Suprimento de energia é o nó que a Votorantim Siderurgia, braço de fabricação de aço do grupo, busca desatar até o fim deste ano para sua controlada Acerbrag - Aceros Bragado - na Argentina. Após assumir o controle integral da empresa no fim de 2010, a VS traça um plano que permita a expansão de sua controlada no país vizinho e aproveitar o aumento do consumo no mercado local. A chegada à Argentina se deu no fim de 2007, com a aquisição de 27,2% do capital da companhia, participação que foi elevada a 53% menos de seis depois. Agora, o grupo brasileiro é dono de 100%.
A Acerbrag é a segunda maior produtora de aços longos do país, produto utilizado principalmente na construção civil. O grupo não revela o montante desembolsado na aquisição, porém especialistas do setor estimam valor de US$ 250 milhões num ativo com suas especificações.
A empresa fica na província de Buenos Aires, a 200 km da capital argentina, nos pampas úmidos do país - região envolta em plantações de trigo, milho e soja e em atividades de pecuária. É a principal indústria de Bragado, cidade com 40 mil habitantes. A aquisição significou o segundo investimento da Votorantim fora do Brasil. No começo de 2007, o grupo havia entrado na Colômbia, comprando a Acerias Paz del Rio.
"A empresa tem instalações (forno elétrico, aciaria e laminação) para mais de 400 mil toneladas de produtos por ano, mas está limitada a 280 mil - volume alcançado em 2010 - devido à oferta de energia", diz Albano Chagas Vieira, diretor-superintendente da VS. A Acerbrag, como outras mini-usinas de aço longo, funde sucata de ferro e aço em forno elétrico, o que demanda grande quantidade de energia elétrica.
Hoje, à siderúrgica são fornecidos no máximo 50 MW. Entretanto, a usina está apta a operar com até 64 MW. Em certas épocas do ano, a prioridade no país é garantir energia para uso residencial. Isso obriga paralisações periódicas e pontuais nas atividades industriais eletrointensivas. Em janeiro, por exemplo, devido ao forte calor na região, teve de parar a fábrica durante seis horas num certo dia.
Segundo Vieira, para crescer, e operar no nível de 400 mil toneladas, a empresa terá de assegurar mais 20 MW de energia pelo menos. "Há um plano do governo de instalar uma nova subestação em Bragado, o que resolveria o problema. Se até o fim do ano isso não for avante, vamos montar uma térmica, a coque de petróleo ou a carvão, com essa potência". O investimento na obra, que levaria 24 meses, está estimado em US$ 20 milhões.
Desde a aquisição pela VS, com mais produção e mudanças no mix de produtos, a receita cresceu de US$ 160 milhões para US$ 250 milhões, valor que foi fechado no ano passado. A avaliação é que somente com novo aumento de oferta possa elevar a receita em 30% no futuro - a partir de 2014.
A Acerbrag fabrica aços para a construção civil - vergalhões, barras, arames, telas soldadas - e para o mercado agrícola: arames trefilados e galvanizados (usados em cercas). Em meados de 2008, quando a Votorantim assumiu o controle, a siderúrgica detinha 14% do mercado argentino de aços longos e ficava em terceiro lugar, atrás da Sipar (grupo Gerdau) e da líder Acindar (grupo ArcelorMittal, com 60%). A atualmente, como segunda, a participação fica entre 15% e 20%.
Nas vendas locais, 75% são para a construção civil e 25% para os segmentos agrícola e pecuário. Apenas em torno de 5% é exportada para o Cone Sul - Uruguai, Paraguai, Chile e Bolívia e Brasil.
Fundada em 1964, a siderúrgica de Bragado foi adquirida em 1997 pelo grupo Lupier S.A., que tem atuação na petroquímica e outros setores, como fabricação de colchões. A Acerbrag entrou em crise financeira no fim dos anos 80 e paralisou suas operações de vez em 1992. O novo controlador fez um plano de investimento de US$ 80 milhões para modernização da usina, que estava com as instalações obsoletas.
O plano do empresário Pedro "Piero" Vara, um dos donos do Lupier, foi atropelado pela depressão econômica do país em 2001. Apesar disso, levou avante o projeto de modernização da Acerbrag, que entrou em funcionamento em 2005, com nova aciaria e novo laminador, passando a operar no ritmo de 250 mil toneladas por ano. A morte repentina de Piero, em março de 2004, levou sua irmã e sócia, Luisa Vara, e seus herdeiros a buscar um investidor estratégico para a companhia.
Desde que assumiu, a VS investiu US$ 10 milhões em melhorias da empresa e capacitação de pessoal. Outros US$ 10 milhões estão previstos, conforme acordo com o órgão ambiental, em equipamentos adicionais antipoluententes. E US$ 4 milhões estão sendo aplicados numa enorme máquina de triturar e separar sucata. Além disso, comprou um terreno contíguo para novas ampliações.
Inicialmente, a Votorantim entrou na siderúrgica participando da gestão, conhecendo melhor a empresa e avaliando o potencial do mercado. A demanda de aços longos no país crescia ao ritmo de 5% nos dez anos anteriores e tinha perspectivas de atingir 7% no futuro. Fechou 2010 em torno de 10% e a previsão atual é de 12%.
Na época, a oferta limitada de energia era um ponto preocupante, principalmente no inverno. "Estamos estudando alternativas de diversificação das fontes de suprimento e o governo tem vários projetos para ampliar a oferta", explicou na época João Bosco Silva, diretor-superintendente da Votorantim Metais. A aquisição era vista como estratégica: além de contar com instalações modernas, a Acerbrag tinha sinergias operacionais com as unidades da Colômbia e Brasil.
Com novo alto-forno na colombiana Paz del Rio, com sobra de ferro-gusa, cerca de 150 mil toneladas serão transferidas para atender o aumento da produção na Acerbrag quando tiver mais energia, partir de 2014, para poder operar à plena capacidade.
Fonte: Valor Econômico/Ivo Ribeiro | De São Paulo
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