O Brasil pode se transformar no maior produtor de minério de ferro na carteira de negócios da sul-africana Anglo American. A estratégia da multinacional é produzir 150 milhões de toneladas anuais da matéria-prima em 2016, das quais entre 80 a 90 milhões de toneladas em minas brasileiras. O salto na produção pode garantir à Anglo participação de 11% no mercado transoceânico de minério de ferro ante apenas 3% hoje. "Nós vemos o Brasil com uma posição ainda maior no nosso portfólio no futuro", disse ao Valor a americana Cynthia Carroll, presidente-executiva da companhia.
A executiva está no Brasil para uma visita de dois dias, quando irá a Belo Horizonte (MG) encontrar-se com a equipe envolvida com o projeto de ferro - que enfrenta alguns desafios importantes para sua concretização na área ambiental e de infraestrutura. Irá também a São Paulo, onde se reunirá com a equipe do segundo maior investimento no país, uma mina e fundição de níquel, em implantação no norte de Goiás. A empresa tem programados investimentos de US$ 5,4 bilhões no país até 2012 em dois grandes projetos - Barro Alto, de níquel, de US$ 1,8 bilhão, e o de minério de ferro Minas-Rio, em Minas Gerais, o maior investimento do grupo no mundo, de US$ 3,6 bilhões. Trata-se de um projeto integrado de mina, planta de beneficiamento, mineroduto e porto. O primeiro embarque de minério de ferro está previsto, no novo cronograma do empreendimento, para junho de 2012. Inicialmente, era 2010. "O minério de ferro vem ganhando importância para nós e tomamos a decisão deliberada de aumentar nossa posição em relação ao produto porque achamos que os prospectos são muito positivos para o futuro. O minério de ferro é a commodity que estava faltando em nosso portfólio", afirmou Cynthia. A executiva considera razoável projeções de analistas da área de mineração que apontam alta de 6% a 10% no preço em 2010. Ela avalia que a perspectiva do mercado é positiva para o próximo ano e avalia que as condições, considerando-se a demanda da China, são ainda melhores no médio prazo. Até 2007, os negócios da Anglo estavam mais focados em cobre, ouro, diamantes, carvão e platina. O níquel não era uma atividade tão grande, mas começou a ganhar projeção quando a empresa decidiu investir no projeto Barro Alto.
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Em minério de ferro, a Anglo só tinha a mina de Kumba, na África do Sul, que produz atualmente 37 milhões de toneladas por ano e está sendo expandida. Essa mina devem contribuir para que a Anglo atinja a meta traçada de 150 milhões de toneladas em seis anos. Em 2007, a Anglo comprou do grupo EBX, de Eike Batista, os ativos da Minas-Rio por US$ 5,5 bilhões. "Penso que o prospecto para este projeto é grande e fantástico. Acho que temos um futuro muito bom e vamos ficar muito satisfeitos quando olharmos para trás e virmos uma demanda forte e um custo baixo em um projeto em que controlamos toda logística", aposta Cynthia. O grupo sul-africano iniciou uma diversificação de portfólio há cinco anos. Saiu de alguns negócios como ouro e diamantes e decidiu concentrar em outros como minério de ferro e metais não ferrosos, como cobre e níquel. Também manteve o interesse pelo carvão metalúrgico e térmico. Hoje a Anglo está estruturada em sete unidades de negócios. Três delas estão na África do Sul (carvão térmico, minério de ferro e platina), duas no Brasil (minério de ferro e níquel), uma no Chile (cobre) e uma na Austrália (carvão metalúrgico). Em outubro, anunciou uma reestruturação para cortar custos. Cynthia avaliou que a Anglo saiu mais forte da crise financeira que atingiu o mundo em 2008. "Tivemos uma performance excelente neste ano." O preço da ação da companhia, que caiu para 9,6 libras esterlinas, recuperou-se e há duas semanas atingiu a cotação de 27,12 libras. Mesmo assim, segundo analistas, o grupo enfrentou dificuldades financeiras. Segundo a executiva, a empresa vem buscando se superar.
"Temos trabalhado no desenvolvimento de uma estratégia muito clara, focada em commodities que achamos poder alavancar. Estamos vendendo alguns negócios que não têm o mesmo nível de atração, retorno e escala dada a nossa base de ativos", disse Cynthia. A Anglo vai sair da atividade de zinco e de alguns negócios no Brasil Já pôs à venda o de fosfato (Copebrás) e o de nióbio, em Catalão (GO). "A Copebrás não é muito grande, é o nosso único projeto de fosfato no mundo. Então seria melhor alguém que tivesse economia de escala em fosfato e o nióbio que é muito pequeno para nós". Nos dois grandes negócios no país, os projetos estão avançando, mesmo com algumas dificuldades, em especial o Minas-Rio. Foi definido um novo cronograma para a entrada em operação desse projeto, depois de atrasos causados por dificuldades na obtenção de licenças ambientais e na desapropriação das terras ao longo dos 525 km do mineroduto, que começa em Conceição de Mato Dentro (MG) e termina em São João da Barra (RJ), onde está o porto do Açu. "Com relação ao Minas-Rio, eu não descreveria nossa situação como problemática. Diria que temos desafios". Cynthia reconhece, porém, que o projeto é complexo pelo fato de envolver mina, transporte e terminal portuário. "Estamos lidando com muitas pessoas proprietárias de terra". São cerca de 1.200 donos de áreas onde passará o mineroduto. Desses, já houve acordo com 70%. Nos casos sem acordo, a desapropriação deve ocorrer por meio de decretos dos Estados que abrigam 32 municípios cortados pelo mineroduto. Segundo Stephan Weber, presidente da Anglo Ferrous Brazil, o braço de minério de ferro, o plano da empresa é conseguir ainda este mês as desapropriações que faltam no Estado do Rio. E para 2010, Weber espera obter as demais autorizações para passagem do mineroduto tanto em Minas, quanto no trecho que faz a divisa do Estado com os municípios fluminenses. Na parte ambiental, Weber adiantou que a empresa já obteve licenças de instalação para o mineroduto e para o porto. "Ainda falta conseguir as licenças de instalação da mina e da usina de beneficiamento, que esperamos ter em 2010", afirmou. Ele informou que os recursos identificados da mina somam hoje 4,6 bilhões de toneladas de minério de ferro. O produto, com 42%, após o beneficiamento, alcançará teor de ferro de 68%. A operação da mina vai requerer também grandes volumes de água, problema que Weber já garante ter equacionado por meio de captação de um rio próximo às minas da Serra do Sapo. "Temos já a outorga da água."(Fonte: Valor Econômico/ Vera Saavedra Durão e Francisco Góes, do Rio)