“Do jeito que as coisas estão indo, vamos virar uma grande colônia da China”, sentencia o presidente da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Luiz Aubert Neto, sobre o processo de desindustrialização no Brasil. Em encontro ontem com associados da regional Sul da entidade, Aubert Neto afirmou que a indústria de transformação brasileira não está mais suportando a concorrência asiática, as pressões do câmbio e a carga tributária, velhos conhecidos e rivais dos segmentos industriais.
O presidente da Abimaq sinaliza a gravidade da situação, principalmente no setor de máquinas, através do número de empregos perdidos recentemente. De acordo com ele, entre outubro de 2011 e janeiro deste ano, foram demitidos 2,5 mil funcionários divididos entre as 4 mil empresas associadas à entidade. Além disso, o empresário argumenta que o uso da capacidade instalada está abaixo do observado no pico da crise financeira de 2008. “O Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) de janeiro deste ano é o mais baixo desde 1990”, diz. “São 22 anos onde a gente nunca teve isso, nem na crise de 2008, onde o nível de utilização chegava a 74%, hoje estamos com 72%, o que mostra que esse ano para nós já está perdido”, acrescenta.
Aubert Neto lembra que cada vez mais componentes das máquinas e equipamentos são provenientes da Ásia, fator que não exclui a possibilidade de faturamento para os empresários, que contam com a opção de se tornarem importadores. Ele alerta, porém, que a geração de empregos e o caminho do desenvolvimento brasileiro correm sérios riscos com o panorama hoje visto na indústria de transformação. O dirigente alega que o País está se “reprimarizando”, vendendo matéria-prima a preço baixo e ostentando altos custos para transformar esses mesmos insumos, que acabam por ser importados novamente. Com isso, ele questiona: “Esse é o Brasil que nós queremos?”
Para o empresário, é inconcebível que o Brasil tenha 70% das reservas de minério de ferro, por exemplo, e produza apenas 2% do aço em escala global. A estratégia para reanimar a indústria e reverter quadros como o do próprio minério de ferro, segundo Aubert Neto, está na coragem do governo de realizar reformas que vêm sendo reivindicada há anos pelos setores produtivos. A instituição de uma política industrial também é fundamental, já que para o presidente da Abimaq, o setor tem que se virar “aos trancos”, com medidas pontuais adotadas em momentos de aperto.
Defendendo a baixa dos juros de mercados para além da Selic, o dirigente pontua que o comando correto do câmbio, associado à desoneração dos investimentos e a concessão de crédito de longo prazo e juros baixos também para os investimentos, formam a conduta ideal para solucionar os problemas da indústria, em uma estratégia que espelha políticas de países desenvolvidos.
Para dar voz a essas reivindicações, A Abimaq e outras 30 entidades, representantes de empresários, trabalhadores e estudantes, estão de mobilizando e lançam no dia 26 o movimento Grito de Alerta. A primeira ação será em Porto Alegre, em uma marcha que sairá do Centro da Capital em direção ao Palácio Piratini. “Com tantas pessoas unidas, o governo vai ver que não estamos contra, mas a favor dele e das reformas que tanto precisamos”, afirma Aubert Neto. “Em São Paulo, estamos esperando entre 100 mil e 120 mil pessoas, está na hora de o governo se atentar para isso”, completa.
Reunião debate gargalos do setor produtivo em 2012
Com a proximidade do anúncio do plano de incentivo à indústria gaúcha, o governador do Estado, Tarso Genro, esteve reunido com os presidentes da Fiergs, Heitor Müller, da Farsul, Carlos Sperotto, e do Sinduscon-RS, Paulo Vanzzeto Garcia, na tarde de ontem no Palácio Piratini. Na pauta do encontro foram abordados temas como a construção do novo aeroporto regional, a reinserção do carvão mineral na matriz energética do Rio Grande do Sul e as atualizações das perdas provocadas pela estiagem, não só no agronegócio, mas também na indústria e na prestação de serviços.
Sobre o pacote de medidas que deve ser lançado na próxima semana, com itens que contemplam 22 segmentos, divididos entre economia tradicional e nova economia, o presidente da Fiergs adiantou que a principal reclamação colhida entre 18 setores industriais se refere à dificuldade de obtenção de licenças da Fepam. De acordo com Müller, Tarso se mostrou receptivo às discussões sobre a utilização do carvão para geração de energia e à necessidade de um novo aeroporto em um prazo de no máximo oito anos. Segundo ele, os três estados da região Sul (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná) estudam uma campanha para sensibilizar as autoridades sobre os benefícios do carvão.
Fonte: Jornal do commercio (RS)/Mayara Bacelar
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