricos até o uso como nave-mãe para operações com ROVs.

“Não enxergamos as embarcações autônomas como substitutas de profissionais humanos, mas como potencializadoras de suas atividades. A capacidade de gerenciar e operar embarcações não tripuladas, em qualquer lugar do mundo, a partir de centros de controle remotos, significa que menos pessoas precisam trabalhar em ambientes offshore extremos e potencialmente perigosos. Além disso, os USVs são veículos extremamente eficientes para a aquisição de dados, permitindo que a equipe marítima priorize tarefas analíticas complexas, em vez de gastar tempo apoiando atividades básicas de navegação”, salientou o executivo.

Tecnologia 4.0

Também presente na Navalshore, durante o painel sobre Navegação Autônoma, Denise Grundler, gerente executiva da Companhia de Navegação Norsul, fez um breve esboço sobre a atuação da empresa no Brasil no transporte de cabotagem, destacando suas tecnologias inovadoras e de desenvolvimento sustentável, como o programa Carbono Neutro, que visa à mitigação dos gases de efeito estufa (GEE), além de recentes experimentos em operação remota de pequenas embarcações.

A Norsul já utiliza a tecnologia 4.0 em suas embarcações a partir de um inovador sistema de monitoramento, que proporciona maior segurança à tripulação e aos serviços entregues pela empresa. Da sala de comando, conforme a companhia, 280 sensores podem ser monitorados, em média, por meio de gráficos e painéis gerenciais, que mostram informações como velocidade, consumo de combustível, posição, vento, corrente, rumo, direção, temperatura etc.

Os dados são transmitidos para um servidor em nuvem via conexão 3G/4G, utilizando a rede disponível de uma das quatro operadoras de telefonia móvel no país ou por internet via satélite. Segundo a Norsul, essa tecnologia também é responsável pelo ganho de tempo na atualização do posicionamento das embarcações e transmissão das informações, que passou de seis em seis horas para dois em dois minutos, atualmente. O projeto será ainda beneficiado com a tecnologia 5G, que chega ao país neste semestre. 

“Por meio do controle remoto, utilizando inovações como a Internet das Coisas (IoT) e a computação em nuvem, nós temos o controle das nossas embarcações na palma da mão, graças à digitalização da navegação”, disse ela, durante a conferência da Navalshore, destacando que a Norsul já contabiliza 104 mil horas de monitoramento remoto.

Denise também destacou a importância da cooperação mútua entre o setor privado e a Marinha do Brasil, como reguladora nacional, e os ensaios práticos como chave para a implementação de novas tecnologias no país, a exemplo da navegação autônoma.

“Esse mercado está em evolução e crescerá muito nos próximos cinco anos. Como o Brasil possui uma costa de 7.500 quilômetros, o país é um excelente local para exercícios de treinamentos com essas embarcações, não só pela extensão do litoral, mas também pela presença de vários portos ao longo dele permitindo o teste em curtas distâncias”, analisou Denise, via assessoria de comunicação da Norsul.

Ela ainda reforçou que a demanda ambiental vem alavancando a tecnologia na navegação, que pode ter dados com exatidão via sistemas de Inteligência Artificial (IA). “O nicho da navegação ainda é pouco digital, considerando a indústria como um todo, e essa modernização ainda é nova, apesar de necessária ao setor. E não apenas para automatizar processos, mas também porque possibilita o acesso a dados precisos das operações que são essenciais para manutenção, segurança e mais, dando mais espaço para melhorias também. Além da telemetria, a Norsul possui outras inovações, porque entende que a tecnologia é a chave do futuro sustentável”, destacou Denise, via assessoria.
 
Na visão dela, as embarcações autônomas serão uma verdadeira revolução no cenário marítimo, que terá cada vez mais demanda com a urgência da pauta ambiental: “A inteligência artificial melhora a segurança, facilita a manutenção e ainda proporciona a preservação da vida marinha. A digitalização dos processos é o caminho, inclusive, para cuidar das emissões de CO2 no setor e ajudar na transição energética”. 

Também presente na conferência, o tenente da Marinha do Brasil e professor Igor de Brito Guimarães citou algumas diretrizes da IMO (Organização Marítima Internacional), comentando o desenvolvimento da regulamentação internacional sobre navios autônomos marítimos. “A IMO está trabalhando em um novo instrumento para navios autônomos marítimos, que deve entrar em vigor – como não obrigatório – em 2025 e como obrigatório em 2028”, disse.

Já o presidente da Sociedade Brasileira de Marinha Mercante (Sobramam), Rodrigo Cintra, lembrou sobre a importância do aspecto humano em torno da implementação de novas tecnologias, além da necessidade de melhorar a formação e a educação dos marítimos brasileiros, para que possam acompanhar a nova e inevitável revolução tecnológica. “É importante dizer que, por trás da inteligência artificial, há muita inteligência humana”, disse.

Durante o debate, que contou com a presença do chairman russo Aleksander Prinsky, do Conselho da Associação da Indústria Marinet, foi unânime a conclusão de que o Brasil tem aptidão para introduzir a navegação autônoma, principalmente por conta da sua continentalidade, como forma de garantir a atratividade da bandeira brasileira, por meio de extensos experimentos na frota costeira, da experiência estrangeira disponível e da cooperação internacional das universidades.






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