Depois de diversos anos difíceis, os investidores começam uma vez mais a pensar com carinho nas commodities. Essa é a opinião de um dos mais bem-sucedidos administradores de fundo de hedge.
De acordo com Pierre Andurand, os "investidores espertos" estão começando a se preocupar com sua exposição às ações, depois da disparada nos preços no ano passado, e desejam realizar apostas no sentido oposto em outras classes de ativos, como as commodities.
PUBLICIDADE
"Nossa impressão é a de que os sentimentos estão virando. Fundos de pensão nos procuram para dizer que desejam investir em commodities enquanto os outros estão olhando em outra direção", diz Andurand, cujo fundo de hedge, que leva seu nome, apresentou retorno de quase 25% no ano passado.
Os fundos de commodities vinham sendo rejeitados pelos investidores nos últimos anos, porque os analistas de Wall Street, os estrategistas que trabalham com quadros amplos e os poderosos consultores perderam o entusiasmo quanto ao petróleo, metais e grãos, devido à demanda morna por matérias primas.
Mas depois de um recorde de resgates líquidos de US$ 50 bilhões em 2013, os influxos totais para os fundos passivos de índices de commodities e para os fundos com cotas negociadas em bolsa de índices vinculados às commodities já chegam a quase US$ 6 bilhões até agora este ano, de acordo com pesquisas do Citigroup.
Isso se segue a um forte começo do ano nos mercados de commodities, que viu o índice de commodities UBS Dow Jones, por exemplo, subir em 9,4%, ante alta de apenas 1,8% no índice de ações S&P 500.
DIVERSIFICAR
Os analistas do Citi calculam que os investidores estão começando a levar as commodities a sério como instrumento de diversificação de portfólios, porque pela primeira vez em muitos anos as matérias primas não estão caminhando em sincronia com ou as ações ou o dólar dos Estados Unidos.
De fato, a correlação entre os retornos das commodities, ações e títulos, que vinha sendo incomumente forte nos anos posteriores à crise financeira mundial, em 2008, caiu fortemente no ano passado. Isso está ajudando os fundamentos a restabelecerem sua influência, com o equilíbrio entre oferta e procura determinando quem ganha e quem perde nas commodities.
Isso vem sendo mais evidente no desempenho do café arábica, que quase dobrou de cotação este ano devido aos danos causados por uma seca sem precedentes no Brasil, e também no níquel. O metal, usado na produção de aço inoxidável, subiu em quase 30% desde que a Indonésia, um fornecedor crucial, proibiu as exportações de minério de níquel, em janeiro.
Há outros observadores que também veem o mercado de forma mais positiva.
PERSPECTIVA
A administradora de fundos Hermes acredita que a perspectiva para quem investe em índices é a melhor em uma década, devido a um "amplo" descompasso nos preços, com as cotações no mercado spot superando os preços indicados pelos mercados futuros. Isso estimula os investidores de longo prazo quando eles precisam fazer a "rolagem" de contratos de commodities que estão por expirar.
"É incomum que essa tendência seja duradoura, e ela representa um sinal chave para os investidores em commodities", diz Jason Lejonvarn, estrategista da Hermes.
De acordo com a análise da Hermes, no período 1970-2013, o rendimento de rolagem - quando os investimentos em commodities são rolados - apresentou retorno negativo de 0,71% ao ano. Mas em 2013, o descompasso entre os preços spot e futuros resultou em retorno de 1,5% em 2013, enquanto a estrutura atual de preços do petróleo Brent indica um rendimento de rolagem de 5% no ano que vem, e o forte descompasso entre os preços spot e futuros na soja oferece retornos de 20%.
Mas embora o sentimento quanto às commodities esteja começando a mudar, existem ainda motivos de cautela, como a queda na demanda chinesa e de outros importadores de commodities importantes, que prejudicou o desempenho das commodities industriais.
Uma falta de tendências claras e a instabilidade significam que também é difícil para os fundos obter fortes retornos. Como resultado, os operadores buscam novas maneiras de ganhar dinheiro e têm de trabalhar muito mais para gerar retornos.
Em lugar de ter por foco os movimentos direcionais das commodities, por exemplo, alguns operadores apostam no spread entre os derivados de petróleo e o petróleo cru.
Será preciso mais análise e os investidores têm de ser mais criativos em suas operações do que nos momentos em que os preços só sobem.
Fonte:: Folha de São Paulo/NEIL HUME DO "FINANCIAL TIMES"Tradução de PAULO MIGLIACCI