A Arábia Saudita pretende abastecer o mercado de petróleo com 12,3 milhões de barris por dia em abril, o que marcaria uma escalada dramática em sua guerra de preços depois do desmoronamento do acordo de produção entre a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e a Rússia para estabilizar o mercado.
São mais de 2,5 milhões de barris diários acima do que os sauditas vinham produzindo e mais do que a capacidade máxima de produção sustentável país. Isso indica que a Arábia Saudita deve recorrer a barris em estoques, em seu plano de inundar os mercados rapidamente e enfrentar os rivais na disputa para ganhar participação de mercado.
Olivier Jakob, da Petromatrix, disse que a Arábia Saudita segue uma estratégia de “choque e pavor” para demonstrar que tem capacidade de elevar a oferta mais rapidamente do que qualquer outro produtor.
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“A Arábia Saudita apostou todas as fichas na tentativa de desestabilizar o mercado de petróleo”, disse Jakob.
“Ao longo do fim de semana, sinalizaram [que iniciariam] uma guerra de preços e, agora, isso passou diretamente a uma guerra de volumes. O mercado não precisa de todo esse petróleo. Eles estão despejando o petróleo dos estoques.”
O início de uma guerra de preços do petróleo em tempos de queda na demanda por causa do coronavírus sacudiu os mercados financeiros mundiais ao desencadear, na segunda-feira, uma das maiores desvalorizações diárias da commodity na história. Os preços chegaram a cair 30%, para cerca de US$ 30 por barril.
Embora os mercados tenham se estabilizado nesta terça-feira, comercializadores e produtores de petróleo se preparam para um período prolongado de baixas cotações, à medida que piorem as tensões entre Arábia Saudita e Rússia, os dois maiores produtores do mundo, sem contar os Estados Unidos.
A Rússia se opôs na semana passada à proposta liderada pela Arábia Saudita de estabilizar os preços do petróleo por meio de cortes na produção maiores e mais longos. A recusa, na prática, pôs fim ao acordo de três anos entre o país e a Opep para tentar dar sustentação ao mercado de petróleo.
Em reação, a Arábia Saudita cortou os preços de exportação de seu petróleo e anunciou que elevaria a produção. O aumento da oferta para 12,3 milhões de barris diários em abril, no entanto, é muito mais agressivo e rápido do que muitos comercializadores de petróleo imaginavam.
Capacidade máxima
A Saudi Aramco entrou em contato com clientes e acertou que vai abastecê-los com esses volumes a partir de abril, segundo uma fonte. O patamar é superior ao que a Saudi Aramco diz ser sua capacidade de produção máxima sustentável, de 12 milhões de barris diários, o volume que acredita ser capaz de produzir de forma confiável por longos períodos.
Logo quando a notícia de aumento na oferta saudita chegava aos participantes do mercado, o ministro da Energia da Rússia, Alexander Novak, respondeu dizendo que seu país também poderia elevar a produção em mais 500 mil barris por dia no “futuro próximo”.
A Rússia, contudo, não tem tanta capacidade produtiva ociosa quanto a Arábia Saudita. O país mantém há décadas campos petrolíferos de reserva, que pode usar para elevar a produção em questão de semanas ou meses.
Os russos não estavam dispostos a participar em novos cortes de produção conjuntos, por acreditar que apenas serviriam para subsidiar a indústria de petróleo de xisto dos EUA, que ganhou participação de mercado dos rivais nos últimos dez anos. Moscou, que mostra irritação com o governo Trump pelas sanções contra o setor de energia russo, havia encontrado uma oportunidade para atingir a economia dos EUA.
O Departamento de Energia dos EUA manifestou-se na segunda-feira à noite, destacando que a guerra de preços se tratava de “tentativas de agentes estatais de manipular e impactar os mercados de petróleo”. Acrescentou, também, que o país, “[enquanto] maior produtor mundial de petróleo e gás, pode e vai resistir a essa volatilidade”.
Na semana passada, o príncipe Abdulaziz bin Salman, ministro do Petróleo da Arábia Saudita, disse que qualquer corte na produção dependeria da participação de grandes produtores, incluindo a Rússia, que os sauditas acreditam estar driblando as atuais restrições à produção que deveria estar promovendo.
Alguns analistas do setor de energia pensam que esse jogo de atitudes temerárias tem por objetivo atrair os produtores de volta à mesa de negociação. A chamada aliança Opep+ ajudou a estabilizar os preços, ainda que possibilitando o progresso da indústria de petróleo e gás de xisto americano.
Novak disse nesta terça-feira na TV russa que as “portas não estão fechadas” para mais cooperações futuras de política petrolífera com os países da Opep.
Outros, porém, não acreditam em uma reaproximação tão breve, de forma que os países da Opep mais vulneráveis economicamente seriam atingidos mais duramente, assim como o orçamento de suas empresas petrolíferas.
Fonte: Valor